terça-feira, 26 de março de 2013

Outra história com um outro rosto,
Outro beijo com o mesmo gosto,
Era cedo e não podia dar certo, 
Lá vem outro dia frito e encoberto. 
Agora veja o meu estado 
Olhando o futuro e prevendo o passado
Como alguém que não sabe o que quer,
Mentindo pra todos enquanto puder
...
O tempo virou e me deu as costas 
Outra pergunta com a mesma resposta.
Os dias são sempre iguais
O mesmo filme em todos os canais
Eu quero voar mas tenho medo de altura
Céu azul me dá tontura 
Eu caio mas não chego ao chão 
Estou cego mas perdi a razão 
Tentar
Se for um erro eu quero errar sempre assim 
Gritar
Se teve começo que tenha fim.


Capital Inicial

sexta-feira, 22 de março de 2013

Queremos o que não teremos. Ouvi dizer que a função da utopia é nos fazer caminhar, que ela dá um passo para trás conforme damos um passo em sua direção, e que a beleza está no trajeto e não no destino. Bobagem. Somos apenas vilipendiados por nossas ambições vazias. Traídos por nossos planos. Queremos o que não teremos, porque se tivéssemos, iríamos buscar por algo outro. Carlos Drummond dizia que as coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Talvez então seja o caso de nossa curiosidade tentar antecipar de que maneira, em qual realidade, aquilo que desejamos tanto se tornaria despido de relevância, e ficaria esquecido na prateleira. Incapaz de pintar tal quadro, vemos cada gesto de nossa existência viva empurrar para longe nosso objetivo. Que não é, claro, nosso objetivo. Só uma parte de nossa mente espera impaciente que caia em nosso colo nossos sonhos e nossas súplicas. Ante cada minuto em que isso acontece somos açoitados pela frustração impúbere que se decanta ora em raiva, ora em tristeza, mas principalmente em um falso desdém que sentimos em relação a nossos próprios sentimentos. O que é felicidade? Felicidade é uma experiência que nos afasta momentaneamente das birras do nosso coração, um momento de fuga em que estamos distraídos efetivamente vivendo a realidade mundana e não aquela tecida por nossos tecidos neurais, que dá existência à inconsistência de nossas expectativas. Ao lado disso, temos que admitir que somos prisioneiros de nossas vontades, uma vez que tampouco elas estão trancadas em nós, estamos nós também trancados nelas. Como contar a um terceiro o que sentimos? Nossa mente racional compreende que não há forma de traduzir em palavras nossos sentimentos... Que o ouvinte por mais solícito que seja, vai ver não a profundidade de nosso sentimento, mas a tolice que nos serve de cárcere... Mesmo o punho que escreve, o faz em tom subjetivo, tentando imprimir um caráter genérico a sua angústia pessoal. A tristeza tem tamanho único, e é trágico que ela sirva tão perfeitamente. Quando o objeto que desejamos é mesmo um objeto é mais fácil racionalizar a impossibilidade ou dar cabo a um plano para consegui-lo: afinal, ou faz parte das coisas que é possível um dia obter, ou não. Mas é claro que nosso objeto de desejo não é um objeto... É uma pessoa. E as pessoas também podem ser divididas entre aquelas que poderemos ter e aquelas que nunca poderemos. Só que aí se instala um caráter subjetivo que faz com que caia por terra os esforços da razão: o objeto pessoa pode ser perfeitamente tangível, estando dentro do mundo físico em que estamos, e mesmo assim estar inacessível. Não creio haver sentido nos desígnios da emoção: como um reino nas mãos de uma criança, a desordem impera em nossos sentimentos e aqueles que pretendem ver ordem em tal caos são tão loucos quanto é aquele que redige tais desígnios, se redigidos fossem. Somos então escravos de nossas formas físicas, de nossa condição pessoal, e da nossa vulnerabilidade, que uma vez percebida, será para sempre nosso ponto fraco. Está aí o motivo por escondermos nossos sonhos dos outros: por meio deles levaremos as punhaladas mais profundas, letais e venenosas, em caso de descuido. “Por que você não me ama!? Droga, será que é assim tão difícil que você me ame!? Me ame agora!” grita nosso coração enquanto o rosto desenha o mais corriqueiro e desinteressado “Olá” matinal. Aprendemos a mentir não com outros mentirosos, mas pela convivência com nossos amores platônicos. Platônico, porque não importa o quão carnal seja nossa vontade, ela é, afinal, subjetiva: a conjunção carnal, se conquistada, marca apenas o fim da urgência, esta que tratará de logo encontrar outra pauta com a qual nos atormentar. Parece então tolice tentar vencer nossas vontades, e é verdade. Quem vive para fazer as vezes das determinações do coração não vive, apenas sobrevive. Nossos sentimentos são cruéis e buscam nos eliminar, numa astuciosa tática evolutiva de encravar em nossos peitos um conselheiro vil, que sussurra em nossos ouvidos pelo prazer de nos distrair da plenitude da vida, que é viver sem roteiro ou ponto de chegada.

