quinta-feira, 17 de abril de 2014

O ciclo das estações

Quando nosso amor floresceu era primavera e o ar estava denso de pólen e expectativas. Os projetos de vida haviam se alinhado enquanto as abelhas faziam seu saque. Degelávamos dos ossos as frias lembranças de um inverno solitário e entristecido sob chuvas que prometeram revigorar a terra em nossa volta. 

Calor demais mata as roseiras, como logo aprendemos, e o verão esmagou a paixão com seu sol inclemente. O ar sufocava com um mormaço inescapável, e os planos para o futuro morreram de sede. Os ossos ferviam inquietos sem entender como dois se tornam um e de novo dois. 

Um sopro gelado avisa que atrasado chega o outono. As chuvas de outono tapam o sol e curam o calor veranil. O ar se torna limpo e tolerável, e novamente rejubilam sonhos e esperanças. Os ossos de um descansam, a salvo da tormenta, e já cogitam e planejam. Dos demais não se sabe, mas é certo que vivem a mesma estação. 

A frente avulta-se o inverno. As chuvas logo cessarão, e o ar então se encherá com a poeira que espera. Caberá aos ossos abrigar, proteger e semear seus projetos para o futuro. A semente do amor brota em qualquer época do ano, e essa nascerá sonhando com a primavera por vir.

Por Luis Sescão