quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Catorze

Como boa moradora de cidade pequenininha, tão pequena que quase não é cidade, eu aprendi desde cedo todas as tradições e mandingas da vida, principalmente as de fim de ano. De tudo que eu aprendi talvez a que seja mais disseminada pelo mundo é a obrigatoriedade em se fazer promessas que em grande maioria, não serão cumpridas. Eu prometi um monte de coisa pra 2014 e também achava que ele prometia muita coisa pra mim. Mas, se tem uma coisa que ficou bem clara esse ano é que nada muda ou acontece se você não se mexer. Ah que ano complicado. Ano de finalizações, percas, dor e muita saudade. Foi nesse período de doze meses que eu aprendi que a única coisa que você pode fazer a favor de você mesmo é seguir em frente. Ano de conquistas, e de felicidades gigantes. Também não serei hipócrita a ponto de querer queimar esse pobre ano vivo. Muitas realizações marcaram a minha vida neste período, e tanto tenho a agradecer. Eu pedi que meu 2014 fosse lindo assim como 2013 e ele conseguiu ser muito melhor. Adoro cada uma das dificuldades que passei pois, foi através delas que eu cresci tanto e posso contar a vocês o quanto eu sou uma pessoa feliz. Decidi isso no fim de 2012, que a felicidade era o novo carro chefe da minha vida e assim foi e é. Eu não vou desistir mais, nunca mais. Mesmo com todos os tropeços eu conheci pessoas maravilhosas que completaram a minha vida e me fizeram e fazem um ser humano melhor. Eu prometi que ia escrever mais, que voltaria pra academia e que levaria meu regime a sério, não cumpri nenhuma delas. Mas, ainda sim este ano me abriu os braços e me deu certezas que me fizeram continuar. Aprendi também a ser grata, porque a vida em si já é o maior presente que podemos ganhar. Obrigada por tudo catorze, descanse em paz e que esse quinze que tá vindo venha muito mais bonito que todos os outros. 


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Opostos

Alguns extremos surpreendem mais que os outros. Eu por exemplo sou um deles. Sou o completo exemplo de bipolaridade e hipocrisia unidas. Os que me conhecem, sabem sobre os extremos que vos conto. Semana passada eu gostava de cozinhar, hoje resolvi lutar com a fome por preguiça de ir a cozinha. Não, não é tudo superficial assim afinal, extrema que sou também tenho minhas profundezas. Sei que hoje aparento, e talvez eu realmente seja, uma pessoa verdadeiramente feliz. Aproveito esse trecho pra voltar a minha inconstância e me assegurar no fato de que a definição de felicidade depende de quem interpreta. Alguns podem até dizer que eu sorrio atoa, e que pouca coisa me abala mas, a verdade é que tantas coisas me abalam ao mesmo tempo que eu não consigo reagir a nenhuma delas. Eu só absorvo e evaporo, tal como uma planta que você pode cultivar no seu jardim ou observar no parque. Gostaria de ressaltar também que pouco tenho a me explicar por aqui. Todas essas letras não são muito além da minha confusão particular, expressadas em linhas de escrita regular. Não tenho remetente a quem endereçar, e pouco posso querer enviar a alguém. Eu que hoje sorrio para as pessoas na rua, não é por felicidade comum encontrada na superfície. Desvendei cavernas à procura dela. Passei por lugares tão escuros que dificilmente alguma coisa seria capaz de iluminar. Ninguém sabe ao certo o motivo, ou se pelo menos existe algum, mas a verdade é que instável que sou eu talvez tenha decidido apenas olhar para trás. E em cinco minutos um sopro de vida roeu-me a alma, e eu decidi que ia voltar. Repentinamente tal como todo o restante da minha vida e de tudo que faço, em um momento sou, no outro eu nem existo. Calada alma vazia que pouco sabe onde quer ficar. Ter a certeza de algo talvez seja uma das coisas que mais nos torna humanos. Sentir a verdade se concretizar em suas veias. Sim, eu conheço a sensação mas, instável como sou aproveitei dela por milésimos de segundos antes de abandoná-la.



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Matiz expansivo

Carolina tinha pouco mais que vinte anos de idade, alguns motivos pra sorrir e um milhão de histórias pra contar. Amava o amanhecer. Aquele pequeno período do dia onde sempre é nublado e o clima úmido começa a refletir os primeiros raios de sol. Gostava tanto, de tantas coisas, que era difícil imaginar que ela se chateasse um dia. Amava quando o tempo ficava nublado e jurava que conseguia ver alegria naquele céu cinza. Vivia de música alternativa e gostava de sabores agridoce. Carolina gostava de almoçar com a sua avó no domingo, e poder ver o pôr do sol, com o seu pai, ouvindo a transmissão de um algum jogo de futebol pelo rádio à pilhas AM. Havia apenas uma coisa que ela gostava mais do que qualquer outra coisa: a cor amarelo. Preferia tudo que tivesse amarelo: margaridas, camomilas, bananas, milho. Sol, felicidade, alegria e entusiasmo. Essa simples coloração, cor-pigmento primária e cor-luz secundária. O mais expansivo dos matizes e mais atrativo aos olhos humanos. É, deve ser exatamente por isso: atração. Nada explicaria melhor a vida de Carolina se não a atração. Tinha o dom de atrair e ser atraída. Queria por obrigação ser e estar sempre próxima a alguém ou alguma coisa. Necessidade vital a de estar sempre, de uma forma ou outra, envolvida com algo que continuasse a motivar sua vida. Precisava disso como qualquer outro dependente químico precise. Dependia quimicamente da sensação de pertencer, atrair. Se encontrava e se explicava pelas obras impressionistas de Van Gogh pois, assim como ele tinha uma vida carregada de fracassos, e ambos gostavam muito de amarelo. Ela sempre falhava, não importa a tarefa que lhe foi dada. E, mesmo assim nunca se cansou de pensar que amanhã o dia poderia amanhecer nublado, e ela sairia com seu vestido amarelo que pouco combina com o seu tom de pele e mesmo assim ela sempre insiste em usar. O dia poderia amanhecer nublado, e mesmo assim as coisas dariam certo.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Jackie O'clock

Já faz um tempo que estou por aqui, esperando. Faz uma dúzia que eu não sei bem se quero. Eu não quero muito a não ser ir pra casa. Faz um tempo que estou aqui. Na verdade já completei três longas horas de espera. Estava aguardando pra ver se eu conseguiria me salvar. Mais uma vez eu não consegui, o vento me levou embora. Só eu sei a tristeza e raiva que se aglomeram dentro de mim. São tantos, inúmeros, versos de um amor floral. Não. Parem todas essas músicas e laços, tirem esse lilás da minha vida, eu não quero girar em um carrossel. Como é possível se perder em tão pouco tempo,  em tão mísero espaço? Sinto como se tudo o que eu sou e fui se desmanchasse em fuligem e voasse o mais rápido possível. Em um segundo sou eu, no outro poeira. Em uma semana eu chamo uma empregada, na próxima troco toda a solidão por poesia. Não precisava, não quero, não dá. Tirem de mim essa necessidade incabível. Não deu, não foi, já não era antes, porque sofrer agora? Eu choraria se ainda tivesse catorze anos, poucos problemas e tanto tempo de sobra. Sabe qual é o verdadeiro problema? Não importa o quanto eu reclame, ou grite, ou morra, nada muda algo que não existe. Nada traz de volta algo que nunca foi seu. O problema é deixar-se perder em uma trilha conhecida. Não, não tome esse atalho, eu prefiro continuar esperando. Ficarei por aqui por mais duas horas, até o próximo ônibus partir, ou pelo menos até que eu tenha coragem para lidar com esse tipo de sentimento novamente. Saudades incabíveis de duras ilusões. Mas, se você for contar de verdade não faz tanto tempo assim, leve em consideração que aqui somamos o fato de que de uma forma ou de outra, eu já espero desde o dia em que nasci. 