Luis Sescão


quinta-feira, 21 de março de 2013

Pingo

Faz dias que chove. Chove o tempo todo. O dia permanece cinza, sem querer nos dar muita esperança. Acredito que o sol tenha tirado umas férias por ter trabalhado por todo o verão. O outono trouxe umas nuvens cinzas e tristonhas, que choram todo dia, e chove. O clima está agradável, chegou pedindo chocolate quente, cafuné, cobertores e filme. Pede companhia, abraço e aconchego. Poucos podem ter mas ele ainda pede. Nada que um cobertor extra não resolva mas a falta é maior que a chuva. Falta a muito tempo, bem antes de começar a chover. Falta desde quando quem chorava era eu e não as nuvens. Faltou quando eu achei que tinha encontrado e depois percebi que perdi. Não estava quando eu pensei que estava por perto mas corria a milhas daqui. Faltou ontem, hoje e irá faltar amanhã. Esteve longe quando eu precisava junto. Distancia ensurdecedora gritando em minha vida. Não faz sentido algum e não quero que o faça. Não foi verdadeiro enquanto jurava e não foi pra valer em momento algum. O abraço não veio quando me senti só, o conforto era o próprio desconforto. Não há outras escolhas a serem feitas, o tempo já passou e os caminhos já estão molhados. Continuo caminhando, mesmo que sozinha a procura do meu arco-íris. Porque nada é pra sempre e uma hora essa chuva vai passar. A instabilidade na vaga existência do não ser. Preferiu estar lá do que aqui, talvez por lá esteja sol. Não há o que completar. O jeito é sentar e esperar a chuva passar. 




segunda-feira, 11 de março de 2013

O que eu penso sobre política

Quando eu era criança me disseram que não se discutia sobre política. Mas, infelizmente, tudo que fosse proibido soaria melhor que todo o resto, sempre foi assim. Perguntei o motivo e me informaram que era pra não deixar as pessoas chateadas ou com raiva. No dia seguinte me elegi representante de sala da minha terceira série do ensino fundamental. No almoço de família, quando contei a todos a novidade me parabenizaram e me perguntaram o porque eu optei por me prontificar a um cargo desses, respondi apenas que me disseram que não se fala de política então eu queria ser parte dela. Anos se passaram até que eu entendesse que realmente sou parte dela. Tirei meu título eleitoral no dia seguinte ao meu aniversário de 16 anos. Votei na primeira eleição que pude, conselheiro tutelar do meu pequeno município. O tempo correu como deveria e novamente eu vi a necessidade bater a minha porta. Novamente, representante de sala não só no primeiro ano do ensino médio como nos outros dois consecutivos. Nesse meio tempo veio uma eleição para presidente do país, a mais esperada. Analisei cada um dos candidatos, li o plano de governo e votei na Marina que não conseguiu disputar o segundo turno. Não fiquei chateada, muito menos magoada, parei e pensei nas opções possíveis e votei. Só não comprei brigas feias durante o período de eleições municipais porque meus pais pediram para que não o fizesse. Comecei a faculdade, e no segundo ano fui eleita representante de sala, novamente. Não fiz grandes coisas mas fiz tudo o que me foi possível e ainda estou correndo atrás de várias coisas apesar do meu tempo ter tecnicamente acabado. Fiz tudo o que eu achava que era necessário, ouvi as reclamações de cada parte, ouvi os elogios. Parei para prestar atenção no que as opções me ofereciam e consegui escolher o melhor dentre o que eu acreditava ser certo, sem opiniões nem mesmo da minha família, que me criou da melhor maneira política possível. Mas nada do que eu tenha presenciado ou visto por toda a vida havia se encaixado como eu sentia que deveria se encaixar. Eu nunca me tornei uma fanática que estuda toda a política do seu país e passa a vivenciá-la como se fosse um ministro. Eu apenas queria estar onde me coubesse e fazer tudo o que pudesse para os que me elegeram pois política para mim era isso, sem muitas togas e porcentagens de votos. E então, finalmente, depois de todo esse tempo eu vi a resposta a minha pergunta, feita a doze anos atrás. Porque não se fala sobre política? Porque o quanto menos se fala sobre algo, menos ele é difundido e menores são as chances dele chegar a o máximo de pessoas possíveis. Porque quando optamos por não falar de política impedimos que mais pessoas no país saibam porque pessoas como o Renan Calheiros são tão odiadas. Porque quando não falamos de política as pessoas param de entender o verdadeiro porquê das coisas, suas razões e funcionalidades. Porque quando deixamos de falar de política é mais fácil lotar o plenário de pessoas mais espertas que resolveram falar de política onde ninguém mais quis. Porque assim é mais fácil encher a cueca de dinheiro de gente que prefere não falar sobre isso. Mais tranquilo eleger as pessoas menos adeptas ao cargo estabelecido e caso a mídia venha a mostrar isso pro povo, se torna mais fácil fazer com que a reação deles sejam apenas petições on-line, reclamações no twitter e compartilhamentos do facebook. Informação plantada, alienação, manipulação, cultura. Chamem pelo que optarem em qualquer parte do mundo. A verdade é que, só não se fala sobre política caso você não se importe nem com você nem com qualquer pessoa que esteja a sua volta. 


