terça-feira, 31 de dezembro de 2013

É que eu ando com saudades da vida que eu não vivi.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Dois mil e treze.

Além de toda e qualquer numerologia que possa trazer, esse ano, foi o ano mais singular que eu já vivi. Em todo e qualquer aspecto, longe de azar, ano do dragão e retrospectivas de todos os tipos. Eu entrei em 2013 de dourado e nunca imaginei ou acreditei a quantidade de luz que isso poderia me trazer. Ano do tudo ou nada. Período em que eu finalmente me senti no controle da minha vida e consegui olhar pra frente vendo apenas as coisas que me interessavam. Aprendi tanta coisa, mas tanta coisa mesmo que nem se eu tivesse tempo e paciência pra isso não seria capaz de enumerá-las aqui. Me dei conta que minha solidão é algo meu e não existe nada que eu possa fazer pra tirá-la daqui, por mais que eu já tenha tentado. Percebi que não posso ter todos os amigos do mundo mas que eu tenho os melhores possíveis e finalmente aprendi que a vida é curta mas também é simples e totalmente maleável, só levamos conosco o que realmente queremos. Não, eu não vou me estressar, prometi isso a mim mesma. 2013 foi um ano de zero a cem em doze segundos, ou melhor, meses. Tanta tristeza e tantas realizações em um único período de 365 dias. Ano no qual eu fui obrigada a sentir as despedidas se aproximando, sentir toda a frieza delas apertando o meu coração e mesmo assim segurei todas as lágrimas. Ano em que eu percebi que estava feliz e acima de qualquer coisa, que eu sou feliz independente de todas as outras. Eu cresci tanto, aprendi tanta coisa. Finalmente fiz minha primeira tatuagem. Conheci gente e lugares que eu nunca imaginei. Deixei me permitir, é clichê mas foi exatamente o que aconteceu. Foi nesse ano que realmente aconteceu, eu olhei para os lados e tinha a certeza de que é isso que eu quero, essa é a minha vida, e o quão maravilhosa que ela foi, é e sempre será. Tive que me despedir de tantas outras coisas. Mas também encontrei e conheci todas as outras. E tudo que posso concluir é o quanto quero que esse ano se repita todas as vezes que forem possíveis. Foi difícil mas também foi o mais bonito que poderia ser e que tipo de tola eu seria se não quisesse tudo de volta? 
Não sei falar do catorze. O pouco que sei é que já briguei feio com uma babá que insistia para que eu completasse o meu dever de casa com quatroze e não catorze mas, tudo que eu quero é que as coisas continuem caminhando assim, nesse compasso, lento e ritmado, deixando que a vida me leve da maneira mais proveitosa que poderia ser. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Sobre excessos

Eu e esse meu incrível dom de exagerar. De ir sempre ao extremo, fazer tudo demasiadamente exagerado. Me preocupar demais com as pessoas, com as coisas, com tudo. Eu e meu dom de quebrar minhas próprias promessas. Eu prometi que não perderia o controle. Prometi me controlar, parar com essa de mais e mais. Percebi que tudo que era de mais fazia mal, e consequentemente mais mal do que deveria. Deve ser um dom mesmo. Loucura minha, quem sabe. Talvez seja isso mesmo que nasci pra fazer: me perder no meio do muito. Quem sabe seja isso a perfeição do excesso. Ele esgota, vive todas as possibilidades. Não é o fato de gostar de excessos que me chateia, é justamente quando percebo que isso é um dom meu. Sei que muito provavelmente existirão várias outras pessoas que sofram desse mal mas elas devem estar longe. Tentando e provavelmente conseguindo lidar com isso muito melhor do que eu. As pessoas que estão ao meu redor não têm esse problema e eu acabo de conseguir nomear isso como deveria ser: um problema. Chega de passar raiva com coisas desnecessárias. Se as pessoas não se preocupam porque eu vou me gastar? Eu sei que é mania, e que é totalmente destrutiva mas estou me prometendo, mesmo que pela segunda vez, parar com isso. Chega das coisas. Chega de pessoas. Chega de tudo. A única coisa que preciso me preocupar é comigo mesma e com a minha torta vida. Vou tentar ser normal pelo menos uma vez, quem sabe assim dê certo. 


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Diagnóstico

Algumas coisa que das quais pessoas não sabem: as pessoas não são como parecem ser. Eu já fui fútil o suficiente com mais caras do que eu possa lembrar o nome, mas eu sei quando as coisas não seguem esse caminho. Eu nunca andei por aqui, o mais perto que eu cheguei dessa felicidade doce hoje, pra mim, nunca passou de uma grande mentira. Se for pra acontecer, que seja perfeito, assim como eu planejei desde o começo. Me conquiste. Faça-me acreditar que todo esse sofrimento vai valer a pena. Eu não conseguiria dizer outra coisa a não ser sofrimento, me perdoe. Eu sei que não tenho colaborado, e assim continuarei  por muito tempo. Se fosse passível de explicação eu explicaria, mas não faz sentido, nem pra mim. Eu já passei por muita coisa errada na vida e poucas pessoas sabem disso. E o caminho o qual você me sugere foi o mesmo que me levou pra lá. Não queria me tornar só mais uma pessoa frígida no mundo, que morre de medo do amor mas, infelizmente eu sou assim e simplesmente não consigo me deixar cair na dança novamente, não assim, do nada, roubando a cena. Eu já tinha me decidido da minha vida em geral: Eu terminaria a faculdade e em pouco mais de um ano e eu estaria em qualquer capital, correndo atrás de tudo que eu sempre planejei. Não me sinto confortável para abandonar isso. Não quero me dar ao luxo de correr o risco de ter que mudar qualquer coisa nesse meio tempo e simplesmente me sinto incapaz de te pedir, em qualquer hipótese que isso aconteça. Na verdade é isso mesmo. Eu penso tanto em tudo que pode vir a acontecer que eu simplesmente não consigo vivenciar essas possibilidades. São muitas, caminhos e mais caminhos diferentes. Eu já perdi o controle da minha vida uma vez e deu tão errado que eu não posso me dar nem a possibilidade que isso aconteça em algum momento. Sim, eu tenho medo de tudo e qualquer coisa que possa dar errado mas, esse medo é tão grande que eu não posso correr o risco de que ele exista. .Sim, eu prego e pratico o desapego mas, também acredito no amor e torço do fundo da minha alma para que em algum momento ele aconteça. Mas, por favor, não agora. Não assim, não em uma roda de amigos. Que não aconteça fora do que eu tenho planejado. Que não tome o controle da minha vida. Sinto como se pela primeira vez eu tivesse entendido tudo e tivesse controle dela então por favor não me tire essa estabilidade. Eu gosto de saber o que vai acontecer amanhã só que só pra mim, na minha vida. Simplesmente não poderia ver alguém sofrer por minha culpa, e eu também não quero ter essa chance em mim. Não agora, não assim. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O nascer do sol

Ah amor, quem diria que aqui estivéssemos cara a cara novamente. Eu supliquei para que esse dia não voltasse. E eu nem quero te assustar mas, é que já passei por esse caminho uma vez e sei que uma curva errada e me perco numa imensidão cinza chumbo que pesa no peito e sufoca a alma. Não é preciso ir longe, basta estar sozinho. Eu sei que sou pessimista e assim tenho agido mas tente me entender, as coisas não costumam dar certo, pelo menos não comigo. Eu já achei um milhão de defeitos em algo que nem existe ainda e quem sabe que realmente seja verdade que eu só achei porque os procurava. Qualquer falsete que me tirasse dessa ideia. Qualquer loucura que me trouxesse de volta a realidade. Eu não quero voltar pra lá. Paraíso encantado dos que amam. Acho que gostei mais daqui. As coisas aqui acontecem mais, de forma mais concreta. A perfeição aqui é a lenda, historinha contata para os humanos afim de fazê-los trabalhar por toda a vida atrás de algo praticamente impossível. Perfeição é ser feliz e estar feliz e concluí que dificilmente conseguirei chegar à ela sozinha. Por favor, não se assuste com os meus sustos. Infelizmente minhas lágrimas me fizeram demasiadamente astuta. Não, eu não quero flores, cartões, e outras coisas melódicas que possam vir. Quero apenas que as coisas aconteçam. Não é questão de sorte, é só deixar ser. A maioria das coisas bonitas do mundo acontecem constantemente sem que nós olhemos para elas. São independentes e nos fazem ser. Eu não quero alguém que me leve para os lugares e me apresente como um troféu. Quero apenas você, me olhando tímido. Quero nosso sorriso sincronizado, aquele que parecia que nasceu para estar ali. Quero o frio na barriga de volta e as pernas bambas como se não aguentasse o peso em mim. Quero que o dia amanheça lento, silencioso, da mesma forma que você entrou na minha vida.