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Não amo ninguém

De todas as explicações que eu não preciso dar talvez a principal delas seja esta. Alguns me questionaram sobre meu blog e sobre os textos que aqui publico. Pois bem, assim como me perguntaram "e essas coisas coisas que você escreve?" é exatamente essa a resposta que tenho: são as coisas que eu escrevo. Não vou mentir dizendo que é tudo balela pois, de uma forma ou de outra, todos os textos saem das minhas mãos mas, não é devido a isso que todos eles são desabafos. Eu escrevo o que eu sinto e não é porque eu conto sobre um amor que estou amando. Apenas conto as histórias que chegam a mim e infelizmente não sou a protagonista de todas elas. Apenas me ocupo de dar vida e sentido as palavras, deixar que os dedos falem. Gosto muito de uma frase da minha Lispector que dizia: "a palavra é o meu domínio sobre o mundo". Pois bem, é exatamente isso. Cada uma dessas linhas tortas que aqui ficam não possuem nenhum contexto certo, são apenas resultado da minha maneira de lidar com as coisas. Eu gosto de observar as pessoas ao meu redor e imaginar como cada uma delas seria feliz, e é assim que muitos dos meus contos nascem. Não que eu precise me explicar pra ninguém, mas é que assim como todas as outras palavras, essas me sufocaram. Eu não escrevo pra pedir socorro, escrevo para me socorrer. Não recebo rosas uma vez ao mês, seja lá a quem interessar. E que fique claro que eu também não estou a procura de absolutamente nada. Aprendi também que procurar, seja lá o que for, é sempre perca de tempo afinal de algum jeito tudo o que for seu consegue te encontrar. Não que eu me importe com algo, mas é que eu me preocupei em me cercar de amor e é por isso que falo tanto nele. 
Obrigada, de nada. 

sábado, 6 de dezembro de 2014

Janaína gosta de vinho

Qual o verdadeiro problema em admitir alguma realidade? Desculpe mas não precisa ser doce a ponto de causar enxaqueca, ou náusea. Não precisa e não deveria, tal como eles não precisavam um do outro. Mas aí eles se conheceram, e pela primeira vez na vida todinha as coisas davam certo. Não importa o que acontecesse durante todo o complicado dia, quando chegasse a noite eles seriam propriedades deles. Ninguém precisava saber. O mundo era eles dentro daquele limitado espaço. Bagunçar o pouco cabelo dele dava uma sensação de felicidade tão prazerosa que ela poderia passar vidas assim. Sim, por que não? O sorriso dela era a motivação da vida dele e eles nunca precisaram se excluir do mundo. Na verdade era todo um trabalho de inclusão. Juntos eles faziam parte do todo, e o tudo pertencia a eles. Todos os problemas se tornavam simples peças de encaixe manual. As respostas para as complicações eram automáticas e fáceis. Ela não queria que durasse pra sempre, mas queria poder olhar pra queles olhos pequenos todos os dias, sem interrupções. Ele queria poder ser dela sem abrir mão de todo o resto. De todas as coisas que possuíam em comum, uma era a mais nítida: o amor que ambos possuíam pelas suas liberdades individuais. Eram incomensuravelmente livres e amavam tanto isso que se esqueciam da possibilidade de existir outro amor. Contavam histórias para eles mesmos todos os dias, para que acreditassem que tudo acabaria se fosse diferente mas, afinal, por que teria de ser diferente? Ambos eram felizes juntos e não se importavam de se separar se pudessem se ver uma vez ao dia. E foi assim que acharam sua entrada para a felicidade: Se amavam sem dependência. Se encontraram em seus poréns, fizeram motivos. Não era amor, nem cilada. Era só felicidade mesmo, alegria em estar junto.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Medidas

Por um milésimo de segundos sentiu seu olho gelar e percebeu que dois milímetros cúbicos a mais e ela se derramaria aos prantos. Parou e deu meia volta, já se fazem anos que ela não volta por ali. Tinha decidido se proibir de chorar depois que aprendeu a sorrir. Realizou as somatórias e percebeu que era mais proveitoso que se enchesse de alegrias. Já tinha acumulado alguns meses que não chorava. Provou o gosto de ser alguém e ter alguém e a partir daí resolveu que era uma pessoa feliz. Sabia exatamente como era sentir a felicidade esquentar todo o corpo e repuxar as bochechas. Sabia o que era ter os olhos pequenos e mais brilhantes que uma estrela. Gostava de tudo aquilo, a vida finalmente era prazerosa o suficiente para você se viciar nela. Aquele momento que você deixa que os ventos te levem para onde for melhor, pra onde for. Decidiu que não precisava de mais nada. Era ela, ele e seu universo cheio de poréns. Ninguém deveria se importar mais do que eles, nada deve importar mais que ele. Algumas soluções são mais simples do que os problemas que as pedem. Ela tomou medida do seu coração e percebeu que caberia os dois. Não há muito o que fazer quando os números não metem. 


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Sobre percas e ganhos

E quando eu vi já não era mais uma cilada, estava mais pra emboscada, aquele velho e conhecido caminho sem volta. Quando dei por mim eu já não pertencia, esperava complacente pelos meus dias, apenas e exclusivamente para que pudesse passá-los com você. E quando fiz as contas, perdi o controle. Passaram as taxas, sobrou multiplicações e faltava companhia. E quando eu quis voltar, você me deu outros dez motivos pra continuar. Eu queria olhar pela janela e ver algo além de um horizonte verde reluzente. Eu queria ser mais segura, e me pertencer antes de me doar aos outros. Eu queria um tempo pra mim, alguns meses onde minha vida seria minha e nada caberia nela a não ser a minha felicidade. E quando dei por mim, tudo o que me deixava feliz estava reunido em um único ponto. Meu ponto fraco. Eu nunca imaginaria me perder de novo por um caminho tão diferente. Eu não quero ir por aí. Não trouxe botas para trilha. E quando eu pensei em parar, a queda já era livre, e tudo que eu podia sentir é o quanto me arrependia de ter te conhecido. Quando eu percebi já tinha ciúmes, encrenca, dependência. Você já era o meu dono e mal tínhamos acertado o preço. Eu me vendi sem perceber, e não há nada de saudável nisso. Troquei minha paz por companhia e por mais que eu tente me odiar por isso sei que eu nunca me perdoaria se tivesse me privado dessa bobeira de tentar ser feliz.  


