quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Do lado de lá

E então tudo o que eu queria parece ser uma imensidão cinza chumbo, pesando sobre as minhas costas. A alegria de fazer o que se quer se transforma no peso de ter seu futuro nas mãos. Os problemas foram amenizados e parecem ter tirado férias de fim de ano. Só mais algumas horas e esses malditos 208km serão deixados para trás. O sol nascerá diferente, com mais aroma de terra molhada do que de asfalto. Sabe, acordar com pãezinhos caseiros e café quente talvez valha mais a pena do que aparenta. E quando eu atravessar aquela ponte e ver de longe a Usina Água Vermelha toda iluminada, tudo valerá a pena. Na bagagem não levarei quase nada, apenas sementes de sonhos. Não quero os antidepressivos e todos os lenços usados de dias que não saíram como o planejado. Chega. Mudamos e percebemos que acumulamos coisas demais, desnecessárias. Quero jogar tudo fora, me jogar fora. Descartar e caminhar mais leve, em direção ao porto seguro. Embaixo das asas da mamãe nada é necessário. Tudo que me importa é estar lá. E quando atravessar a ponte, tudo terá ficado para trás, até mesmo quem eu era e tudo que fiz. A mala está pronta, quero o cheiro de terra molhada, o tédio de não ter nada pra fazer. Quero todo mundo no sítio, bebendo até vomitar, e rindo das histórias que os outros trouxeram pra contar. A arte de dormir uns nas casas dos outros só porque estava bêbado demais para ver os pais. A graça de não se preocupar com nada além de sentar na calçada, com o tereré gelado e só ver o tempo passando. De poder cumprimentar todos porque você realmente conhece todos. Acordar com os latidos que chegam a doer os ouvidos seguido dos gritos das coisas que eu não fiz. Quero vovó me mimando, papai orgulhoso, colo da mamãe. Parece idiotice mas só eu sei o quanto precisava disso. 


sábado, 24 de dezembro de 2011

Merry Coke's

Então mais uma vez a data das luzes chega cantarolando musiquinhas que sempre tiveram o mesmo ritmo. Nenhum bom velhinho a vista, muito menos descendo pela chaminé inexistente. No máximo dos máximos você tem a sorte de dar de cara com um cosplay mal feito, jogando balas baratas pelos ares. E nem adianta vir com essa de época de amor, e de nascimento de cristo porque a muitos e muitos anos que o natal não é apenas a festa cristã. Praticamente todos os países do mundo comemoram, da mesma maneira, esse dia cheio de parentes e comidas com altíssimo teor calórico. Até as lojas estão decoradas e as faixadas chegam a sorrir com todas aquelas decorações e luzes piscantes. Os vendedores mal reclamam, afinal, eles até podem trabalhar até mais tarde, mas é necessário fazer jus ao feriado. O feriado mais capitalista de todos. Sim, sou ateia e comemoro o natal como qualquer um de vocês. Não está escrito em lugar nenhum algo que me proíba de fazê-lo. E mais, quem seria capaz de deixar passar em branco a época dos chocottones? Já adicionaram o papai noel ao aniversário de Jesus, e ao invés de celeiro cheio de animais e palha a decoração sempre traz um lindo pinheiro decorado. Os presentes não tem o significado e não são trazidos por Belchior mas quando mais tiver melhor. Maria e José podem até ter passado por dificuldades antes e durante o nascimento de Jesus mas a mesa da ceia vai estar sempre linda, com aquele peru que você ficou disputando com a vizinha pra ver quem ia comprar o maior. Parcelou em 10x mas comprou presentes para todos os sobrinhos e afilhados, afinal a reunião com família não é momento para confraternizar e sim para jogar na cara um do outro que se saiu melhor no ano que está terminando. Um punhado de lendas e tradições, implantadas apenas para girar o comércio e encher a casa de tios e primos desconhecidos. É completamente nítido. A beleza do natal ficou a quatro quarteirões da minha casa, de onde começa o centro da cidade. E é lá que elas devem estar. A primeira vez que passo sozinha e sabe, pensando bem nenhum dos meus dedos vão cair. Só espero que o vinho dos vizinhos acabe antes que meu sono chegue e que, de presente, eu tenha no mínimo uma noite de tranquilidade e descanso.