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Das tristezas eu me encarrego

E tudo que você pediu e esperou a vida inteira bate a sua porta. Eu ainda não abri. Exitei e ainda exito. Sou insegura desde sempre, não saberia agir de outra maneira. Fiz e refiz mais de um milhão de vezes as somatórias, e tudo encaixa perfeitamente. Eu ainda acho não querer, e opto por esperar. Quem sabe dessa vez eu escolha abrir a porta no momento certo. Deixar a felicidade inundar a minha vida, suprir minhas ausências e saciar minha saudade. Eu só peço que as coisas continuem assim. Eu sei que não faz sentido mas, em sentimentos as coisas não costumam fazer isso. Eu só peço que você não se apaixone. Deixe isso comigo. Essa parte de se embebedar com qualquer encanto, e quebrar a cara desde sempre. Essa de chorar pelos cantos e sofrer como se nunca mais algo fosse capaz de sanar suas lágrimas. Isso é coisa minha. Uma de minhas manias, a de sofrer. E por mais estranho que pareça talvez seja minha mania preferida. É assim que vivo, é por esse caminho que sigo e nele é onde cresço. Foi  nele que construí boa parte da pessoa na qual me tornei e não há nada que eu mudaria. Foi depois de todos os tropeços que eu aprendi olhar pro chão e saber exatamente onde piso. Eu só peço isso e nada mais. Por mim eu deixarei as coisas brilharem por um tempo. Acontecerem na dança eterna da felicidade mas por favor, deixe as partes que dão errado por minha conta. 


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Erro perfeito

E se as estradas não fossem tão longas e os caminhos tão estreitos talvez eu nunca tivesse me cansado. Quem sabe eu continuaria caminhando, nunca olharia para o lado. Eu não teria te visto, nem aprendido de que cor era o seu sorriso. Talvez eu ainda vivesse em paz, fingindo ser feliz pelos cantos da vida, sem intenção alguma de mudar alguma coisa. Se não fosse terça feira, e o sol não tivesse sido tão quente. Quem sabe se a vida tivesse sido um pouco mais generosa comigo, ou quem sabe se eu soubesse ser um pouco mais grata do que sou. Se nada disso tivesse acontecido, talvez eu nunca me desse conta. Eu poderia morrer daqui a algum tempo ou viver a vida toda sozinha. Talvez, se eu tivesse tomado outro rumo, ido em qualquer outra direção, eu estaria a milhas de distância de tudo isso. Eu nunca teria visto seus olhos olhando em direção dos meus e continuaria na minha silenciosa e falsa paz. Eu ainda moraria no mesmo prédio cinza no fim da rua e fingiria uma vida perfeita a todos naquele meu emprego medíocre. Se nada disso tivesse acontecido eu ainda estaria submersa na imensa massa cinza do não existir. Se você não entrasse em minha vida de maneira tão repentina e quebrasse toda a bagunça que sempre fui, se você não aparecesse talvez a luz nunca tivesse acendido. Eu ainda estaria no escuro. Se você não tivesse chegado e destruído toda aquela tristeza ao meu redor, minha vida estaria em paz mas jamais seria feliz. O erro que me concertou todos os meus acertos e fez de mim uma pessoa completa. E sem você, as coisas estariam nos eixos mas nada teria vida. Meu constante desiquilíbrio, repostas tortas, erro constante e irrecusável. Tudo deu errado com você, depois de você... Na verdade acho que tudo deu errado para que você chegasse. E eu erraria outras milhares de vezes, em quantas vidas fosse preciso, só pra tentar ver de novo de que cor é o seu sorriso.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Melodia incerta de um amor sozinho

E não fosse tão errado talvez não teria dado tão certo. De longe ele ainda vigia enquanto ela sorri. Sutileza doce de se encontrar conforto em outra pessoa. Era tão inconstante e improvável que deu certo. Ela não vai negar que o lençol agora cheira a saudade mas, até parece que é a primeira vez que ela passa por isso. Vive por se apaixonar. Provavelmente se apaixonou enquanto me contava essa história. Mania de necessitar de outra pessoa pra completar o sorriso. Mania incerta e provavelmente muito duvidosa. Mas fazer o quê? Ela se acha feliz. Agora caminha cantando algumas melodias que aprendeu aí na parte onde as pessoas normais como você, vivem. É, ela esteve por aí. Nem faz muito tempo, e nem durou tanto assim mas pra ela sempre vale a pena. Talvez seja isso que a faça tão especial, sua inocência de ser feliz todo o tempo. Conclusões só a deixavam mais próxima de errar. Sempre preferiu o meio fio, corda bamba. Esperta ela que procura tirar um sorriso em cada acontecimento da vida. Ela fez tudo errado, como sempre fez. Seu jeito torto de alinhar as proezas e deixar que as certezas cheguem desacompanhadas. Ela sempre pega pelo avesso, faz tudo ao contrário, esquece de qualquer regra, burla todas as leis, corre até a ponta do penhasco só pra sentir o frio na barriga de segurar sua vida com as pontas dos dedos. Tinha que ser ele, assim como teve que ser todos os outros. Cansei de procurar respostas nessas pequenas fendas que a vida vem mostrando. Ela não se cansa de sua vida mediocremente alegre porque eu deveria me incomodar? Ela que desconfia de tudo e todos o tempo inteiro ainda consegue então não existe motivo para que eu não consiga. Ela bem que queria ver ele de novo, mas sempre foi assim: melodia incerta de um amor sozinho.




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Wishlist 2013

Falta mais de um mês pros meus 21 anos e mesmo assim já fui questionada por pelo menos cinco pessoas o que eu queria de aniversário. Eu sinceramente adoro ganhar presente, mas odeio, muito mesmo, pedir. Claro que ganhar algo que você realmente queira é muito mais legal mas pedir por algo já me soa como um requisito de algo que eu não mereço. Tem muitas coisas que eu quero. Muitas mesmo. Inclusive vou aproveitar esse espaço pra contar pra vocês que eu tenho uma pasta de favoritos sobre compras, com o nome de sonhos que eu sempre tento comprar, umas vezes dá outras não. O que eu mais quero é amor. Estar entre amigos e saber que eu não preciso de mais nada. Se sentir querida é sem dúvidas a melhor sensação do universo. Eu não preciso de nada além de uma boa bebida e alguém por perto que me faça rir. Quem me conhece de verdade sabe o quanto isso seria importante. Coisas materiais são ótimas porque elas, na maioria das vezes são eternas e eu sempre poderei olhar pra elas e lembrar de quem me deu. Eu gosto de porta retratos, objetos de decoração, livros, seriados, gosto de tanta coisa que acho melhor não escrever. Mas nada disso tudo seria tão especial se não viesse com abraços e muitos sorrisos, porque pra mim, é tudo que realmente importa. 


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Sangue, metanfetamina e lágrimas.

É acabou. Ainda não caiu a ficha mas acabou. Já assisti três vezes e tenho certeza que esse número irá crescer em projeção. Apesar do fim completamente glorioso, como já era de se esperar quando levado em conta o padrão da série, eu ainda acho que foi pouco. Não que o episódio tenha sido ruim ou qualquer opinião a beira disso, muito pelo contrário. O episódio foi épico, transcendendo qualquer chute, teoria ou expectativa. Cada uma das cenas que juntas constroem a felina. Uma fera mesmo. Besta incontrolável de impecável qualidade. Um show que enche os olhos em qualquer sentido, entretendo seu público de maneira devota, irrevogável e sufocante. Essa semana foi dele. Quais as chances que uma pessoa comum tem de não ter visto ninguém falando nada sobre Breaking Bad essa semana? E se alguém ouvir falar mal desse verdadeiro show tenho que vos avisar: é porque essa pessoa não assistiu. O drama do professor de química de classe média que se transforma no rei do tráfico logo após de um diagnóstico de câncer foi traçada em pequenos e sutis detalhes, moldando um novo padrão para a tv. Se muito se fala sobre ele hoje, imaginem daqui a 10 anos. Não há como negar, fizeram história, ditaram novas regras e provaram ao mundo como a perfeição pode existir. Mais de 10 milhões de pessoas assistiriam o último episódio, FeLiNa, exibido neste domingo pela AMC. Meu único arrependimento é não ter conhecido essa obra de arte mais cedo e tê-la visto se desenvolver gradativamente diante dos meus olhos mas poucas palavras no mundo seriam capazes de descrever como sou grata por ter assistido. Existem outras 88 milhões de coisas sobre as quais eu gostaria de escrever mas, acho que é melhor enterrá-las no deserto, lá onde eu os assisti pela primeira vez. 
Obrigada por terem feito o mal ser tão bom,
Todo poder ao rei!