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Anagrama

Desculpa te ligar assim tão tarde, desculpa por deixar essa mensagem, desculpa principalmente pelas coisas que eu ainda não disse. Peço perdão pelos dias em que eu não me deixei, os momentos nos quais me aprisionei, fechei todas as entradas e escolhi viver vazia. Perdoe meus outros erros. Deus! São tantos! Tão pouco me conheceria se não fossem todos eles. Eu sei que algumas das palavras ainda estão desconexas e que pouco posso fazer para ajudá-lo mas, é que a verdade é essa mesmo. Uma vida como todas as outras: pôr-do-sol e injustiça. Eu queria que as coisas fossem mais separadas. Que os sentimentos, em especial, pudessem ser guardados em potinhos etiquetados. Queria que fosse possível escolher, porque hoje será um dia de felicidade. Deixo o domingo pra me reprimir, e nas segundas uso apenas a força de vontade de esperar pelo amanhã. Todas as coisas que estão por vir. Sim. Todas e cada uma delas. Delicados detalhes de uma vida não finalizada. Pontos e vírgulas se confundem e pouco posso ler nessas tortas linhas. Talvez se a música estivesse mais baixa, eu pudesse ouvir sua voz mais claramente. Não que eu queria, mas desde que nos conhecemos têm sido assim: tenho chance de opinar por pouca coisa. Me desculpe novamente por decidir pedir perdão de tudo. Sim, eu fui fraca demais para assumir essa culpa. Livro-me dos erros de colocação verbal, e de todas as vezes que deixei que me chamasse de sua. Exclamações não serão mais necessárias, decidi abolir as interrogações. Chega de tremas, reticências, circunflexo. Eu quero retas e claras linhas azuis, pautando uma nova página em branco. Quero escrever uma carta sem remetente, assim como essa. Quero contar as pessoas que o mundo é bonito, você só precisa olhar pela janela. Quero poder ligar na madrugada sem precisar me perdoar. Quero parar de implorar para que o mundo perdoe o pouco de acerto que tenho em minha vida. Contra todas as chances, eu fico com o futuro imperfeito. 


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Change

E quando você percebe que todo o desespero na verdade é calmaria. Não tem nada de errado e seu coração insiste em te afligir. Deixe que as pessoas falem até que suas línguas caíam no chão e sejam dadas como mortas. Eu pouquíssimo tenho a me preocupar. Tenho umas verdades na bolsa, pouca idade, saudade de sobra e muita história pra contar. Tenho também um coração novo, corado e bem disposto às coisas que ele deveria enfrentar. E que se dane todos os contos perfeitos e histórias surreais de felicidades tóxicas. Eu quero o lado puro, a sensação em troco da emoção. Quero sorrisos mais baratos e felicidades mais fáceis. Pouco me importa o que tiver que pagar. Sei que o pedido não condiz mas acho que os ventos pedem por mudança. E se for agora? Assim? Que seja! É quando as perguntas começam a sessar e as respostas são tantas que chegam a sufocar. Você quer espaço então para de procurar, porque na verdade não quer olhar pro lado e saber que já encontrou. Algumas certezas só nos deixam mais perto de estarmos errados mas, também nos deixa mais perto de um acerto. Tudo bem que eu venho tendo muita sorte e que isso não é comum mas que se dane também, vou aproveitar o que fizer bem. Pouco me importo com as consequências que virão nessa sequência. É necessário se libertar de vez em quando. Deixar que sua vida crie voz e grite na sua cara coisas que você nunca imaginou. São tempos de sonhos, desejo por mudança. E que seja então, leve e pacífica. 


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sobre as eleições

Não eu não tenho vergonha de ter ido às ruas a pouco mais de um ano atrás. Eu sei que acreditava no que eu queria e agora acredito mais ainda. Não fomos suficientes, somos alguns daqueles 1% que sobraram na contagem e não cederam as grandes massas. Pode ser um por cento, mas foram mais de um milhão de votos. Não, não foi o esperado, deveriam ter pelo menos outro milhão ali e mesmo assim eu acredito. Eu acredito que um dia esse 1 vai virar 10 e continuar a crescer não importando quantos anos demore. Eu luto por um Brasil melhor e eu não tenho preguiça diante dos montantes de votos. Sim, meus pais me deram uma concepção política muito embasada em fatos, e eu só tenho a agradecer por isso. Não é o que vai ganhar mas sim o que tiver o melhor plano pro mandato. Sim, eu li os que me interessavam e só escolhi depois de comparar muito. Não vou me ater a declarar que esse texto é composto de uma opinião própria e particular. A melhor proposta não foi pro segundo turno e de certa forma já era de se esperar já que sofremos com desacordos desde o início das manifestações. Não vou mentir o quão frustrada estou. Sim, eu esperava que mais pessoas acreditassem, assim como acreditaram um ano atrás. Pouco posso fazer sobre a vontade alheia mas, a minha vontade eu sei qual é, eu ainda acredito e não vou parar nem agora e nem daqui a quatro anos. Meus filhos vão aprender a pensar sobre política e espero ver meus netos escolhendo o seu voto de forma sensata. Quero ver o meu país desenvolver todo o seu potencial e assumir seu lugar no mundo. Não quero saber quanto tempo vai demorar e nem se isso realmente vai acontecer. O que eu posso fazer é a minha parte e ela, meus caros amigos, eu sempre fiz.  

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Queda livre

E quanto mais você tenta se conectar mais distante as coisas ficam. Algumas solidões são bem mais insolúveis que as outras. Clarice já se deparou sozinha no meio de um dúzia de amigos por bem mais que uma vez. Sentia quase sempre a aflição de ser ausente. Uma sensação improvável que atordoa qualquer um dos sentimentos. Porque tinha que ser assim? Quanto mais saudade sentia mais longe ficava e muito mais demoraria até que o fim chegasse. Era raso e úmido, pouco mais poderia se concluir sobre aquele local. Tão apertado quanto um armário no fim do corredor. É muito mais complicado do que poderia ser. Ela sempre procurou ajuda aqui por perto mas, em poucas vezes chegou a encontrar. É um pouco daquilo tudo que não se pode ser feito ou se quer resolvido. É amargo e nunca fez nenhum bem a sociedade. Mas era algo que fazia parte dela, um azar que vinha do berço. Carregava consigo essa maldição em depender de tudo que não poderia. E, principalmente, de pessoas. Se preocupava mais com os outros do que com si mesma, e se perdia, constantemente em cuidar dos outros. O mais estranho, entretanto era o como não conseguia decidir se amava ou odiava seu pequeno dom torto. No fim das contas, não fazia nada muito além de amar demasiadamente. Amava tanto que sofria cada um dos minutos que perdia. Sofria por todo o tempo em que não podia estar junto, perdera outros dos minutos mais especiais de sua vida. Se arrependia décadas antes de concretizar o tal feito. Gostava de se sentir errada para poder entender sua alegria. 



domingo, 7 de setembro de 2014

Sobre dós, e rés.

