domingo, 22 de abril de 2012

Não existe liberdade. O que existe são gaiolas maiores. 
- Luis Sescão

Constante

E chega um momento que você apenas pára, e descobre que não faz a mínima ideia do que está fazendo. Você cresce sonhando e calculando perfeitamente todos os seus passos de toda a sua vida e do nada dá de cara com a parede e percebe que a fantasia não condiz com a realidade. Você se descobre deixando de ir a lugares que quer muito para ir a outros que detesta. Deixa de fazer as coisas que gosta porque não quer atrapalhar. Passa tanto tempo se preocupando com todos a sua volta que no final das contas não sobrou tempo para que ninguém se preocupasse com você. Perde tempo da sua vida pensando o que o outro vai pensar sobre isso e quem vai se sentir ofendido, tempo valioso. Percebe que passou a fazer a maior parte das coisas que repudiava. Até mesmo o dono do boteco na esquina tem muito mais vida que você. Passa a fazer um milhão de coisas para agradar a todos e se revolta porque na verdade percebeu que ninguém faz nada para te agradar. As pessoas que fariam estão longe, e distância anda complicando muito as coisas hoje em dia. Passa a comer coisas que odeia, conversar com pessoas que mal suportava. E do nada, pára e surta. Descobre que na verdade, está perdido. Você não fez nem a metade de tudo que sonhou fazer até aqui, somente a metade que jurou não fazer foi concluída, de forma contrária é claro. Percebe que na verdade não quer absolutamente nenhuma das escolhas que fez e que nem foi você mesmo que escolheu. Talvez, se pensar ao fundo, nem se sente você mais. É apenas um amontoado de outras pessoas e suas vidas. A sua foi anulada. Tudo o que todos ao redor precisar, e nunca poderá precisar de nada. E é nessas pausas que seu cérebro trava e a nostalgia alaga. Mas na verdade você nem sabe se o que sente falta foi real. Tudo te irrita de tal forma que você sente vontade de virar as costas e sumir, virar a página. Talvez pegar um livro todinho em branco e reescrevê-lo do jeito que planejar até que, daqui a algum tempo você perceba que o problema talvez não seja as pessoas mas você próprio, que nasceu com esse dom; Uma contante de erros irredutível.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Á cobrar


Andar distante, estar sumido. Todo mundo já se percebeu assim um dia. Sim, andei perdida. Não faço a mínima ideia de onde estive até porque se soubesse teria voltado por antes. Ou não. Talvez eu nem tenha voltado por querer, foi bem mais por ter que voltar. Sem pressa, sem correria. Lentamente distante. Fugindo ou não, estive bem além de todos os lugares antes visitados. Ando andando por ruas tortas, cheias de risos molhados de lágrimas. Estonteantemente confuso. Mais confuso que eu, e meu gato risonho. Gostaria que fosse mais perto, para que pudesse visitar com mais frequência sabe? Tipo aquela casa da vizinha, que você sempre passa pra tomar um café. Eu até que gosto de lá, mesmo não sendo em lugar nenhum, sempre me enche de paz. As coisas andam caminhando bem, pelo mesmo caminho sinuoso que eu vou, feito de tijolos dourados, a procura de um coração, coragem, na verdade a procura de algo que faça enfim tudo dar certo. Pelo menos desse lado tenho uma cota muito maior de sorrisos e lembranças doces para o chá da tarde. Espero que não me façam voltar tão cedo. É como nascer prematuramente forçado. É meio difícil conversar a essa distância, tal como é difícil sonhar enquanto se está acordado. Sabe quando a felicidade lhe convém e torna-se incrivelmente necessária. Cabe no momento, no lugar. Aquela paz que faz você querer se apaixonar, trocar o guarda roupa e conversar muitas novidades com amigos antigos. Aquele sentimento estranho que te faz querer sair num domingo chuvoso e atravessar a cidade só pra tomar aquele sorvete. É sorrir enquanto tudo dá errado e assim convencer-se que está tudo perfeitamente bem. E está. Pelo menos aqui desse lado da linha.