sábado, 21 de setembro de 2013

Uma gota de saudade

Sentei só pra observar, translúcida sem pressa, correndo sem se apressar. Descendo lentamente, escorregando pelas artes que estampam cada um dos muitos quadrados aqui reunidos. Vem caminhando como eu caminhava antes. Naquela época que eu ainda era, sabia e sentia. Quando eu ainda estava por aqui e sabia que aquilo era o suficiente. O brilho da gota de água me lembrou a lua quando refletia nos seus olhos e como eu nunca senti vontade de parar de olhar. Eu era feliz mesmo sofrendo. As vezes até acho que eu era feliz justamente por sofrer. Sei lá, quando a gente sofre a gente dá mais valor as coisas do que ela deveriam. A questão era que eu não sabia que sofria e por isso doeu mais quando eu soube. E eu ainda sei. Eu gostava da luz que tudo aquilo adicionava em minha vida, gostava tanto que me esqueci que quando mais luz existir, mais densa será a escuridão. Eu não me cansei de olhar para ela, aquilo, coisa que me lembrava tantas outras. Eu não queria lembrar, não de verdade. Eu queria esquecer tudo aquilo que me disse e voltar ao começo, e ficar só ali, parada na eternidade do tempo vivendo o começo. Começos são a parte mais deliciosa de tudo. Na verdade é a melhor porque é a única que é totalmente pura. É a única que você ainda não sabe de nada, todo novo e limpo para tudo o que a vida pode trazer a sua vida. A vida é o começo, o segundo que vem depois já saberemos de algumas coisas e assim começaremos a ver os defeitos. Novidade é doce. Tem gosto fácil de infância. Eu queria voltar a quando eu me preocupava em pensar no que você estaria pensando, e o que faria você feliz. Assim mesmo, sem ensaio, sem me preocupar em momento algum com o que me faria feliz. Todo o restante, o resto, o bagaço, eu tiraria. Abandonaria sem olhar pra trás um minuto sequer. Continuo parada encarando-a como se nada mais importasse na vida. Parece que eu gosto de sofrer mesmo. Lembrar, no meu caso, não poderia levar a nenhum lugar que não fosse às lágrimas. Translúcida sem pressa, correndo sem se apressar. Descendo lentamente, correndo pelos contornos do meu rosto, até se desfazer. Quantas coisas cabem em uma gota?


sábado, 7 de setembro de 2013

Eu escolhi tatuar

Mas é que eu já tinha esperado. Esperei até de mais! E ainda bem que esperei. Nove anos, não oito, não dez, nove. Nove longos períodos de meses ecoando em minha vida aguardando pelo momento em que eu finalmente a marcaria. E o momento enfim veio. O meu momento. Eu finalmente entendi o que é viver e deixar que a vida se adoce sozinha. Ou era agora, ou não seria nunca mais. Eu sabia o que queria e nada poderia estragar esse momento. A hora da estrela foi a primeira obra de Clarice que eu li. Lá em 2007, seis anos atrás. E eu poderia tentar explicar de todas as maneiras possíveis mas mesmo assim ninguém entenderia o que aquele livro significou para mim. Macabéa me fez olhar no horizonte e entender a importância de sorrir. Eu precisei marcar isso, para que não tivesse maneira no mundo capaz de me fazer esquecer. É uma promessa a mim mesma, de que nada pode me segurar. Uma promessa que garante a mim mesma nunca me perder, nem deixar ir. Eu pensei demais, demasiadamente exagerado. Pensei em todas as frases possíveis mas nenhuma significou tanto quanto essa. Pensei em músicas e outras coisas que eu gosto mas, não era pra ser mesmo. Decidi a frase, passei noites em todos os sites de fontes disponíveis, testei, odiei, até que achei a que seria, aquela que tinha a minha alma. Eu sei que pra maioria, todas essas palavras são um monte de bobeira e chatice mas infelizmente ninguém obriga ninguém a ler e eu precisava contar isso pra alguém.


domingo, 18 de agosto de 2013

As coisas que Picasso não ouviu

Poucos sabem sobre as poucas coisas que eu direi a seguir, mas é justamente por isso que as escrevo. Escrevo essas linhas tortas perdidas num tempo espaço irracional, apenas para expressar o pouco que a arte me deu de vida. Fica fácil entender a minha personalidade quando se chega em um conhecimento como este. Mãe, padrão totalmente decisivo para tudo que veio a suceder. Agradeço, e muito até por tudo que ela me proporcionou, aos livros que me mandou ler, aos filmes que disse para assistir e acima de tudo pelo caminho que me trouxe. Professora de Arte, não poderia fazer muito diferente. Agradeço-lhe primordialmente a todos os cadernos de desenho, aquarelas e lápis de cor que você me deu. Agradeço por ter me ensinado a escrever meu nome antes mesmo de entrar para o primário e por tudo que me ensinou. Agradeço por não se estressar ao me ver, tarde da noite, apoiada no parapeito da porta, olhando você preparar suas aulas e por ter perdido tanto tempo me contando suas histórias. Nunca soube se esse caminho sempre foi seu sonho ou se ela que veio a te escolher mas sei que maneira ou outra fizestes que fosse o meu. Obrigada por todos os joguinhos sobre desenho e por ter me incentivado tanto nesse caminho perfeito. Onde eu estaria se não tivesse visto Pietá pela primeira vez com cinco anos de idade e sem medo do trauma da estátua da mãe segurando o filho morto, onde minha mãe gastou saliva me contando tudo sobre aquela obra. O que teria feito sem as aulas de pintura a óleo que foram minha paixão por tanto tempo. Os incentivos em cada casinha que eu desenhava. E o que eu diria da obra sobre o sertão, pintada em tintas doadas e naquela tela feita a mão que eu tanto disse que não terminaria e hoje está exposta em algum dos corredores do Palácio dos Bandeirantes? Sei que o tempo sempre foi pouco, e que nunca voltará, mas das tantas coisas que poderia ter feito pra mim, fizeste a melhor. Me ensinou a ver o lado bom da vida e toda a sua beleza sintetizada através das cores. Me informou que o cinema era a sétima e foi por isso que por anos eu não conseguia gostar de comédias. Desculpe por ter detonado seu corredor com aquela canetinha azul inocentemente "desenhando uma historinha nova" e obrigada mais uma vez por tudo que você tenha feito por mim. Um dia você me disse que tudo o que fosse mais bonito no mundo era a arte, que arte era a vida e hoje eu digo: pra mim, é você.
FELIZ ANIVERSÁRIO MOM! 


domingo, 11 de agosto de 2013

A sua benção.

Poderiam pensar que seria diferente. Que eu passaria o dia todo tentando ignorar a data e continuar caminhando, mas a verdade é que não deu. Eu bem que queria ter um relacionamento muito melhor com o senhor, daqueles que a gente se fala todo dia e sabe de tudo um do outro. Não tenho muitas coisas bonitas pra contar sobre a infância mas sem dúvidas entre as melhores recordações sempre estarão o campeonato de campo do colégio. Mesmo com o seu riso quando eu disse que queria fazer a minha própria pipa ao invés de comprar você entrou na loja e pegou os materiais, deixou os seus afazeres da tarde e foi pra cozinha, tentando me ensinar algo que você também não sabia muito bem. Aquele campeonato era o melhor dia do ano, por muitos anos. Muito obrigada por tudo. Obrigada por ter sonhado comigo durante seis anos, por ter gastado todo o dinheiro da minha piscina  na casa que hoje é nossa e me desculpe por não puxar o jeito mais tradicional do seu lado da família. Obrigada, acima de tudo, por sentir tanto orgulho de mim, por encher o peito pra todo mundo porque a sua filhinha ser tão estudiosa. Desculpa, mas desculpa mesmo por não torcer pro verdão, por ter recusado todas as camisas oficiais e os jogos que eu deveria ter visto com você mas, o senhor sabe que time a gente não escolhe. 
Pode não parecer, mais eu te amo muito.
Obrigada por tudo,
Vou te levar uma Terra Brazilis no fim do mês (:


Posso me sentar?