É estranho como as coisas têm o poder de simplesmente acontecer, quer você queira ou não. Assim como é incrível a forma como certas coisas nos afetam sem que ao menos seja plausível. Eu não o conhecia, não além de algumas histórias engraçadas, daquelas que a gente conta em noites quentes de quinta feira. Ninguém poderia evitar, assim como eu também não pude. Sentir-se de mãos atadas diante de uma situação como essa já é algo extremamente sufocante, agora imagine como é quando você sabe exatamente como é o outro lado. Não é bonito, nunca foi. Um completo mix de tudo que existe de frio e triste no mundo. Um acúmulo de solidão inconcebível e desnorteante. E como se já não bastasse toda a infelicidade reunida ainda vêm o vazio de saber que poderia ter sido diferente. E se estivesse chovendo? Talvez as gotas de chuva inspirassem algo parecido com um pôr-do-sol. Talvez uma música que tocava na rádio da cidade, ou um cachorro que brinca com todos que passam pela rua. Só eu sei a sorte que tive em conseguir passar por tudo isso sem me afogar. Sim, sorte. Pura e absolutamente sorte. Vai bem além de força e qualquer outra palavra de incentivo. É um buraco negro dentro de você que te suga e prende num infinito úmido e solitário. Eu consegui passar por lá, e além disso ainda consegui viver. Sim, pra viver é necessário tentar. Não existe forma cabível de se viver se você não realizar efetivamente essa tarefa. Não existe receita para isso, apenas a certeza que em algum momento você vai olhar pra cima e simplesmente se sentirá grato por tudo que você possui e tudo que está ao seu redor. Aquele milésimo de segundo que você para e vê que você tem os melhores amigos do mundo, e que talvez você esteja na melhor festa do mundo porque afinal você está ali. É um toque na sua vida, um click que te faz acreditar que não importa quantos problemas você tenha, a vida é bem maior que isso.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Ponta

Acordava quase sempre as nove. Assim, quase sempre porque era quando dormia. Preferia que não o fizesse. Tinha medo de perder um segundo de vida que fosse. Vivia por tentar segurar a vida com as mãos, trazer na ponta dos dedos tudo que a cercava. À dias que não se importava muito. Tinha decidido parar de se importar, apesar de não conseguir. Não era por falta de coragem, na verdade era meio que um excesso. Sobrava coragem para saber com aquela certeza que gelava a alma, de o ponto final bateria na porta. Cortaria todos os sentimentos se pudesse. Separaria seu ser de tudo que a tornava humana. Rasgava seus dias como quem não quisesse pensar em juntar os pedaços. Aguardava ansiosamente pelo momento onde algum cientista do outro lado do mundo anunciasse que já era possível congelar momentos de sua vida. Assim quem sabe ela poderia perder outras inúmeras tardes com o sono que ela não dormiu a noite. Todos os pensamentos vagantes que lhe rendiam a cefaleia que teoricamente foi herdada do pai. Esperava com ânsia de sair. Saltar de paraquedas. Queria trazer tudo e todos para dentro do seu peito, assim como trazia facilmente a solidão de cada despedida. Em pequenas gotas de veneno sobre a ferida aberta ela tentava, relutante, dizer a si mesma que tudo estava bem como sempre foi. O problema é que não estava bem. Sentir saudades é algo comum mas, sentir saudades de algo que você ainda não perdeu é angustiante e um completo martírio. Não aprendeu a se despedir. Sempre existiram apenas duas coisas das quais ela nunca aprenderia: como ser delicada e como dizer adeus. Sempre aprendeu bem tudo que lhe foi ensinado, e sempre possuiu uma ânsia de conhecer que não era plausível. Chorava, e muito. Todos os dias. Já ouviu dizer que as pessoas mais sorridentes são as mais tristes? Sentia falta de quando a vida ainda tentava lhe enganar fingindo ser doce ou fácil. Nada seria fácil. Estou tentando ajudá-la a algum tempo mas parece que ainda não conseguiram encapsular abraços ou drenar saudade. 


domingo, 3 de agosto de 2014

Saudade

Não era e nunca chegou a ser nada além do que um amontoado de coisas inconcebíveis a olho nu. Um grupo de histórias facilmente dadas como impossíveis. Você saberia se vivesse tudo isso que eu conto. Risadas intermináveis e uma única sensação de felicidade na face mais pura. Algo que só é possível de se saber depois de se sentir. Uma única certeza de saber que aquele momento é o melhor da sua vida e nunca mais você se sentirá melhor que isso e ainda assim, se sentir bem. Não era amizade, nunca foi. Era algo bem mais que isso. Uma conexão estabelecida com um tom tão alto de intimidade que era surpresa a forma como dava tão certo. Talvez seja bem por isso mesmo que sempre foi tão bom: a liberdade sempre guiou cada uma daquelas vidas. De uma forma ou outra, seja qual fosse, a liberdade guiava e tomou o cuidado para que fosse da melhor forma possível. Tanta coisa errada que nunca fez nada além de dar certo. Eles confiaram em si, e em cada um dos outros como se nada na vida importasse. Queria eu que fosse padrão para todo ser humano existente. Talvez, se fosse possível garantir um minuto de tudo aquilo para todos, nunca mais houvesse guerras ou se quer motivos para brigar. Cada uma daquelas histórias e passados se encaixaram formando uma harmonia jamais vista. Eu dificilmente acreditaria naquela convivência se não tivesse visto em algumas vezes como ela acontecia fácil e delicadamente. Não eram nada além de jovens com sede de viver. Você pode sentir o poder que isso dá a eles só de ler, não? E era bem mais que isso. Nada que eu consiga explicar com palavras. O único problema era não conseguir congelar aqueles momentos. Sintetizá-los em pequenas garrafinhas pra guardar na estante e mostrar pra quem quiser ver, como ser feliz é na verdade. Não escrevo pra medir nada. Nem pra esfregar na cara de alguém. É uma sensação de querer que as pessoas saibam que isso existe, e que em geral, fica bem mais próximo do que elas imaginam. Jamais teria sido tão perfeito se não fosse aqueles, eles, ali. 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Alto mar

Ela vem sempre calma, e aumenta até você não poder carregar. Pessoas que já visitaram os mesmos lugares que eu, devem saber o quão sufocante uma vida sob os ombros se torna. Eu perco o controle fácil e quando percebo estou indo de frente a uma parede bem grossa de ferro e cimento. Não é do tipo de coisa que podemos prever, a gente apenas se perde pelo caminho lindo que a vida te traz, e, quando damos por si estamos em queda livre. Despencando no ápice da palavra. Um dos passos mais importantes para se viver é entender que é a vida quem te controla e não o contrário. Como não deixar que isso saia do controle? Prometo que volto a lhe escrever quando souber sobre isso. Em certos momentos é meio impossível continuar remando. Você apenas para à deriva e deixa que a vida te leve, porque se afundar mais dois centímetros é afogamento. Nada faz sentido e você percebe que é necessário criar um novo sentido. Ninguém disse que a travessia seria segura. Nem ao menos me disseram se é possível mudar de barco durante o trajeto. E se tudo se resumisse em abraçar alguém que lhe faz bem por cinco minutos? Em vários momentos um abraço pára toda uma tempestade. Eu gostaria que toda a água que corresse meu rosto fosse salgada de mar, não de choro e, mesmo quando for necessário chorar que seja por alguma dor, e não por esse vazio frio que gela a alma e atormenta. Até as rochas mais altas viram areia em algum momento e os faróis não se acendem já tem algum tempo. 


