quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Uma

Saudade eu uso no singular, porque sempre foi apenas uma. Aquela falta imensa de um amor que nunca foi bem um amor. É um querer bem, aquele sentimento que a outra pessoa te completa. A ausência de uma parte de você, falta que nada pode preencher. Eu reúno em uma só porque nada no mundo me ajudaria lidar com duas. Saudade é algo que pesa os ombros e ocupa os seus pulmões. Se desse pra plantar provavelmente floresceria mas, sem dúvidas, suas flores seriam mórbidas, com um leve toque de algo que já foi bom algum dia. Se desse pra tirar com certeza todos tirariam mas guardariam em pequenos potes no fundo de alguma caixa. É que por pior que seja, a saudade ajuda a quantificar o amor que sentimos. Quanto maior a falta, maior a saudade e mais amor você entregou a ele. Clarice dizia que saudade é pouco como fome, e só passa quando se come presença. Eu gostaria de ter esse tipo de sentimento. A minha é bem diferente. É que eu coleciono despedidas, então sempre que acalmo a tal saudade, outra coisa a puxa de volta e eu fico vazia em alguma parte, de algum jeito. Já faz parte de mim, pouco posso fazer a não ser aceitá-la. Descarregá-la em versos ou prosas, endereçar à pessoas que não se interessariam. Não culpo ninguém, não há ninguém para culpar. As pessoas possuem suas próprias ausências para lamentar, eu é quem devo aprender a lidar com a minha. Se desse pra esquecer talvez eu esqueceria. Não que eu queira, na verdade é porque preciso. De tudo me falta algo, sempre falta um porém, um a mais, algo que complete a minha vida. Eu sinto falta até mesmo de coisas que nem aconteceram ainda. 


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Sofi

Sinto-me tão próxima da borda. Tão frágil e instável, completamente suspensa. Sinto-me à beira de um precipício, sob uma ponte sem apoio. Qualquer brisa leve que chegar me leva, como se fosse poeira ao vento. Tenho medo de altura. Não que eu já tenha estado em alguma altura que possa ser considerada. À alguns dias que não tenho dormido. Não de maneira fácil. Todo conforto é pouco, todo minuto se passa em horas. Quando me dou conta já amanheceu e você não está do meu lado. O sol já nasceu para iluminar outro dia e eu pouco tenho pra fazer além de contar algumas histórias. Não se pode chorar o leite derramado, tão pouco pode se mudar o rumo da vida. Meus motivos acabaram todos e felizmente não vendem essa mercadoria no supermercado. Eu concordo. Concordo não só por ser verdade mas por ter se tornado a minha verdade, por ter ocupado a minha vida e trocado todas as certezas.


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Ás cegas

E mais uma vez pouco posso pedir a não ser por socorro. Peço que alguém me salve desse limbo incompreendível que me tira qualquer vontade de viver. O tempo sobra e grita o tempo todo a sua escassez. Minha vida pede por uma urgência que eu não posso providenciar agora. Um tempo que pede mudanças sem que haja tempo para decidir os rumos. É como ser jogada em meio a um tiroteio com os olhos vendados: tudo que você pode fazer é correr. A certeza que você vai tropeçar, ou ser acertada por alguma das balas que cruzam ao seu redor só aumenta a cada passo e então você sente seu corpo gelar lentamente, e o ar lhe faltar os pulmões. É assim que eu me sinto: desesperada. Aflição se acumulou até beirar o desespero. Não tenho tempo algum e me falta paciência para que as decisões sejam tomadas. Sinto como presa em uma areia movediça: quanto mais eu me movo mais eu afundo e consequentemente mais próxima da morte estou. Morte horrível essa de não saber o que fazer com a sua vida. Um turbilhão de ideias e projetos que em voz alta soam apenas como uma brincadeira infantil: inocente e inútil. Sinto como uma criança colocada em cima de um salto alto pela primeira vez: não me movo. Não posso me mover porque certamente vou cair. Essa superfície soa completamente instável e desconhecida. Então é nisso que a vida se baseia? Ok, a partir de amanhã você é uma adulta. Tá, e aí? pra onde eu corro?