Hey! você! Garota branca que foge da boa vida me espere!
Não corra tão depressa, se você chegar a tropeçar, esse chão é áspero demais para sua pele sensível. 
Pare de tentar fingir que sabe andar de salto, e pare de dizer que possui o dobro da idade verdade. 
Não seja instável para chamar atenção, isso é imaturo demais para esse século. 
Abandone esse carro enorme, é chamativo demais. 
Você foge sozinha, corra até mesmo de você. 
Eu não quero saber para onde vai e ainda assim sei que lá o pôr-do-sol é lindo. 
Talvez até tenha alguém te esperando. 
Garotas bonitas como você sempre têm. 
Não aceite propostas tentadoras de estranhos, eles farão você jogar seus precisos cartões de crédito fora. 
Pro lugar onde você vai eles nunca ouviram falar do seu pai e você não vai conseguir sinal telefônico para chorar no colo da mamãe. 
Simplesmente depois. 
Depois do dia que você levantou de sua cama de alta qualidade, forrada com lençóis púrpura, olhando para todos aqueles posteres sem sentido que não diziam nada além de que você estava precisando de atenção. 
A manicure por lá é péssima e não existe cabeleiro. 
Esqueça as festas e as maluquices, a sua loucura agora é diferente. 
A margem mas finalmente andando na linha. 
Nunca olhe para trás. 
A liberdade é doce mas vem apenas uma vez. 
Corra o mais rápido que puder, aprenda novas linguas, conheça outras pessoas, nunca se apegue a ninguém. 
Não se apegar é o segredo da vida. 
As coisas fogem, assim como você, então é melhor que fique só por si. 
O mar é realmente salgado e sol demais te faz passar mal. 
Eu nem sei seu nome mas existem coisas que as pessoas precisam dizer umas as outras. 
Você tem a vida toda pela frente, por favor nunca volte. 
Esqueça tudo em volta e fixe em você. 
Eu queria só pegar o ônibus hoje, ir para a minha casa e olhar o céu até dormir, mas aí eu te vi e vi que existem outras vidas, outras pessoas que ainda podem se salvar desse inferno negro silenciosamente solitário e frio que a alma pode chegar...



sábado, 10 de agosto de 2013

O anonimato dolorosamente vergonhoso de ser em agudos, sensível.

Dói, sabe?... Não, não deve saber, afinal eu prefiro não contar a ninguém. Dói de um jeito assim mesmo, tanto que você não sabe nem explicar, dói até por ser exagero, por cheirar a dependência e ser incomensuravelmente babaca. Mas dói, e não há como ignorar. Dói mais ainda por eu não poder fazer nada, por não depender de mim e ainda sim me machucar tanto. Sensibilidade em agudos, tentar respirar no pico do Everest. Não quero me sentir assim, não mereço me sentir assim mas, daí o detalhe mais perverso dos sentimentos: não existe controle. Cair. Literalmente cair. Aqueles tombos de sonho, que se estendem por tempo o suficiente para você sentir o frio abraço da morte. O vazio do não existir ainda que se sinta vivo. Odeio o pedaço de você que saí se se importar com o rompimento dos tecidos e vasos sanguíneos. O fim não pode ter outra conotação. e quando vem em dose cavalar chega a ser ensurdecedor. tudo parece terminar agora, nesse lugar. Talvez seja a mudança que eu previa a dias, tentando ser concretizada como uma marca feita a ferro quente. Esse golpe que surge nas costas, leva consigo boa parte do oxigênio. Não resista, nem tente lutar, você não conseguirá suportar o peso da espada. Diga que tá tudo bem, levante. Olhe pra frente e caminhe. Se for preciso chore em seu quarto mas não faça barulho, não deixem que te ouçam. Você é uma adulta agora, saiba lidar com isso, é isso que os adultos fazem. Talvez eles também percam a sensibilidade de ser jovem e nunca ter apanhado na vida. Mas, é assim que a banda toca. Você pode criar um blog. Deixar que suas lágrimas se tornem palavras e molhem o teclado. Mas o mundo real não pode saber disso. Talvez seja isso que faça a vida valer a pena: o poder de mudar tudo, sem que você possa impedir. A algum tempo atrás prometeu a si mesma que seria feliz, então cumpra. 



quarta-feira, 31 de julho de 2013

31.7

Só porque hoje é aniversário dela, e dele também. Eu sei que já faz dois anos que acabou mas, o sentimento está aqui, e não vai mudar tão cedo. Eu chorei com a morte do Dobby, de novo, e vou chorar em todas as próximas milhares de vezes que eu assistir ou ler. Aquele elfo não morre sozinho, apenas como um personagem que se vai. Minhas lágrimas não são planas, elas doem bem no fundo. Junto com Dobby, morre uma das partes mais doces e bonitas da minha vida. Fanatismo é perigoso, quase que doença mas esse eu me permito. Poucos podem saber como aquela dose mágica de fantasia foi essencial em minha vida, poucos sequer imaginam o que todos aqueles feitiços significam pra mim. Ah Joanne, o quão iluminada uma pessoa pode ser quando se torna capaz de mudar toda uma geração? Hoje é o aniversário dela, minha rainha. Diva das linhas, ex cozinheira, hoje uma das mulheres mais ricas do mundo. Autora da saga de livros mais traduzidas do mundo, que foram capazes de ensinar a milhares de jovens pelo mundo o dom de gostar da leitura. Foi um passeio de trem de uma dona de casa que praticamente salvou a minha vida e é por isso que não posso segurar as minhas lágrimas. Eu já escrevi sobre isso, chorei, desenhei, e farei tudo mais mil vezes porque é parte de mim, é o que sou, foi o que me permiti ser. É indescritível a sensação, paz interior que é tão boa que escorre pelos meus olhos. Posso parecer excessivamente dramática, mas quem não entende do que eu falo não merece minha atenção. Na pré-estréia no cinema, nas maratonas entre amigos, hoje no meu quarto, durante muitos anos até junto dos meus filhos e depois, meus netos. 
Depois de todo esse tempo?
Sempre.

Feliz Aniversário Harry Potter,
Feliz Aniversário Joanne Kathleen Rowling e muito obrigado.



domingo, 30 de junho de 2013

Amargo

Eu gosto é do amargo. Esse doce que já pensou em ser salgado em algum momento da vida. Picantemente ácido, longe de qualquer realidade de sabor. Me disseram que o amargo não era bom, e me deram vários motivos para não questionar. E vejam-me aqui. O destino me descobriu pra me provar que o amargo faz bem. Distância inquietante da perfeição. Prefiro as coisas que não dão certo de início. Gostava de você aqui, perto, quente. Por que insistir em uma ilusão perdida? Gosto de sambar à beira do precipício e se possível que eu possa estar de olhos vendados. Aquela liberdade de se permitir colocar tudo em risco no próximo passo. Não é a maneira mais confortável, nem a mais usada, mas eu adorei ela. Rir sem saber das dores da vida, chorar com a certeza de que tudo acaba. Eu prefiro o amargo mesmo. Inquietante ânsia de viver. Insaciedade de saber, procurar por algo de qual não se sabe. É por aqui que quero caminhar, passo a passo de uma armadilha para ursos. Quero a distância do doce. Chocolate não pode fazer bem a quem sofre com enxaquecas. Não que eu não goste do doce, alguma vez dar certo de vez em quando não faz mal nenhum. Uns sorrisos despreocupados para lá, uma felicidade repentina e boba pra cá. Mas é que o amargo tem um charme a mais, uma segurança conquistadora de certeza concreta. Não tenho nada contra o salgado, nada muito além de uma pressão arterial um pouco acima do necessário. Mas dar uma temperadinha na vida não mata ninguém não é? Jogar as coisas pra cima e viver apenas assim. Solto, leve. Alucinante liberdade de uma alegria quente. Marcando terreno onde fosse necessário. Ácido como qualquer outro ácido poderia ser: colorido. Diversificar vez ou outra só pode ajudar. Algodão doce de festa de criança, passeio pelas montanhas de bicicleta. Leveza espiritual. Meu preferido sempre será o amargo, realidade irreal das certezas evasivas. Loucura necessária, doentia controlada. Felicidade em viver mesmo sabendo da verdade da vida.