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Somos da mesma família

É, não é a temática do blog mas eu já abri a excessão uma vez e realmente achei necessário fazê-la novamente. Pois é, finalmente eu assisti Rio 2 quer dizer, assistir não é uma boa palavra, me maravilhei! Não é possível descrever essa obra de outra forma. Sim, é uma animação mas quando você consegue sentir orgulho das cenas que se passam em frente os seus olhos é sinal de que o mundo precisa saber disso também. Blue agora sabe voar e tem mais do que o ar correndo pelas asas, a família cresceu e três lindos herdeiros nascidos do amor com Jade prometem aprontar várias. Após descobrir sobre a possibilidade de que eles não são os únicos da espécie, a família azul juntamente com seus amigos, resolve visitar a Amazônia. Uma aventura repleta de emoção e cores, tudo feito com o toque brasileiro em cada detalhe. É possível se enxergar viajando junto com as passagens por algumas cidades brasileiras e principalmente na selva amazônica com toda sua exuberância em cores. Seguindo o padrão do primeiro filme, onde o vilão traficava animais, Blue agora precisa lutar contra a maldade do desmatamento ilegal. Impossível não se emocionar com a disputa entre as araras azuis e vermelhas que lembram muito a tradicional disputa entre os bois-bumbás Garantido e Caprichoso de Parintins que, além de ser um espetáculo a parte, a "disputa" ainda é feita através de um futebol maroto, pra dar aquela abrasileirada bonita de se ver. O sotaque, gírias, cores e musicalidade trabalham em perfeita harmonia em cada cena. É lindo, é Brasil. Eu tenho muito orgulho de saber que esse filme rodou o mundo com toda essa qualidade. Mais uma vez parabéns ao Carlos Saldanha que nos encanta cada vez mais com tanto talento. 
Que venha o 3!


terça-feira, 24 de junho de 2014

A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem NÃO quer

Às vezes me flagro imaginando um homem hipotético que descreva assim a mulher dos seus sonhos:
Ela tem que trabalhar e estudar muito, ter uma caixa de e-mails sempre lotada. Os pés devem ter calos e bolhas porque ela anda muito com sapatos de salto, pra lá e pra cá. Ela deve ser independente e fazer o que ela bem entende com o próprio salário: comprar uma bolsa cara, doar para um projeto social, fazer uma viagem sozinha pelo leste europeu. Precisa dirigir bem e entender de imposto de renda. Cozinhar? Não precisa! Tem um certo charme em errar até no arroz. Não precisa ser sarada, porque não dá tempo de fazer tudo o que ela faz e malhar. Mas acima de tudo: ela tem que ser segura de si e não querer depender de mim, nem de ninguém.
Pois é. Ainda não ouvi esse discurso de nenhum homem. Nem mesmo parte dele. Vai ver que é por isso que estou solteira aqui, na luta. O fato é que eu venho pensando nisso. Na incrível dissonância entre a criação que nós, meninas e jovens mulheres, recebemos e a expectativa da maioria dos meninos, jovens homens, homens e velhos homens. O que nossos pais esperam de nós? O que nós esperamos de nós? E o que eles esperam de nós? Somos a geração que foi criada para ganhar o mundo. Incentivadas a estudar, trabalhar, viajar e, acima de tudo, construir a nossa independência. Os poucos bolos que fiz na vida nunca fizeram os olhos da minha mãe brilhar como as provas com notas 10. Os dias em que me arrumei de forma impecável para sair nunca estamparam no rosto do meu pai um sorriso orgulhoso como o que ele deu quando entrei no mestrado. Quando resolvi fazer um breve curso de noções de gastronomia meus pais acharam bacana. Mas quando resolvi fazer um breve curso de língua e civilização francesa na Sorbonne eles inflaram o peito como pombos. Não tivemos aula de corte e costura. Não aprendemos a rechear um lagarto. Não nos chamaram pra trocar fralda de um priminho. Não nos explicaram a diferença entre alvejante e água sanitária. Exatamente como aconteceu com os meninos da nossa geração. Mas nos ensinaram esportes. Nos fizeram aprender inglês. Aprender a dirigir. Aprender a construir um bom currículo. A trabalhar sem medo e a investir nosso dinheiro. Exatamente como aconteceu com os meninos da nossa geração. Mas, escuta, alguém lembrou de avisar os tais meninos que nós seríamos assim? Que nós disputaríamos as vagas de emprego com eles? Que nós iríamos querer jantar fora, ao invés de preparar o jantar? Que nós iríamos gostar de cerveja, whisky, futebol e UFC? Que a gente não ia ter saco pra ficar dando muita satisfação? Que nós seríamos criadas para encontrar a felicidade na liberdade e o pavor na submissão? Aí, a gente, com nossa camisa social que amassou no fim do dia, nossa bolsa pesada, celular apitando os 26 novos e-mails, amigas nos esperando para jantar, carro sem lavar, 4 reuniões marcadas para amanhã, se pergunta “que raio de cara vai me querer?”.
Talvez se eu fosse mais delicada… Não falasse palavrão. Não tivesse subordinados. Não dirigisse sozinha à noite sem medo. Talvez se eu aparentasse fragilidade. Talvez se dissesse que não me importo em lavar cuecas. Talvez…
Mas não. Essas não somos nós. Nós queremos um companheiro, lado a lado, de igual pra igual. Muitas de nós sonham com filhos. Mas não só com eles. Nós queremos fazer um risoto. Mas vamos querer morrer se ganharmos um liquidificador de aniversário. Nós queremos contar como foi nosso dia. Mas não vamos admitir que alguém questione nossa rotina. O fato é: quem foi educado para nos querer? Quem é seguro o bastante para amar uma mulher que voa? Quem está disposto a nos fazer querer pousar ao seu lado no fim do dia? Quem entende que deitar no seu peito é nossa forma de pedir colo? E que às vezes nós vamos precisar do seu colo e às vezes só vamos querer companhia pra um vinho? Que somos a geração da parceria e não da dependência? E não estou aqui, num discurso inflamado, culpando os homens. Não. A culpa não é exatamente deles. É da sociedade como um todo. Da criação equivocada. Da imagem que ainda é vendida da mulher. Dos pais que criam filhas para o mundo, mas querem noras que vivam em função da família. No fim das contas a gente não é nada do que o inconsciente coletivo espera de uma mulher. E o melhor: nem queremos ser. Que fique claro, nós não vamos andar para trás. Então vai ser essa mentalidade que vai ter que andar para frente. Nós já nos abrimos pra ganhar o mundo. Agora é o mundo tem que se virar pra ganhar a gente de volta.

