sábado, 30 de junho de 2012

Passagem

Parecia que não teria fim, mas teve. Veio lento, meio secreto, como algo que acontece sem que ninguém perceba. Talvez seja porque ela se quer havia dormido. Há dias que não dormia bem. E não era por nada demais, apenas aquele lugar. A cama de solteiro mal posicionada no canto mais frio do quarto. Ela queria mais. Na verdade ela só queria uma cama de casal. Não qualquer uma e não pelo espaço, apenas aquela, centralizada no meio do quarto, onde apenas a cabeceira se apoia na parede. As roupas. Quantas roupas! Queria ela saber fazer mágica, ou ter uma caminhonete ou algo assim para apenas jogá-las e sair. Mas não, tudo deveria ser feito como mandam as regras, passo a passo. Dobrando uma por uma e analisando suas histórias. Um mês. É pouco tempo mas ela sempre sabe que vai precisar de algo que não estará ao seu alcance. Levou a maior parte de suas blusas. Não que fosse algo relevante mas ela tem uma relação muito melhor com as blusas. Os shorts e bermudas não receberam nem a metade da atenção. "Ah vou levar três. Esse, esse e esse, pronto. Assim tá ótimo!" Sapatos são os mais dolorosos. Sempre quer levar todos e precisa se regrar, coisa que ela detesta fazer. Um para sair, um básico, um tênis e pronto. Não se pode demorar muito se não a dúvida estaciona e a deixa louca. Metade da mala já estava cheia com as coisas que ela queria. A outra metade estava reservada para as que ela precisava. Os cobertores. Ela sabe que soa como abuso mas, nunca conseguirá fazer melhor que a sua mãe. Pronto. Tudo estava certo, agora só fechar dois zíperes e pronto. Os planos não saíram tão bem quanto se esperava. Os sapatos pediram por uma segunda bolsa. Mas esta era autorizada, pequena, dobrável. Levaria nos pés e ninguém a notaria. Tudo pronto. Os primeiros 150kms foram friamente silenciosos. Não sabemos ao certo se era por ela estar tão cansada e tão feliz que dificilmente saberia dizer. Cochilou todo o percurso. Até que seu celular a acordasse, no primeiro destino. Acho que pararam pra pegar animação, ou afins. Dali para a frente risos, conversas, fofocas e mais risos. Aquilo clamava por uma festa. Fizeram como podiam. Até o som que permanecera incrivelmente baixo, mudou. Os  próximos 40km voaram. Só a placa que anunciava a divisa de estados foi notada. E muito comemorada por sinal. Enfim São Paulo! Não que Minas seja ruim, mas fazer o quê? Não se pode negar amor a sua terra natal. Segunda parada, hora de trocar de trem. A despedida foi rápida, ela se quer reparou. Mais 20km. Vinte quilômetros de conversa boa, acolhedora, parece que finalmente estava em casa. E estava. Os latidos das três mascotes da família quando olharam por debaixo do portão e viram aquela mala vermelha de couro confirmava. O almoço estava divino, mesmo com a afirmação horas antes de que ele não existiria. Não seria mãe se não fizesse tudo como gostamos só para nos agradar. E enfim, sentada na mesa da cozinha. Olhando a volta, respirou em paz. Finalmente se sentia segura. Nada de mal poderia acontecer-lhe agora. 


quarta-feira, 20 de junho de 2012

8 dias

Cansei desses trabalhos sem fim e do fim de coisas que não mereciam acabar. Cansei de estar cansada, tão cheia de tudo. Quero paz, tempo, quero eu de volta como era antes. A cota de tristezas e carências já deu e eu não quero que ela passe do limite. Quero que as coisas parem de virar fumaça e que elas sejam um pouco mais concretas do que antes. Que sejam presentes, sem mais nem porque, só aqui do meu lado, do jeito que eu preciso. Quero os abraços verdadeiros de volta, as pessoas que eu posso confiar e principalmente as que confiam em mim. Quero poder dormir sem ter medo de ter que acordar no outro dia. Quero poder sorrir sem ficar pensando porque aquela certa pessoa x me odeia. Preciso depender menos de pessoas que não significam nada e me aproximar mais de algumas essenciais. Quero distância das coisas que me fazem mal e poder pegar com a mão tudo que me faz bem e trazer pra bem perto do meu peito. Abraçar e dormir macio, sem pressa ou desordem. Quero as coisas no eixo, do jeito simples, sem complicações e sem rixas. Quero minhas verdades amargas jogadas na cara que sempre me permitiram ter as melhores e mais fortes amizades de todo o mundo. Chega dessas mentiras doces. Doce não faz muito bem a saúde. Basta de coisas para reclamar que não deram certo. Quero apenas o que tiver que acontecer acontecendo leve sem manha. Sem precisar de um motivo ou de duas horas de discussão. Quero que esses últimos dias passem voando. Para que a dor mesmo que intensa, passe o mais rápido possível. 


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Companhia

Doce libertação de desenhar. Dar a livres traços posicionados a felicidade de representar. Leve e delicado, descontando a raiva, rabiscando. Cheios de cor ou de cinza, escapam pelos dedos como doce terapia. Trazem forma, sentido, dão sentido ao que não tinha forma. É presente, visível. Interpretação do imaginário. Desespero de gritos silenciosos que a alma moldou perfeitamente. Não é dominável, é dominante. Impulso que chega no inesperado, acontece sem ter que acontecer. É limpo, leve, sem maldade alguma. Carrega personalidade basicamente como deve ser. Todos têm seu estilo, sua vocação. Dar cores de vida a coisas da imaginação. São riscos verdes, quadrados amarelos. Sorrisos, flores, doces e pesadelos. Pessoas marcantes ou ilustrações flutuantes. Fazendo pose, marcando a história. Registra a vida em todas as suas evoluções e simplificações. É prazer pessoal, alegria do ser, é exemplificação de você tomando conta de si mesmo. Como a alma purifica o cérebro, e o coração purifica o corpo. Doce aventura que não se necessita de quase nada. É só papel e lápis, grafite ou tinta e pronto, livre estaremos. Como quem carimba um passaporte para ir a outro país, em outro mundo. Outra realidade onde os traços são mais precisos, e a vida mais colorida. É mais fácil ser feliz ou acreditar em algum sonho. Utopia constante, expressa nos cotovelos marcados de quem passou toda a sua infância criando histórias onde tudo era branco. Libertar a alma, trazer a liberdade por entre linhas, riscos e pontos. Símbolos e retas. Solitários preenchendo o nosso próprio vazio. Não é saber, é gostar. Traz da alma em cores, alívio e companhia. E assim sucessivelmente até que as folhas terminem ou que a imaginação se apague.




sexta-feira, 8 de junho de 2012

Passar a vida a esperar coisas e pessoas que não virão. Nem se quer existem ou estiveram.
Sem cigarros, sem bebida. Nada para me alterar e me livrar da podridão que sou e sinto.

sábado, 2 de junho de 2012

Sim. Ando extremamente sensível, melancólica e carente. Meio dopada de antidepressivos e chorona todo o tempo. Mas, como ninguém quer ou precisa saber disso entendam minha ausência de mim mesma e peço desculpas antecipadas por não conseguir lidar.