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Os R$ 0,20 que pagaram a minha vida

E como eu poderia deixar de escrever? Não existe possibilidade de tampar os ouvidos a algo de tamanha grandeza. Eu sempre amei meu país mas o orgulho que carrego neste momento é muito maior do que eu pensei em sentir algum dia. Um momento histórico. A reforma que precisávamos. 20 centavos para mudar anos e anos de problemas sociais e políticos. Não são vinte centavos são mais de 194 milhões de brasileiros gritando por mudança. Passei três dias dormindo apenas duas horas por dia, a ansiedade não deixava. Acompanhei os protestos desde o início e a cada dia minha sede crescia mais. Eu não consigo descrever a emoção deste momento. Escrever, de mãos dadas a todo o povo brasileiro, a nossa história. Exercer a nossa cidadania no mais alto pico de poder. Todo poder emana do povo e é foi essa frase que despertou o adormecido. Toda uma geração que nascia enquanto Collor caía. Filhos das caras pintadas e netos da ditadura. Aqui estamos nós! escoando pelos quatro cantos e sete mares o que queremos e como queremos. Geração dos anos 80 e 90, as melhores até hoje. Eu sempre tive orgulho da minha geração mas nunca beirou o que vivemos agora. Revolução, no seu mais alto significado. Força de vontade, as caras nas ruas. Nós vimos a internet nascer e soubemos dominá-la de uma forma que ninguém mais sabia. Domada e trazida em rédeas curtas, sempre achamos o que procuramos e finalmente ela foi o canal dessa vitória. Milhões de jovens que aprenderam a gostar de ler, preferiram as aulas de história, diversificaram aprendendo outras línguas através de seriados. Uma nação com sede de mudança que sabe onde pisa e sabe defender suas ideias. Uma geração que sabe que a sexta economia do mundo não pode conviver com a podridão que está no sistema dela. O hino nacional nunca ecoou tanto em minha mente. A minha alma pede por mudança, e eu estarei aqui, nas ruas, de peito aberto, seja lá ou o que estiver por vir. Quero contar para os meu filhos e mostrar para os meus netos o quanto nós nos preocupamos com o futuro que eles herdariam, o quanto lutamos para que as coisas dessem certo. Verás que um filho teu não fugirá a luta minha imensidão multiracial colorida e forte, avante meu gigante! Seu poder está nas ruas, o controle foi retomado. As coisas agora, terão de mudar.




quarta-feira, 5 de junho de 2013

De lá pra cá

São quatro horas da manhã de quarta feira. De costume, Clarice deveria estar dormindo à pelo menos duas horas. Algo está diferente. O cachorro dos vizinhos está chorando a tempo. Um choro pausado, mais parecido como um pedido de socorro. Clarice gostaria de poder fazer algo, era óbvio que o filhote estava incomodado com a impiedosa temperatura que fazia naquela noite. Ela estava em seu quarto caloroso, enrolada nas cobertas que mais pareciam mantos reais de tão pesadas, o braço ainda ardia como se algo cortasse sua carne quando a possibilidade de sair dali chegava. Quantos graus estaria lá fora? Ao céu aberto, sem proteção nenhuma. Jogado ao além, submerso ao seu destino. Eles tinham muito mais em comum do que qualquer um imaginaria. Quem dera que os dois pudessem igualmente gritar por socorro a quem escutasse. Suas coincidências se dividem no mórbido muro de concreto que separa seus mundos. O pobre cachorro depende de pessoas para poder resolver seu problema, Clarice têm problemas por causa das pessoas. Pessoas, seres que dividem a existência. Igualmente patéticos e surreais. Muitas vezes desnecessários, repletos de maldades e desinteresse. Coisas que caminham pelo mundo não fazendo nada além de tentar ser superiores. Seres que se esqueceram como é amar, congelando seus corações e fazendo o máximo para contaminar a todos. Determinados a serem tristes deixando suas vidas à deriva. Cuspindo palavras desagradáveis a quem queira ouvir. Clarice não se sentiria tão mal com o choro do filhote se hoje não fosse hoje. Se seu antigo amor já tivesse decidido qual sinfonia seguir. Se as ordens que ela havia dado ao coração fossem seguidas e ela nunca mais se apaixonasse de novo. O cachorro não precisaria gritar se sua dona, tivesse uma gota de compaixão e percebesse que ela precisava tomar uma decisão para que nada disso voltasse a acontecer tal como Eduardo. O namoro dos dois não durou nem um ano, a vizinha e seu cachorro acabaram de se conhecer. As diferenças gerando as coincidências. Poucas coisas poderiam estar ligadas se não se olhasse nessa perspectiva. O grito fica mais alto e Clarice fica a cada minuto mais atordoada. O quarto já não é um lugar seguro. Ela resolve correr, abre a porta e vai. E o filhote continua a gritar por calor, pedindo em cada súplica um único resquício de atenção. Os fatos seriam diferentes se fossem diferentes e como é necessário que eles mudem. Ela não vai mais dormir. Ele não a deixa dormir. E assim dividem suas dores em uma linha imaginária onde o muro de cimento úmido e cinza não existe. A cada minuto mais parecidos do que qualquer pessoa pode chegar a imaginar. 


domingo, 26 de maio de 2013

Viagem a Saturno

Ah eu vi. E como vi! Vi um show que tinha absolutamente tudo para dar errado. Eu não tinha como ir, não tinha como chegar, não havia companhia, mas apesar de tudo e de todos eu precisava ir. Eu precisava desde meus 7 anos quando os vi tocar pela primeira vez, “Natasha” no Domingo Legal. Me lembro perfeitamente como a frase “pneus de carro cantam” ficou gravada na minha mente até hoje. Precisava desde 19 de maio de 2012 quando fui ao primeiro show deles e prometi a mim mesma que iria a todos os shows que fossem possíveis. E como agradeço ter-me prometido isso. Soube disso a um ano atrás quando presenciei um dos melhores momentos da minha vida. Assistir aquele que seria o primeiro de muitos shows que eu ainda irei me proporcionou uma sensação única de bem estar e realização que é impossível de explicar ou concretizar. O céu estava perfeito, e o frio não importou muito menos a dor nos pés afinal, foi isso que aprendi, aprendi a andar descalço em um mundo de asfalto e sem coração algum. Perdi as contas de quantas vezes precisei segurar o choro principalmente quando Dinho parou o show para dedicar-lo ao eterno Chorão tocando a música predileta dele. Engraçado, emocionante, simplesmente perfeito. Simplesmente apaixonada pela dedicação dessa banda com seus fãs, pelo show a parte que cada um dos músicos deram. Apaixonada pelas animações do telão e pelo polvo imenso que surgiu e sumiu sem deixar vestígios. Eu praticamente não pude acreditar quando vi a notícia no jornal a três meses atrás, e basicamente ainda não acredito. Eu não queria dormir com medo de que tudo tivesse sido um pequeno delírio. Obrigada mãe por ter me apoiado mesmo não entendendo qual o motivo que me levava a tanta necessidade de estar lá. Obrigada pai por ter acordado a uma da manhã e ter percorrido quase 100 km para me trazer de volta pra casa. E como dizia o cartaz na platéia: Obrigada Capital Inicial por salvarem a música brasileira! 

VOCÊS SÃO DO CARALHO!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A pureza em significado

Um professor colombiano passou dez anos coletando definições de seus alunos e, como resultado, obteve um dicionário com verbetes ao mesmo tempo puros, lógicos e reais. A seguir algumas das definições mais puras do livro, intitulado "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças", que traz cerca de 500 definições para 133 palavras de A a Z:

Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma 
(Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo 
(Maryluz Arbeláez, 9 anos)
Água: Transparência que se pode tomar 
(Tatiana Ramírez, 7 anos)
Branco: O branco é uma cor que não pinta 
(Jonathan Ramírez, 11 anos)
Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos 
(Luis Alberto Ortiz, 8 anos)
Céu: De onde sai o dia 
(Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
Colômbia: É uma partida de futebol 
(Diego Giraldo, 8 anos)
Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos 
(Ana María Noreña, 12 anos)
Deus: É o amor com cabelo grande e poderes 
(Ana Milena Hurtado, 5 anos)
Escuridão: É como o frescor da noite 
(Ana Cristina Henao, 8 anos)
Guerra:Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz 
(Juan Carlos Mejía, 11 anos)
Inveja: Atirar pedras nos amigos 
(Alejandro Tobón, 7 anos)
Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus 
(Natalia Bueno, 7 anos)
Lua: É o que nos dá a noite 
(Leidy Johanna García, 8 anos)
Mãe: Mãe entende e depois vai dormir 
(Juan Alzate, 6 anos)
Paz: Quando a pessoa se perdoa 
(Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra 
(Luisa Pates, 8 anos)
Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes 
(Iván Darío López, 10 anos)
Tempo: Coisa que passa para lembrar 
(Jorge Armando, 8 anos)
Universo: Casa das estrelas 
(Carlos Gómez, 12 anos)
Violência: Parte ruim da paz 
(Sara Martínez, 7 anos)