Por Ruth Manus


domingo, 22 de junho de 2014

Duas noites

O Sol dorme tranqüilo enquanto inquieto um coração se revira em um peito. Em duas noites pensa esse coração: uma que logo foi, e uma que não se demora. A noite anterior foi a noite do amor passado, a noite da reconquista, com ocaso de velhas expectativas e do alvorecer com promessa de epílogo. A noite por vir tem cheiro de prefácio, livro novo, que se manuseia, cheira as páginas, folheia e passa o olho pelo índice. O coração sabe que na noite por vir nada será o que se espera. Será o inesperado superestimado? O coração deveria passar mais tempo revendo o que já viu, a noite que passou, e se decidir logo. Ponderar é perdoar? Quando vemos um sentimento ali perto, e não ousamos olhar para ele, que temos medo? Que ele nos olhe de volta? 
Com alegria sacrificaria cem dias de luz para manter viva a chama da noite que passou. Foi uma noite quente, com cheiro de perfume no ar. Não havia muito o que dizer, as palavras são criados infiéis. Certos assuntos não devem ser tratados com a interpelação dos ouvidos, mas diretamente pelas bocas. O assunto foi longo, e foi um só: aquela noite deveria se estender, mas o tempo urge, e o dia cega. Qualquer tratativa noturna queimará rapidamente na manhã vindoura. 
A noite por vir, como um príncipe recém nascido, não faz idéia do dever e missão que a aguarda. Não se pode exigir que uma noite valha por duas, afinal, ela é a metade de um dia que não se adia. Virá quente, como aquela outra, ou será fria? Terá perfume? Se passada não se abstrai conclusões, quiçá por antecipação elas viriam. Quando o dia vier, e empurrar a noite por vir para debaixo de um risco em um calendário, o que nela foi edificado suportará o sol, as chuvas, e quantos mais inimigos a ela se oporem? Difícil saber. 
Qual noite me prenderá? Outrora me disseram: Se tens dois amores, vá com o segundo, que se o primeiro fosse verdadeiro, o segundo não seria cogitado. É verdade? Não se pode comparar Vênus e Netuno. Também não sei comparar meus sentimentos. São líquidos, em vasilhas profundas, onde não me atrevo mergulhar. Mas logo de mim será exigido que me posicione. Se não escolher uma das noites, dormirei só. Alguém consegue ser feliz sozinho? Sei que sim. Mas o mundo é um lugar cruel para perambular sozinho a noite. Em cada canto espreita um espinho da vida. A serpente da solidão desliza sem emitir um som. Há, ela promete, sempre a opção de aguardar a chegada de uma terceira noite, começar de novo, esconder a cabeça na areia. A solitude é admirável justamente por ser tão difícil. Não se deve recorrer a ela apenas por medo de viver junto a alguém. Nem tratar pessoas como noites, ou carne em gôndolas, de todo modo. A vida nunca deixa darmos cabo em nossos planos, não sei nem porque ainda me dou ao trabalho de tecê-los.

Por Luis Sescão


sexta-feira, 13 de junho de 2014

A copa é nossa

Pois é, o futebol voltou pra casa e infelizmente ele não poderia ter sido mais mal recebido. Quinhentos e tantos anos de história e alguns resolvem que um evento mundial, realizado por uma organização internacional é a culpa e a solução de todos os nossos problemas políticos e socioeconômicos. Vai ter copa sim, vai ter muita copa! E vai ter olimpíadas também. E depois? Eles vão culpar a quem? Uma coisa que muitos esquecem é que vai ter eleição também, cadê o ódio a atual presidenta nas urnas? Não que ela seja culpada, o povo brasileiro sempre sofreu com todos os tipos de políticas que lhe foram impostas. Não aprendemos a lidar com isso, bicho fedorento e esquisito que sempre mais de uma cabeça. Um ano atrás jovens como eu viram em um sonho a verdadeira face da política e juntos fomos atrás deles. E então? Uma ou outra conquista veio e simplesmente deixamos de lado. Temos esse defeito grande: nos acomodamos muito e de forma rápida. Entupir vias cruciais de acesso aos estádios e "mostrar pro mundo" que as coisas aqui estão erradas não adiantou nada e dificilmente adiantará. As mudanças que pedimos é algo que temos que fazer de dentro, inclusive começar dentro de nós. Chega de bebês chorões esperando por mamadeiras gigantes. As manifestações nos grandes centros, geralmente marcadas para que a mídia transmita não nos levam a lugar nenhum, se ainda não perceberam. É necessário haver cabeça e discernimento para pontuar os maiores erros e buscar, um a um, resolvê-los com sensatez. As marchas estão direcionadas para os lados errados. Eu mesma já passei pela fase de dizer que odiava futebol, não que eu ame e viva por isso mas qual é, quando se é brasileiro é meio difícil negar e eu descobri isso na primeira vez que chamei um time de meu e parei pra assistir um jogo. Agora, multiplicar isso pela seleção do meu país é algo que não tem como medir ou contar. É lógico que eu acho nosso manto canarinho o uniforme mais bonito do mundo e obviamente nada no mundo supera nosso hino. Eu realmente gostaria de ver as casas com bandeiras estendidas do lado de fora sempre, longe desses quatro anos marcados pela publicidade do campeonato. Eu amo meu país e assim como dizem nas histórias por aí, quando é amor nada mais importa. Os problemas e defeitos estão aqui desde antes do meu nascimento e foram uma imposição vinda a mim na condição de brasileira. Eu aceitei. Amo minha pátria com toda a sua podridão e quero mudar isso assim como todos os outros. Amo meu hino e minha seleção. Amo o futebol moleque, o samba e o olodum. Não estou nem um pouco contente com o mundial em si. Perdemos toda a confiança no quesito estrutura, atrasamos as obras e mesmo assim não conseguimos chegar a tempo. Veio o fiasco da abertura. A maquiagem, figurino, enredo, música, conceito, estavam até que muito bons mas foi muito pouco. Buscaram uma profissional Belga para coreografar nosso país e eles não fizeram nada. A coreografia esteve pobre, muito pobre. Ótimas ideias e péssimas execuções, além de ter sido extremamente curta. A música "tema" foi um fiasco a parte, o playback saiu da marcação e deixou todo mundo com cara de filme mal dublado. Além disso, outro fiasco é deixar grandes nomes da nossa música para trás e convocar Jennifer Lopes e o rapper PitBull para gravarem. Claudinha Leitte até que fez um esforço e entrou por cotas mas eu ainda queria que o tema da nossa copa do mundo tivesse um Jorge BenJor, Gaby Amarantos, uma pitadinha da nova geração da mpb além de muito olodum e as batidas do nosso funk carioca. Queria Monteiro Lobato, Clarice Liscpetor e Cecília Meireles. Queria assistir o quinto país mais rico do mundo assumir seu posto. Queria onças-pintadas, bois bumbá; Botos cor de rosa. Queria sacis, iaras e curupiras. Queria ver nós, eu e você, ali, bem no meio do gramado. Pluraridade. Mas é hipocrisia reclamar isso agora afinal em 2010 todos estávamos muito contentes aprendendo a coreografia de WakaWaka sem se perguntar se a África do Sul tinha algo da sua música pra mostrar ao mundo. Por fim, o jogo. Tão temido jogo de estréia com um rival nada comum. Só enfrentamos a Croácia três vezes de onde levamos dois empates e uma vitória apertadinha no um a zero. E aí? será que dá? Pois é, deu. Deu gol contra logo no comecinho do jogo, inclusive foi o primeiro gol contra na história das copas. Deu pênalti que nunca existiu e acabou que passamos. Temos as mais belas mulheres, praias, pessoas. Somos o povo mais criativo do mundo e nem ao menos sabemos disso. Quero tanta gente preocupada com os gastos públicos e amando tanto nossa bandeira sempre, todos os dias. Vestindo o verde e amarelo e sabendo estar feliz assim. Queria que todos sentissem como eu me sinto quando vejo qualquer coisa relacionada a copa e me lembro que, a partir de hoje para contados trinta e dois dias, todos somos apenas um. Somos a vontade de erguer a taça e comemorar tudo que sabemos fazer de melhor. Uma felicidade sem cor ou forma tamanha, que escorre pelos meus olhos toda vez que vejo algo relacionado e me lembro que o mundo inteiro veio ver como é que se joga futebol. A torcida foi um show a parte, finalmente algo que daria para se orgulhar. Chegaram à pé ao estádio, formaram suas filas, entraram sem tumulto, todos uniformizados e ecoando aos ventos o quanto eram "brasileiros com muito orgulho e com muito amor". Coisas assim são do tipo que fazem sentido viver mais alguns dias e acreditar no futuro, ainda que o passado não valer nada e o presente não lhe ser útil. Alguns "S" e muitos plurais. Tão plural como sempre fomos. Nossa cara colorida, de brasileiro mesmo. Sem ser branco, negro ou indío, só brasileiro. Único e exclusivamente brasileiro. 