quinta-feira, 7 de março de 2013

Só de ouvir a sua voz eu já me sinto bem

Deveras que a perca de hoje fosse apenas no mundo da música. Hoje perdeu-se um dos ícones mais expressivos da nossa geração. Poeta, crítico, músico. Sua falta será sentida pelo mundo afora, por toda a extensão onde esse céu azul brilhar. Eu ainda não estou acreditando, ou pelo menos gostaria de poder não acreditar. Logo eu, que vivia falando o quanto eu precisava ir a um show deles, hoje acordo e descubro que isso não será possível, nunca mais. Talvez seja porque eu, na verdade, nunca havia perdido um ídolo. Eu amava os Mamonas na época do acidente mas era nova demais para entender o que era a morte. Fui crescendo e aprendendo a ouvir a boa música e felizmente grande parte dos meus então ídolos já haviam me deixado. Mas agora, tudo é diferente. Passei o dia todo tentando evitar que as tristezas repentinas, que apareciam todo o tempo junto com a lembrança da notícia, acabassem com o meu dia. Difícil não perder um dia para aquele que te deu uma adolescência. Nunca fui do grupo descolado que assistia malhação, mas eu tinha o CD, e só Deus sabe o quanto eu curtia. Também nunca fui de ter preferidos. Ainda hoje me pediram para citar 3 filmes e olha, deu trabalho. Não tenho uma banda predileta. Gosto de ouvir tanta coisa que acaba sendo injusto ter que escolher um que significasse por todos. Mas, sem dúvidas, CBJR, estava entre os mais duradouros. É uma das poucas bandas que eu fiz questão de ter a discografia inteira, sem tirar nem pôr. É a banda que eu sempre coloco pra tocar quando a galera se reúne, eram as músicas que poderiam ser ouvidas todos os dias, seja qual fosse a situação. Chorão tinha esse dom absurdo de curar com as palavras, com o som. Som tão pouco valorizado enquanto era compreensível. Você merecia muito mais do que toda essa geração que chorou hoje por você. "Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo". Olha, não sei o quanto você amava seus fãs ou se sequer fazia questões deles, porque na real isso não importa, mas, uma coisa eu sei, você fez tudo de melhor que poderia ter feito para nós. Você nos deu ótimas canções, cheias de críticas, soluções e amor. Nos ensinou como é a política e a vida na real. Eu ainda não visitei Santos, mas tenho a cidade em minha mente perfeita em teus versos. Sei que algum dia, meus filhos vão ouvir essas músicas e eu vou lhes dizer o quanto esse cara era foda. Eu não ouvia todo santo dia. Mas ouvia muito, e vou continuar ouvindo. Cada uma das músicas traz a vida uma cor diferente, um tom de alegria, apesar de todos os pesares. Impossível não sentar numa roda com um violão e não cantar "Só os loucos sabem". Impossível falar do cenário musical brasileiro sem reconhecer a importância que essa banda teve. Duvido que exista alguma pessoa que não conheça, mesmo que sem saber, pelo menos um refrão de uma música deles. Era isso que os faziam tão incríveis enquanto eram: a magnitude que alcançavam, tanto em tempo de carreira, quanto em sucesso. Em cada momento da minha vida, sempre houve pelo uma canção que acompanhasse. Talvez a morte não pense muito bem na importância das pessoas, ou o quanto elas farão falta porque olha, hoje o Brasil acordou de luto.
"qualquer dúvida: espere até ouvir falar de nós"
Alexandre Magno Abrão, descace em paz. 


sábado, 2 de março de 2013

Alice

Acordar sem querer, sentir-se bem como nunca havia sentido antes. Um único sonho que pareceu durar tão pouco agora era motivo da felicidade de todo o resto do mês. Foi como uma recordação, tão feliz que chegava a ser doce. Sentados em um lugar calmo e fresco, apenas nos olhando nos olhos como se não houvesse amanhã. Seus olhos eram tudo que eu queria ver por toda a minha vida. Meu porto seguro. Te abraçar, sentir. Não era esse mundo, era outro, distante, doce e puro. Como se não houvesse mais nada na terra além de nós e nosso amor. Pacato, sem mal algum apenas por deixar viver. Era próximo e perfeito, era nosso. É difícil me lembrar enquanto estou acordada, presa a este mundo, a realidade. Dormir, querer dormir pra sempre. Impossível conceber tamanha felicidade aqui, nesse lugar cheio de caos e problemas. Será que realmente aconteceu? Meu cérebro não colabora, e não sei se realmente quero voltar a vivenciar isso. É distante de tão contente e sucinto. Medido, único, era amor e era nosso, nosso amor. Único e verdadeiro. Tanto tempo que sonho e praticamente não me lembro em realizar. Talvez, na verdade, nada disso aconteceu.