sexta-feira, 17 de maio de 2013

Agridoce

E continua assim, lento, calmo como a brisa da manhã. As pessoas nunca irão entender mesmo. Não precisamos de rótulos, temos a nós e isso é melhor que qualquer outra coisa no mundo. Deixa assim, eu cuido de você, você continua cuidando de mim. Tudo é melhor como vem com surpresas. Te conhecer foi a coisa mais bonita que já aconteceu na minha vida, e porque precisamos tanto mudar as coisas? Ah garoto, se eu soubesse que aquela tarde ensolarada de abril mudaria a minha vida talvez eu tivesse me preparado. Não precisamos de nada que concretize o que temos. Não caberia na realidade nem se tentássemos. É algo além. Porque precisamos dizer que é de açúcar só porque é doce? Sublime alegria inusitada que escorrega pelos cantos da vida. Ah se eu pudesse juntar tudo do que falo e colocar em um pequeno pote, guardado a direita dos meus livros. E quando a distância vier, novamente olharemos para ela com alegria, deixe que chegue e faça sua vez. Deixe que a saudade inunde e leve tudo sem querer, que ela entre sem bater. Não precisaremos de lágrimas ou se quer palavras para saciar esse vazio porque mesmo sendo tão oco é de uma pureza e felicidade inconcebíveis. Eu bem que queria te fixar, concretizar, trazer tudo para o mundo real mas, sabe, a realidade estraga. Continuemos nos sonhos, em nossos sonhos. Como crianças livres nascidas apenas para sorrir a vida. Quero você aqui por perto por todo o tempo que existe mas, se não puder ser assim que não seja. Ter o que nós dois temos é algo simplesmente singular. Ninguém no mundo pode possui porque no fundo só é assim porque é nosso. 


domingo, 12 de maio de 2013

À mulher da minha vida

Eu sei que você não gosta dessas datas comemorativas, acha tudo um absurdo capitalista entre outras coisas mas, é que deu uma saudade doída de você. Deu saudade dos seus gritos 24hs por dia, do seu estresse sem tamanho e de todas as ordens que você me dá a todo momento. Deu saudade de ter que me virar pra fazer algo pra comer e chamar de almoço porque como sempre, você teve um milhão de coisas pra fazer. É minha guerreira, se alguém no mundo merece esse título é você. Obrigada por ter sonhado comigo por seis anos e por ter me dado a vida. Obrigada por dar a mão sempre que eu quis dar outro passo mesmo sabendo que muitos deles eram completas loucuras. Obrigada por me fazer tão independente me mandando pra 50kms de distância todos os dias em busca de um estudo. Tenho tantas coisas pra te agradecer que dificilmente eu chegaria ao final desse texto. Eu sei que algumas pessoas não vão entender o porque disso tudo, já que a gente briga tanto mas, a verdade é que o amor é tanto que chega a sufocar. Obrigada por me ligar todos os dias e por ter sido a base do meu maior sonho e me ajudado a subir cada degrau para que eu alcançasse. Obrigada principalmente por nunca tentar interferir na minha vida e me responder sempre que eu perguntava sobre faculdade: eu quero que você seja feliz. E como eu poderia não ser feliz tendo uma mãe como você? Você não têm ideia do tamanho da minha gratidão que vai continuar crescendo a cada dia. Eu não vejo a hora de pegar o meu diploma em mãos e me lembrar de tudo o que foi necessário fazer para que eu chegasse até aqui. Muitos disseram que não daria, e não dava mesmo. Você deu nó em gota d'água para que eu atravessasse esses 208kms até aqui. Desculpa por todas as enrascadas financeiras que eu já me meti e que você teve que me salvar. Eu sei que não é fácil lidar com tantas crianças na escola e chegar em casa e ter mais duas pra dar trabalho e talvez por isso eu te admire bem mais. Eu sinto sua falta todos os dias, sem tirar nem por. Obrigada por se preocupar mais comigo do que eu mesma, por todas as consultas, médicos e tratamentos que eu fiz desde sempre. Mil perdões por todos os erros, e dedico todos os acertos a você. 
Ah Dona Júlia Francisca, hoje eu arrumei a cama s2


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Depois de terça...

Ah quarta feira, que você seja muito mais do que mereço e que cumpra mais do que prometeu. Que seja amena e passe logo, quero ver seu pôr do sol. Preciso de tuas casinhas miúdas, cheias de pouca gente. Quero tua simplicidade de quem vive sem exitar. Necessito de teus campos verdes e distantes, cercados de árvores que nunca saíram de-la. Preciso da seu jeito doce de quem quer caminhar nas nuvens. Sua responsabilidade de quem tem sede de grandeza. Suas estradas calmas, nada muito profissionais. Quero sua malícia inocente de quem anseia por ferocidade. Ah como quero acordar na calmaria e te ver sorridente quarta feira. Sua paz tranquila de quem tem certeza de que nada de ruim pode acontecer, e que tudo está sobre controle. Quero sua certeza no caminho em que trilhas. Quero única e exclusivamente, este dia. 

domingo, 28 de abril de 2013

Desabroche

Deixa, abandona, joga num canto. Esquece por uns dias, dê uma folga pra você. Tire férias da rotina, da lista, dos afazeres que fazem você. Deixa viver por um dia, deixa enxergar a vida a sua volta. Não bata o ponto, esqueça o conto. Deixe levar e não carregue nada. Perdemos metade das nossas vidas tentando justificar ou ganhar a outra metade. Desligue o despertador. Olhe para o espelho e veja mais do que ver, enxergue. Seja sua por um tempo. Esqueça todo o complexo restante de coisas e pessoas que compões o universo. O tempo não pede autorização para caminhar, que dirá para correr. Durma com o sol e viva para a lua pelo menos uma única vez. Sorria mesmo sem vontade e tente pensar pelo lado feliz o dia todo. Está proibido proibir, chorar e sofrer. Está terminantemente abolido de toda a sua vida a tristeza. Escolha ser feliz. Opte por este caminho, ele é mais curto, seguro e bem mais divertido. Tropece no inanimado da liberdade. Sem limites, barreiras ou fronteiras. Deixa estar, seja leve e livre. As dificuldades não cabem em lugar algum então é melhor nem carregar. Pesam, e só deixam a viagem desconfortável. Levanta, sacode a poeira, deixa a pele respirar. Sinta a brisa da manhã com aroma de oceano te dizer bom dia acariciando o seu rosto. As chances são muito poucas de se fazer o que é certo.


terça-feira, 26 de março de 2013

Outra história com um outro rosto,
Outro beijo com o mesmo gosto,
Era cedo e não podia dar certo, 
Lá vem outro dia frito e encoberto. 
Agora veja o meu estado 
Olhando o futuro e prevendo o passado
Como alguém que não sabe o que quer,
Mentindo pra todos enquanto puder
...
O tempo virou e me deu as costas 
Outra pergunta com a mesma resposta.
Os dias são sempre iguais
O mesmo filme em todos os canais
Eu quero voar mas tenho medo de altura
Céu azul me dá tontura 
Eu caio mas não chego ao chão 
Estou cego mas perdi a razão 
Tentar
Se for um erro eu quero errar sempre assim 
Gritar
Se teve começo que tenha fim.