quinta-feira, 12 de junho de 2014

Desvaneios

Não se pode cobrar de quem não te deve nada, tão pouco pode-se levar a sério coisas que nem ao menos são reais. Nada daquilo tudo aconteceu. São casas de papel, areia exposta ao vento. São só as suas memórias e nada mais. É você, assim como era eu antes de começar. Sozinho, vazio, perdido. Nenhuma palavra no mundo ilustra. Não teve, não terá. Esqueça tudo isso que nem aconteceu. Os sorrisos sempre foram os nossos projetos, nunca projetaríamos nada além da alegria. Não existe sentido em fazê-lo se não for por amor à leveza brilhante que a alegria traz a vida. Não se pode medir o que não cabe em números, tão pouco pode-se sentir falta de algo que nunca teve. Castelo de areia que sofreu com a maré. Seria cômico se não fosse trágico. Todos esses nós que cercam o seu você. A gargalhada mais alta pode ser a mais vazia. Quem poderá afirmar? Concluir coisas não te deixam só mais perto de saber mas também te deixam a beira de errar. Os erros fazem parte da rotina afinal, viemos ao mundo para isso não é mesmo? Errar e construir com os nossos defeitos um castelo de cartas que ficará desprotegido para quem quiser derrubar. A eterna luta em saber que você não poderá evitar que te derrubem mas pode derrubar outros para compensar. Não se pode contar com pessoas que não estão com você, assim como as que estão ao seu lado estarão lá amanhã e também depois de amanhã. Eu sei que tenho tudo, mas felicidade não cabe em vidros. Não grito minha felicidade porque já fui infeliz até mesmo com ela. O martírio até poderia ser menor se ele não fosse o responsável por tudo isso. Eternamente grata por cada segundo, sem querer afirmar que estou efetivamente satisfeita com ele. Maré baixa, eu remo devagar mas persisto. Uma vida estruturada em persistir. Fazia tempo que não passava por aqui mas eu precisei. Procurar ajuda é outra coisa que não sei fazer. Não se pode aprender o que você já sabe, tão pouco se pode intitular-se de feliz quando o coração diz o contrário. Não se pode sentir falta daquilo que você não precisa, tão pouco precisar de coisas que possam e provavelmente irão, vez ou outra, fazer você chorar. 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Ditadura do caos

Ensurdecedora e incansável, narra nossas vidas elevadas no último pico do sufoco. Inquieta e desespera, aflige os corações mais improváveis. Te tira de ti, sai de você, perca total do eu. Maneira de sub viver uma vida em lenta e eterna sensação de afogamento. Não posso dormir. Não quero dormir. Minha alma não pára, não há porque parar. Cada segundo em últimas consequências. Topo de montanha, queda de cachoeira. Montanha russa, roda gigante. Sufoco. A certeza de que nada está sob o seu controle, e não há nada que você possa fazer para controlar. Arranca tuas pernas, rouba seu chão. Queda livre, livremente. Você sabe como é um frio na barriga? Pois é, eu até que gostava de frio. Cegueira inalcançável, incurável e indecifrável. Você não escolhe o caos, não é uma opção. É apenas um conjunto de erros tão acumulados que toma toda a sua vida, decisões. É uma bola de neve que obstrui a traqueia, sufoca lentamente, delicada como quem não quer quebrar a unha. E quando você percebe não estar morta é ai que toda a dor toma o seu peito e aflige o pouco espaço que sobrou. É apenas um infinito e úmido escuro. Lugar nenhum sem nada. Não tem barulho ou pessoas, nada que você possa reconhecer. Nada além de um sofá encardido, você e todo esse seu caos. 

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O ciclo das estações

Quando nosso amor floresceu era primavera e o ar estava denso de pólen e expectativas. Os projetos de vida haviam se alinhado enquanto as abelhas faziam seu saque. Degelávamos dos ossos as frias lembranças de um inverno solitário e entristecido sob chuvas que prometeram revigorar a terra em nossa volta. 

Calor demais mata as roseiras, como logo aprendemos, e o verão esmagou a paixão com seu sol inclemente. O ar sufocava com um mormaço inescapável, e os planos para o futuro morreram de sede. Os ossos ferviam inquietos sem entender como dois se tornam um e de novo dois. 

Um sopro gelado avisa que atrasado chega o outono. As chuvas de outono tapam o sol e curam o calor veranil. O ar se torna limpo e tolerável, e novamente rejubilam sonhos e esperanças. Os ossos de um descansam, a salvo da tormenta, e já cogitam e planejam. Dos demais não se sabe, mas é certo que vivem a mesma estação. 

A frente avulta-se o inverno. As chuvas logo cessarão, e o ar então se encherá com a poeira que espera. Caberá aos ossos abrigar, proteger e semear seus projetos para o futuro. A semente do amor brota em qualquer época do ano, e essa nascerá sonhando com a primavera por vir.

Por Luis Sescão


sábado, 15 de março de 2014

Entre a culpa, e o tempo

Poucas coisas são tão fascinantes quanto o tempo. Amontoado numérico de momentos. Junção de horas, lugares, pessoas. Ao mesmo tempo poderia ser uma criança que não se cabe em energia e uma pedra, sem força, vontade, ou se quer capacidade de se mover. Escorre pelos dedos num piscar de olhos. Talvez enganavam-nos o tempo todo sobre dosar e controlar nosso tempo. Isso não é possível, nunca foi e nunca será. Dificilmente você possa encontrar alguém que se maltrate em acreditar que pode conduzí-lo. O tempo apesar de ser contável não é coisa ou objeto. É algo abstrato, e ao meu ver, possuidor e controlador de qualquer outra ação ou reação em todo o mundo. É o tempo que dita as ordens, escolhe quem vai ou quem fica. Leva seus amores perfeitos embora e traz loucuras irreparáveis. Faz cada segundo valer a pena ou um piscar de olhos destruir sua semana. Guia e coordena. Nada acontece sem que o tempo planeje ou cobre o seu preço. Ditador, audacioso. Não possuí, piedade ou misericórdia não por ser de coração ruim mas apenas por não possuir um. Dilacera o que encontrar pela frente e não espera que você junte seus pedaços. Ele apenas passa, e passa silenciosamente para que você não perceba. Passa rápido, leve como brisa de outono. Não se faz perceptível até o triste e total momento em que você se vê ali, nu, completamente submetido ao tempo, que em geral, só te dá a opção de chorar, dolorosamente, cada segundo de vida que você abriu mão, deixou passar, esqueceu ou não contou. Ele te culpa por não viver e deve ser única e exclusivamente por isso que "culpa" possuí um significado tão sufocante e exacerbado.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Bolero

