terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ser e sendo

234 dias.
Comprei um carpete de boas vindas.
Sei que já faz algum tempo desde a última vez que lhe escrevi mas, é que de tristeza o mundo já está farto e, em boa parte do tempo, toda essa dor foi a única coisa que restou e por isso precisava dela aqui, comigo. Tive medo que se caso eu a deixasse voar por essas linhas não me restasse nada. Nem mais uma partícula de vida nessa marionete nomeada de corpo. Pensei, que se pudesse, até essa dor me deixaria. O vazio é bem mais oco do que parece. Mas, a gente continua e, pra cada dia que a gente precisou se dopar e dormir quase 20h... vem outro maldito dia incessante, te obrigando a ser.
"Representando com obediência o papel de ser."
Me disseram que eu era e eu fui. Infelizmente, ainda sou.
Muito eu quis colocar pra fora e deixar deslizar por essas linhas que eu tanto prezo mas, em cada uma das tentativas a dor se recusou de alguma forma. Cortei-me os dedos, sangraram as histórias. Faltava impulso ou em algumas ocasiões, faltara.
Falta.
E como ainda falta, meu deus.
O desespero vêm do fato que não muda. Entra estação, troca-se de emprego. Nada muda. É sempre o mesmo maldito "E se" ecoando na cabeça. Ontem a noite, me dei conta de que estava cantarolando. Sim, foi a primeira vez em mais de 230 dias que eu consegui cantarolar. Fiz de um súbito tão inesperado que até me surpreendi. A dor não passa mas o tempo sim. O tempo vem e abraça calmamente. Em algum momento sem nem se dar conta você se pega escrevendo de novo e, obviamente, lamentando todos os outros murmúrios que foram perdidos graças a minha própria fraqueza. Em algum futuro você vai se pegar cantarolando. Algumas coisas não terão mudado mas mesmo assim você vai saber o significado de cada uma dessas palavras.
O problema em ser forte é que geralmente você não tem outra opção.
Frustração.
Talvez o pior dos sentimentos. Lhe fiz tudo o que podia e mesmo assim não me deixou. Ouviu outras vozes e deixou com que elas lhe dissessem o que viria depois. Eu só chorei, pouco me foi permitido.
Eu ainda choro.
E quem não chora?
Espero que amanhã faça um pouco de sol, se não as roseiras do fim da rua não irão florescer.
Espero conseguir manter o contato dessa vez, e desejo melhoras à sua mãe.

Com carinho,
Jôicy