Capital Inicial

sexta-feira, 22 de março de 2013

Queremos o que não teremos. Ouvi dizer que a função da utopia é nos fazer caminhar, que ela dá um passo para trás conforme damos um passo em sua direção, e que a beleza está no trajeto e não no destino. Bobagem. Somos apenas vilipendiados por nossas ambições vazias. Traídos por nossos planos. Queremos o que não teremos, porque se tivéssemos, iríamos buscar por algo outro. Carlos Drummond dizia que as coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Talvez então seja o caso de nossa curiosidade tentar antecipar de que maneira, em qual realidade, aquilo que desejamos tanto se tornaria despido de relevância, e ficaria esquecido na prateleira. Incapaz de pintar tal quadro, vemos cada gesto de nossa existência viva empurrar para longe nosso objetivo. Que não é, claro, nosso objetivo. Só uma parte de nossa mente espera impaciente que caia em nosso colo nossos sonhos e nossas súplicas. Ante cada minuto em que isso acontece somos açoitados pela frustração impúbere que se decanta ora em raiva, ora em tristeza, mas principalmente em um falso desdém que sentimos em relação a nossos próprios sentimentos. O que é felicidade? Felicidade é uma experiência que nos afasta momentaneamente das birras do nosso coração, um momento de fuga em que estamos distraídos efetivamente vivendo a realidade mundana e não aquela tecida por nossos tecidos neurais, que dá existência à inconsistência de nossas expectativas. Ao lado disso, temos que admitir que somos prisioneiros de nossas vontades, uma vez que tampouco elas estão trancadas em nós, estamos nós também trancados nelas. Como contar a um terceiro o que sentimos? Nossa mente racional compreende que não há forma de traduzir em palavras nossos sentimentos... Que o ouvinte por mais solícito que seja, vai ver não a profundidade de nosso sentimento, mas a tolice que nos serve de cárcere... Mesmo o punho que escreve, o faz em tom subjetivo, tentando imprimir um caráter genérico a sua angústia pessoal. A tristeza tem tamanho único, e é trágico que ela sirva tão perfeitamente. Quando o objeto que desejamos é mesmo um objeto é mais fácil racionalizar a impossibilidade ou dar cabo a um plano para consegui-lo: afinal, ou faz parte das coisas que é possível um dia obter, ou não. Mas é claro que nosso objeto de desejo não é um objeto... É uma pessoa. E as pessoas também podem ser divididas entre aquelas que poderemos ter e aquelas que nunca poderemos. Só que aí se instala um caráter subjetivo que faz com que caia por terra os esforços da razão: o objeto pessoa pode ser perfeitamente tangível, estando dentro do mundo físico em que estamos, e mesmo assim estar inacessível. Não creio haver sentido nos desígnios da emoção: como um reino nas mãos de uma criança, a desordem impera em nossos sentimentos e aqueles que pretendem ver ordem em tal caos são tão loucos quanto é aquele que redige tais desígnios, se redigidos fossem. Somos então escravos de nossas formas físicas, de nossa condição pessoal, e da nossa vulnerabilidade, que uma vez percebida, será para sempre nosso ponto fraco. Está aí o motivo por escondermos nossos sonhos dos outros: por meio deles levaremos as punhaladas mais profundas, letais e venenosas, em caso de descuido. “Por que você não me ama!? Droga, será que é assim tão difícil que você me ame!? Me ame agora!” grita nosso coração enquanto o rosto desenha o mais corriqueiro e desinteressado “Olá” matinal. Aprendemos a mentir não com outros mentirosos, mas pela convivência com nossos amores platônicos. Platônico, porque não importa o quão carnal seja nossa vontade, ela é, afinal, subjetiva: a conjunção carnal, se conquistada, marca apenas o fim da urgência, esta que tratará de logo encontrar outra pauta com a qual nos atormentar. Parece então tolice tentar vencer nossas vontades, e é verdade. Quem vive para fazer as vezes das determinações do coração não vive, apenas sobrevive. Nossos sentimentos são cruéis e buscam nos eliminar, numa astuciosa tática evolutiva de encravar em nossos peitos um conselheiro vil, que sussurra em nossos ouvidos pelo prazer de nos distrair da plenitude da vida, que é viver sem roteiro ou ponto de chegada.

Luis Sescão


quinta-feira, 21 de março de 2013

Pingo

Faz dias que chove. Chove o tempo todo. O dia permanece cinza, sem querer nos dar muita esperança. Acredito que o sol tenha tirado umas férias por ter trabalhado por todo o verão. O outono trouxe umas nuvens cinzas e tristonhas, que choram todo dia, e chove. O clima está agradável, chegou pedindo chocolate quente, cafuné, cobertores e filme. Pede companhia, abraço e aconchego. Poucos podem ter mas ele ainda pede. Nada que um cobertor extra não resolva mas a falta é maior que a chuva. Falta a muito tempo, bem antes de começar a chover. Falta desde quando quem chorava era eu e não as nuvens. Faltou quando eu achei que tinha encontrado e depois percebi que perdi. Não estava quando eu pensei que estava por perto mas corria a milhas daqui. Faltou ontem, hoje e irá faltar amanhã. Esteve longe quando eu precisava junto. Distancia ensurdecedora gritando em minha vida. Não faz sentido algum e não quero que o faça. Não foi verdadeiro enquanto jurava e não foi pra valer em momento algum. O abraço não veio quando me senti só, o conforto era o próprio desconforto. Não há outras escolhas a serem feitas, o tempo já passou e os caminhos já estão molhados. Continuo caminhando, mesmo que sozinha a procura do meu arco-íris. Porque nada é pra sempre e uma hora essa chuva vai passar. A instabilidade na vaga existência do não ser. Preferiu estar lá do que aqui, talvez por lá esteja sol. Não há o que completar. O jeito é sentar e esperar a chuva passar. 




segunda-feira, 11 de março de 2013

O que eu penso sobre política

Quando eu era criança me disseram que não se discutia sobre política. Mas, infelizmente, tudo que fosse proibido soaria melhor que todo o resto, sempre foi assim. Perguntei o motivo e me informaram que era pra não deixar as pessoas chateadas ou com raiva. No dia seguinte me elegi representante de sala da minha terceira série do ensino fundamental. No almoço de família, quando contei a todos a novidade me parabenizaram e me perguntaram o porque eu optei por me prontificar a um cargo desses, respondi apenas que me disseram que não se fala de política então eu queria ser parte dela. Anos se passaram até que eu entendesse que realmente sou parte dela. Tirei meu título eleitoral no dia seguinte ao meu aniversário de 16 anos. Votei na primeira eleição que pude, conselheiro tutelar do meu pequeno município. O tempo correu como deveria e novamente eu vi a necessidade bater a minha porta. Novamente, representante de sala não só no primeiro ano do ensino médio como nos outros dois consecutivos. Nesse meio tempo veio uma eleição para presidente do país, a mais esperada. Analisei cada um dos candidatos, li o plano de governo e votei na Marina que não conseguiu disputar o segundo turno. Não fiquei chateada, muito menos magoada, parei e pensei nas opções possíveis e votei. Só não comprei brigas feias durante o período de eleições municipais porque meus pais pediram para que não o fizesse. Comecei a faculdade, e no segundo ano fui eleita representante de sala, novamente. Não fiz grandes coisas mas fiz tudo o que me foi possível e ainda estou correndo atrás de várias coisas apesar do meu tempo ter tecnicamente acabado. Fiz tudo o que eu achava que era necessário, ouvi as reclamações de cada parte, ouvi os elogios. Parei para prestar atenção no que as opções me ofereciam e consegui escolher o melhor dentre o que eu acreditava ser certo, sem opiniões nem mesmo da minha família, que me criou da melhor maneira política possível. Mas nada do que eu tenha presenciado ou visto por toda a vida havia se encaixado como eu sentia que deveria se encaixar. Eu nunca me tornei uma fanática que estuda toda a política do seu país e passa a vivenciá-la como se fosse um ministro. Eu apenas queria estar onde me coubesse e fazer tudo o que pudesse para os que me elegeram pois política para mim era isso, sem muitas togas e porcentagens de votos. E então, finalmente, depois de todo esse tempo eu vi a resposta a minha pergunta, feita a doze anos atrás. Porque não se fala sobre política? Porque o quanto menos se fala sobre algo, menos ele é difundido e menores são as chances dele chegar a o máximo de pessoas possíveis. Porque quando optamos por não falar de política impedimos que mais pessoas no país saibam porque pessoas como o Renan Calheiros são tão odiadas. Porque quando não falamos de política as pessoas param de entender o verdadeiro porquê das coisas, suas razões e funcionalidades. Porque quando deixamos de falar de política é mais fácil lotar o plenário de pessoas mais espertas que resolveram falar de política onde ninguém mais quis. Porque assim é mais fácil encher a cueca de dinheiro de gente que prefere não falar sobre isso. Mais tranquilo eleger as pessoas menos adeptas ao cargo estabelecido e caso a mídia venha a mostrar isso pro povo, se torna mais fácil fazer com que a reação deles sejam apenas petições on-line, reclamações no twitter e compartilhamentos do facebook. Informação plantada, alienação, manipulação, cultura. Chamem pelo que optarem em qualquer parte do mundo. A verdade é que, só não se fala sobre política caso você não se importe nem com você nem com qualquer pessoa que esteja a sua volta. 