Se eu escolhesse o que você escolheria, dali não sairia amor nem alegria. Seria apenas dependência. Dia após dia a fonte secaria e nada no mundo caberia em tamanha tristeza. O vazio da alma me sufocaria e traria um tom cinza a vida que finjo viver. Talvez duas gotas de ousadia e uma raiva incontrolável de querer e não poder amar-te. Choraria todo dia, em todos os momentos e até saberia como é morrer devagarzinho, sozinho num casebre distante. Não conseguiria caminhar sozinha, ou sequer sonhar com o futuro. Olhar as coisas erradas e esperar que elas se ajeitassem. Ah amor, se não fosse por tudo isso talvez em algum momento eles entenderiam que nada poderia dar certo se carinho lhe faltasse. A boemia não me acompanharia e eu não saberia cantar a você todas as melodias mais bonitas que ouvi. Quem sabe assim amor, viveria imerso em profundezas gélidas nas noites de sereno, tristes e quietinhas, em cada esquina que passasse. Eu não saberia tocar violão e viveria com um eterno não em minha alma. O coração bateria sozinho e só nós dois sabemos o quanto é desperdício viver por viver sem ter a quem amar. Enquanto o coração bate pelo sangue e não por alguém a vida continua oca, feia e chorosa como qualquer história que comece em um dia de chuva. Mas a vida reservou-me esse sorriso doce e trouxe você pra mim e me deixou em eternos carnavais, sem ter mais temporais, pôr-do-sol avistado do cais.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Receita

Porque mesmo se tudo isso acontecesse a um ano atrás ainda teria o mesmo gosto. Doce ar de quem quer ser feliz sem se importar com as coisas ou pessoas, sem pensar nem nos sentimentos. Maldita sociedade portadora de amores líquidos que mendiga por solidez. Grita a todos os cantos o quão carente se pode ser e insiste em dizer pra si mesma que toda sua alegria depende de terceiros. Isso é entre vocês. Você e sua vida. Elo universal intransferível, pouco mais seguro que as algemas de um mágico. Eu gostaria de ter poderes. Alguma fumaça azul que pulasse dos meus dedos e fizesse as pessoas do mundo inteiro passar a acreditar nas coisas e depois pensar na razão. Só mais uma dose de emoção. Gotas de perigo de quem realmente sabe que só se vive uma vez. Vamos amar mais, nos permitir viver um amor de verão durante um único fim de semana. Ou aquele romance da vida toda em apenas uma noite. Joguem fora essas medidas, a vida não foi feita para ser regrada. Duas xícaras de farinha e uma colher de auto estima. Tire essa torta do forno que hoje eu quero companhia pra jantar. 

sábado, 18 de janeiro de 2014

Sobre ele, e ela.

Eles já se conheciam a algum tempo. Já tinham vivenciados algumas coisas juntos. Conviviam bem e até melhor do que um dia pensaram que iriam. Ele precisava dela e ela precisava ainda mais dele. Não como quem tem um romance predestinado a ser eterno mas mais como duas pessoas que poderiam proporcionar um certa felicidade apenas em estar juntos. Eles se sentavam, todos os dias, no jantar, como quem tenta posar para um doce retrato de família em um comercial de margarina. Ela tão cheia de vida vivia vazia de alegria. Trocava pouco contato por um sorriso, a preço de banana. Ele cheio de certezas não se caberia em dúvidas se não pudesse pensar nela. Eles eram felizes ainda que distantes e apenas por se conhecerem. Não fazia sentido e nenhum dos dois nunca acharia que tivesse de fazer. Era sempre aquilo mesmo, jeito doce de fugir de travessuras. Não sei dizer quantos anos tinham mas viviam como quem ainda é abençoado pela inocência sobre a vida. Ela sempre sorria não importa o que dissesse e, ele sempre fazia o possível para que ela sorrisse. Não era flerte, paixão, nem affair. Era uma coisa mais simples, mais leve. Caminhavam em direções opostas e mesmo assim ainda se cruzavam. Uma vez em uma quarta feira, depois quase sempre. Era como um entorpecente da dor que a vida carrega. Como se por um único minuto eles eram capazes de ver apenas a beleza da vida. O sorriso sempre era mais largo quando juntavam o dele e o dela. Ele nunca falaria sobre isso, ela achava que era tudo aquela mesma esperança idiota que ela trouxe desde o nascimento. Ela acreditava que o pai não tinha se frustrado por ela não ser o menininho que ele queria pra jogar futebol no domingo a tarde. Ele eu não sei dizer porque ele também não fala sobre isso. Eles continuaram por um tempo, bem longo e feliz. Até que um dia ele fez novas amizades, faltou um dia, depois quase sempre. Ela, disse que ia se prometer viver uma nova vida mas todos sabem o quanto ela queria ficar. Fez as malas e levou tudo o que possuía: Uma mala cheia de ausência e uma saudade sem tamanho de tudo que poderia ter sido mas não foi. O único a agir sobre isso foi a distância e ela não disse nada, e ele nunca diria. Caminharam tempo o suficiente para que o caminho de volta se apagasse. Sobrou a falta, distância. Tanto ele quanto ela se esqueceram de seus respectivos rostos, só guardaram o sorriso. Passou o tempo, até a vida passou e ela nunca mais foi tão doce quanto deveria ter sido. 


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

256 páginas

Eu li um livro. Um livro de capa escura com dois olhos bem marcados em cada extremidade da capa. Um tempo atrás eu vi um filme que levava o mesmo nome mas pensando bem eles não se parecem nem um pouco. Mas a história não importa e não muda nenhuma linha do que eu realmente quero que saia por aqui. O ponto é meu amigo Patrick. Pat foi diagnosticado com transtorno bipolar derivado de uma depressão. Ele se perdeu no tempo e nos acontecimentos de sua vida. Em sua cabeça ele esteve internado por 8 meses mas, na verdade, foram mais de 4 anos. E nenhum detalhe dessa história teria feito qualquer sentido se eu não estivesse tão próxima de Pat. Sinto como se tivéssemos nos conhecido no jardim de infância e como se viéssemos a muito tempo caminhando juntos. Eu já estive onde ele está. Claro que de uma forma completamente diferente mas segue os mesmo padrões. Ao contrário dele, eu nunca falei muito disso pra ninguém e nem ao menos minha mãe sabe ao certo. Depressão autodestrutiva avançada. Doses duplas de quetiapina e sertalina todos os dias. Não, você não vai entender do que eu estou falando ao menos que você também já tenha estado do lado de cá da ponte. É, é um assunto realmente sério e as poucas pessoas que sabem disso sabem pouco demais. Foi doloroso e cansativo e eu ainda não faço ideia de como saí de lá. Eu me lembro das sessões semanais e das muitas receitas azuis que minha mãe tinha que levar a farmácia. Me lembro das minhas pernas machucadas e me lembro de não saber nem por um segundo como tudo aquilo estava acontecendo, comigo. É tão desesperador quanto parece. Crises de pânico e de choro por todos os motivos e não motivos existentes. É sufocante e ainda me dá náuseas mas eu realmente precisava deixar isso sair. Eu entendo Patrick e sei que ele me entende porque há algo de honesto nesse tipo de relacionamento. Não existe motivos para que você se sinta desconfortável com tudo isso. Eu não me viciei em exercícios ou comecei a tentar ser gentil ao invés de ter razão, eu apenas decidi não me deixar ficar triste nunca mais porque ficar triste me levava de volta aquele lugar ruim. Eu não tive crises explosivas e nunca espanquei alguém mas eu sei como é sentir aquele frio na alma e perder completamente a noção de o que é vida.Você nunca mais será livre. Todos os seus dias você lutará contra você mesmo para que não se perca e poucas pessoas no mundo conseguiram olhar pra você da maneira que você merece.