Feliz Dia Internacional da Coca Cola 


Nada respeitável porém publico

Mas então o que era palhaço se torna malabarista e sua platéia interior nunca esteve tão presente. As gargalhadas são muito mais verdadeiras do que as piadas inventadas que na verdade não passam de mentiras. Mentiras que devem ter no mínimo o dobro do tamanho do motivo que as gerarão. Mentiras tão lindas quanto a contorcionista. Lindas e tão bem treinadas, tão treinadas. Porém só se é perfeito, uma vez. E tudo que foi inventado ou adicionado se torna torto, desarmoniza. E ele se quer sonharia que a surpresa do mágico seria da origem. O responsável por domar e controlar o leão não era ele, e sim o pobre pipoqueiro. Pipoqueiro que tinha no mínimo quatro anos a mais do que dissera ter. Quatro são apenas quatro, essa gigantesca quantidade, que tem o tamanho da lona, que cobre o picadeiro. Foi o pipoqueiro que ficou horas observando a tenda ser montada, mesmo que de longe, quietinho, como se realmente fizesse apenas o trabalho. Por mais que pareça concreto nada nasceu assim. Tudo foi pensado, pintado, maquiado. Os figurinos são feitos especialmente para aquele número em questão. Todos sabemos que o táxi maluco vai causar uma explosão de grande barulho a qualquer momento, porém ainda nos assustamos. Susto esse que não vai muito além da corda bamba. Equilibre-se e respire muito fundo, todos estão esperando pelo seu tombo mesmo que exista uma rede de proteção poucos metros abaixo. O malabarista entra em cena, e sem que muitos percebam ele já está no controle. Aguardando friamente o rugido do leão. Como o pipoqueiro que viu tudo criar forma, o malabarista sabe muito bem aonde o elefante irá pisar. 


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Despedida

Não é nada confortável nenhum tipo de mudança, mas há momentos em que elas se tornam extremamente necessárias. E por mais que a gente tente, patinamos como quem tem seus pés presos a uma cotidiano que já não é o suficiente. Hora de trocar as roupas, tirar a grossa casca de costume que cobriu seu corpo por inteiro. Não é fácil, mas o medo é necessário. Dói, incomoda, sai do eixo mas, existem momentos em que a sacudida da poeira é essencial. Por mais ruim que algo seja você sempre terá pelo menos um mísero detalhe bom que o faça lembrar, seja o ambiente da antiga cidade ou os colegas no antigo trabalho. Talvez sinta falta até das cotas absurdas, e dos insuportáveis tititis surgidos aleatoriamente. Dos concelhos que sempre tive que dar, e estive lá pra receber. Mas sufoca. Acumula-se tantos descontentamentos e desconfortos que eles fazem um nó, e prendem sua garganta. Então o passo a frente acaba se construindo sozinho, sem que ao menos você pense. Oito meses foram quase uma vida. Quase uma vida de muita raiva, temperada com boas risadas. Broncas por deixar clientes esperando enquanto via Kobalsky bolar mais um plano, ou Patrick ajudando Bob Esponja em outra idiotice. Os brigadeiros e pizzas que sempre incomodavam tanto, vão ser motivos de saudade. É preciso coragem pra sobreviver, seguir em frente pisando firme para que nada possa te abalar. E muito mais coragem pra assumir isso, erguer a cabeça e se permitir ser feliz, procurar um novo caminho, um novo lugar, algo que te faça bem, sem lhe sufocar. A vida é feita de mudanças e elas sempre acontecem, querendo ou não.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Procura

E mais um dia chega, da mesma maneira acolhedoramente silenciosa. A mesma brisa de todos os dias sopra-me aos ouvidos dizendo sempre a mesma palavra: hoje. Os mesmo lugares da mesma monótona maneira aspiram um ar de mudança, uma mudança que nunca chega. Cores anunciadas a cada olhar diferente, a cada sorriso largo vindo em minha direção. Esta temporada de caça a borboletas estomacais está a cada dia mais cansativa. Com tanta tecnologia e comodismo e ainda não somos capazes de localizar o que é realmente importante. Planos e rascunhos do que ainda não chegou, agendando um futuro tão oco quanto incerto. Está por toda parte e vagamente sinto-o perto de mim. A esperança por mais clichê que seja ainda está aqui, acesa, esperando que em meio a multidão, ou na fila do pão, em qualquer lugar, esteja. Aquele que vai me fazer sorrir mais do que precise, até quando a barriga doer. Só pra poder olhar nos olhos e sentir-me segura. Ter abraços sempre que precisar sem ser acorrentada a nada. Não pareço procurar, mas estou sempre atenta, nenhuma certeza é absoluta. Não faço ideia de onde esteja, ou como é mas eu preciso encontrar. Me encontra, ou deixa eu te encontrar.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Faltou o sentido