quinta-feira, 7 de março de 2013

Só de ouvir a sua voz eu já me sinto bem

Deveras que a perca de hoje fosse apenas no mundo da música. Hoje perdeu-se um dos ícones mais expressivos da nossa geração. Poeta, crítico, músico. Sua falta será sentida pelo mundo afora, por toda a extensão onde esse céu azul brilhar. Eu ainda não estou acreditando, ou pelo menos gostaria de poder não acreditar. Logo eu, que vivia falando o quanto eu precisava ir a um show deles, hoje acordo e descubro que isso não será possível, nunca mais. Talvez seja porque eu, na verdade, nunca havia perdido um ídolo. Eu amava os Mamonas na época do acidente mas era nova demais para entender o que era a morte. Fui crescendo e aprendendo a ouvir a boa música e felizmente grande parte dos meus então ídolos já haviam me deixado. Mas agora, tudo é diferente. Passei o dia todo tentando evitar que as tristezas repentinas, que apareciam todo o tempo junto com a lembrança da notícia, acabassem com o meu dia. Difícil não perder um dia para aquele que te deu uma adolescência. Nunca fui do grupo descolado que assistia malhação, mas eu tinha o CD, e só Deus sabe o quanto eu curtia. Também nunca fui de ter preferidos. Ainda hoje me pediram para citar 3 filmes e olha, deu trabalho. Não tenho uma banda predileta. Gosto de ouvir tanta coisa que acaba sendo injusto ter que escolher um que significasse por todos. Mas, sem dúvidas, CBJR, estava entre os mais duradouros. É uma das poucas bandas que eu fiz questão de ter a discografia inteira, sem tirar nem pôr. É a banda que eu sempre coloco pra tocar quando a galera se reúne, eram as músicas que poderiam ser ouvidas todos os dias, seja qual fosse a situação. Chorão tinha esse dom absurdo de curar com as palavras, com o som. Som tão pouco valorizado enquanto era compreensível. Você merecia muito mais do que toda essa geração que chorou hoje por você. "Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo". Olha, não sei o quanto você amava seus fãs ou se sequer fazia questões deles, porque na real isso não importa, mas, uma coisa eu sei, você fez tudo de melhor que poderia ter feito para nós. Você nos deu ótimas canções, cheias de críticas, soluções e amor. Nos ensinou como é a política e a vida na real. Eu ainda não visitei Santos, mas tenho a cidade em minha mente perfeita em teus versos. Sei que algum dia, meus filhos vão ouvir essas músicas e eu vou lhes dizer o quanto esse cara era foda. Eu não ouvia todo santo dia. Mas ouvia muito, e vou continuar ouvindo. Cada uma das músicas traz a vida uma cor diferente, um tom de alegria, apesar de todos os pesares. Impossível não sentar numa roda com um violão e não cantar "Só os loucos sabem". Impossível falar do cenário musical brasileiro sem reconhecer a importância que essa banda teve. Duvido que exista alguma pessoa que não conheça, mesmo que sem saber, pelo menos um refrão de uma música deles. Era isso que os faziam tão incríveis enquanto eram: a magnitude que alcançavam, tanto em tempo de carreira, quanto em sucesso. Em cada momento da minha vida, sempre houve pelo uma canção que acompanhasse. Talvez a morte não pense muito bem na importância das pessoas, ou o quanto elas farão falta porque olha, hoje o Brasil acordou de luto.
"qualquer dúvida: espere até ouvir falar de nós"
Alexandre Magno Abrão, descace em paz. 


sábado, 2 de março de 2013

Alice

Acordar sem querer, sentir-se bem como nunca havia sentido antes. Um único sonho que pareceu durar tão pouco agora era motivo da felicidade de todo o resto do mês. Foi como uma recordação, tão feliz que chegava a ser doce. Sentados em um lugar calmo e fresco, apenas nos olhando nos olhos como se não houvesse amanhã. Seus olhos eram tudo que eu queria ver por toda a minha vida. Meu porto seguro. Te abraçar, sentir. Não era esse mundo, era outro, distante, doce e puro. Como se não houvesse mais nada na terra além de nós e nosso amor. Pacato, sem mal algum apenas por deixar viver. Era próximo e perfeito, era nosso. É difícil me lembrar enquanto estou acordada, presa a este mundo, a realidade. Dormir, querer dormir pra sempre. Impossível conceber tamanha felicidade aqui, nesse lugar cheio de caos e problemas. Será que realmente aconteceu? Meu cérebro não colabora, e não sei se realmente quero voltar a vivenciar isso. É distante de tão contente e sucinto. Medido, único, era amor e era nosso, nosso amor. Único e verdadeiro. Tanto tempo que sonho e praticamente não me lembro em realizar. Talvez, na verdade, nada disso aconteceu. 


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Passatempo, tempo passa

Dessa vez não estive por muito longe. Foi muito tempo mas nada de distância. Fiquei por aqui, encarando a minha vida enquanto ela me encarava. Buscando respostas onde as perguntas já não valiam o tempo que se perdia. Ah o tempo, tempo que não se sacia dos anos e consome todos que passam. E aqui continuamos, ainda me sinto travada, amarrada, completamente estática diante dos acontecimentos. Me deram três meses e hoje parei para procurá-los e infelizmente não faço ideia de onde estejam. Perdi uma semana vendo um seriado sem conteúdo mas ganhei duas assistindo um apaixonante. Gastei algumas horas lendo, outras estudando, várias na internet mas mesmo assim nunca pareceu tanto. Dizemos estarmos felizes com a vida que levamos mas na maioria das vezes eu me vejo cercada por desperdícios de tempo. E quem não acredita que poderíamos ter sido mais felizes, ter ficado mais naquele lugar, conversado mais, vivido mais. A verdade é que viver tem um preço alto e o tempo é cruel em cobrá-lo. Não há como impedir, não tem como segurar a única coisa a fazer é correr enquanto conseguir, ou deixar que a maré o leve. O gelo derrete, o suco esquenta, o café esfria. Tempo, o verdadeiro senhor da vida. Poderoso controlador de tudo. Somos pobres fantoches dançando a dança lenta e gradativa que já estava escrita antes de pensarmos em viver. As crianças cresceram, o amor acabou, as flores murcharam, lá se foram outras tantas primaveras. A vida é curta pra quem vive demais sem saber o que viveu, e longa demais para quem viveu pouco e viveu tudo.


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Capítulo 1

E cá estou eu novamente, sem ter muito pra onde correr. Peço desculpas antecipadas mais uma vez pelo que pode estar por vir, sabe-se lá o que estas pobres palavras inocentes que escorrerão de dedos desamparados podem causar. A exatamente um ano atrás eu estava exatamente aqui, parada, travada, esperando pela força exterior para resolver alguns problemas e foi justamente isso que me fez mudar e confirmar que o único responsável pela minha vida, acertos e erros sou eu mesma. Eu estava a pouco mais de 100 metros de onde estou agora, trancada dentro de um carro, cheia de expectativas e nenhuma realização, desejos e promessas para o ano que chegava regado à chuva e champanhe barata com uma blusinha de liquidação pouco enfeitada. E cá estou eu novamente onde minhas diferenças me tornam totalmente igual. Parada no meio da rua, atada. Acorrentada a algo que não me cabia e que não dependia de mim e ainda assim me faria mal. Prometi, dentre outras coisas, que eu preferiria a mim nesse ano que nascia. Jurei aos sete mares que eu seria em primeira opção antes de qualquer um. E assim fiz. Cultivei um ano maravilhoso, cheio de surpresas que eu esperei durante anos. Alegre e simples, descalço. Cercada de pessoas encantadoras e que viviam e viveram cada um de seus 365 dias a espalhar felicidade. E assim eu quero que se repita. Chega de erros ridículos e de deslizes desnecessários. Chega de dar conselhos a pessoas que nunca se importaram de verdade com você. Quero outros 365 anos como 2012 foi e como 2013 será. Cheio de mim, de eu, verdade constante, sólida. Parada em portos seguros, pessoas confiáveis. Eu queria escrever mais milhões de linhas bonitas, calculadas, que tivessem até coreografia enquanto fossem lidas. Poderia desejar a várias pessoas coisas que elas não desejariam a mim nem em seus melhores dias. Estou meio que farta, cansada de depositar em um único minuto o poder e glória de mudar toda a minha vida. Lutamos tanto para mudar e quando conseguimos deixamos que um único momento traga tudo a baixo? Um singular momento capaz de desfazer tudo o que construí. Não é algo que se possa aceitar calada e não aceitarei. Meu ano novo foi o ano todo, o aglomerado de gargalhadas que colhi ao longo do caminho. Os sessenta segundos iniciais não merecem o reconhecimento que possuem. Quero um ano novo como o velho, e de pouco importa as tristezas. Quero um ano de mais conquistas e menos planos. Com vários outros risos, alegrias e histórias pra contar. Na simplicidade de uma alegria, um desejo único e renovável de que a bondade se torne rotina.