Eu admirava os vloggers desde antes de serem febres. Vi PC Siqueira se lamentando de não poder assistir filmes em 3D por ser estrábico e também vi ele entrar no palco do VMB para participar de uma das maiores premiações da música teen. Assisti o primeiro vídeo do Felipe Neto, com sua câmera de mão, de poucos adereços, vi ele mudar seu cenário e ir parar num debate com o Lobão. Claro que me distanciei no auge da febre, quando percebi que PC Siqueira agora não vendia apenas as camisetas com suas frases e seus desenhos mas sim toda a sua imagem. Também o vi suplicar para que algum pet shop ou canil lhe doasse uma bulldog francesa para suprir sua carência, e daí nasceu a Lola. Presenciei Felipe Neto decretar o quão fracassado era, por ser ator e nunca ter conseguido alavancar a carreira, e que ainda mora com a avó. Mas, infelizmente também tive a infelicidade de assistir ao seu último vídeo do canal Não Faz Sentido. Felipe Neto com todo o charme de seu personagem que destila veneno sobre um tema específico por vez, resolveu, não se sabe por qual motivo, falar das propagandas. Logo no começo do vídeo, eis que surge uma súplica para que os publicitários que assistirem não se revoltem, com base na seguinte frase: "Lembrem-se mais vale um pássaro na mão, que tanto bate até que fura" (?) eu acho melhor pular esta introdução porque prefiro acreditar que trocaram o roteiro por algum daqueles quadros de comédia da mtv. Confesso que já admirei os trabalhos destes dois jovens, que, com toda a cara e coragem do mundo, filmaram uma reclamação pessoal e soltaram-a na internet, sem medir as consequências de nada disso. Admirava também, e principalmente pela argumentação. Felipe Neto sempre usou de metáforas, ironia e muito desprezo ao falar sobre determinado assunto. Sempre com argumentos cabíveis, explicáveis e racionais. E então, como se é de esperar, que nada na vida é perfeito, não por muito tempo, eis que em 18/11/2011, nosso queridinho astro que nunca conseguiu vaga na malhação resolve inflar seus pulmões para gritar a inutilidade da propaganda. Inutilidade esta, que ele vive por fazer, até mesmo quando posta em seu bem seguido twitter que está indo a um certo bar, ou cafeteria. Como o próprio nome do canal diz, não faz sentido algum falar aos quatro ventos sobre o que te sustenta. Os vloggers lucram de acordo com os acessos em seus vídeos, e não só os acessos mas sim a quantidade de cliques que as pessoas que assistiram o vídeo clicam nos pop-up que pulam e piscam nos cantos do monitor. Quanto mais acessos o vídeo tiver, mais anunciantes vão querer seus rostinhos bem ao lado. O que não deixa de ser propaganda é o suplício do mesmo, ao fim de cada vídeo, desde o primeiro. Quem nunca viu Felipe implorando para os telespectadores favoritarem e se inscreverem no canal, sinceramente nunca assistiram um vídeo por completo. Argumenta sobre os comerciais de cerveja, deixando claro que não está falando de cerveja e sim de Skol. "Porque os publicitários acham que quem toma cerveja tem idade mental de cinco anos? Ninguém quer MORRER por beber cerveja". E não há de ver que justamente o príncepesinho que tanto falava da ignorância alheia, escreveu em sua testa o quão ignorante é. Mal pesquisou ele sobre os conceitos e teorias publicitárias. Mal percebeu a alegoria dos três mosqueteiros tentando salvar o cooler de cerveja que não é nada mais que a donzela indefesa que só se mete em encrenca. Se quer pensou que a musiquinha dos pôneis malditos por mais infernais e empregnantes que fossem aumentaram em 85% as vendas da Nissan. E apesar de citar durante o vídeo, duvido que ele tenha raciocinado sobre o nome que o Brasil carrega na publicidade e marketing. Temos Washington Olivetto! Somos o país com mais premiações internacionais no mundo. O cooler não foi pro mar apenas para que os amigos entrassem e fosse parcialmente comidos por tubarões correndo o risco (enquanto realidade) de serem mortos em segundos mas, sim porque a cerveja é algo importante, e os tubarões não estão arrancando sangue de ninguém, estão apenas preenchendo o espaço cômico da história. Pôneis malditos não foram feitos exclusivamente e apenas para grudar na cabeça de todos e encher nossa paciência mas, sim, para comparar o termo de potência cavalos, enquanto melhor com os pôneis, que são inferiores, dos concorrentes. 

Faz sentido agora?



O coração de um humano bate 37 milhões de vezes ao ano. Em nenhuma delas você se lembrou.