quarta-feira, 16 de março de 2011

Dia sortudo

Sei que quanto a pontualidade não estou muito por dentro mas que se dane, dia da mulher é todo dia, merecemos isso, sofremos muito por isso! Somos mães, filhas, empregadas, esposas, amantes, donas de casa, e ainda por cima profissionais. Temos tpm, menstruação, damos a luz, temos que nos depilar de quinze em quinze dias, e mesmo depois de um longo dia de trabalho ainda temos que estar sempre lindas e bem humoradas. Merecemos muito mais do que um dia, um mísero dia em meio tantos que vivemos e fazemos valer a pena. Tantos dias que temos que sair de uma reunião estressante e ainda buscar os pimpolhos no colégio com o maior sorriso de “mamãe ama vocês” ou entrar em um vestido lindo, subir num salto 15 e ir linda e absoluta para aquela festa mesmo estando totalmente inchada e sensível.

Somos mais do que um dia, somos mulheres, a força mais presente desde o principio. A geradora, luz e trevas, Deusas da beleza e do amor. Sofremos sim, mas somos privilegiarias pelo dom de dar a luz e isso ainda não é nem o começo  de tanto que temos e possuímos. Deusas da sedução, somos tudo que há de mais belo no mundo. Não há muito o que se falar quando se fala de tanta perfeição. Realço que me refiro as mulheres de verdade, aquelas que se matam para manter uma família unida e feliz com dignidade e não àquelas que dedicam seus dias a destruir lares alheios.

Mulheres homens, tão fortes e seguras como tal, afinal tpm não dura a vida toda. Já dizia minha eterna diva Clarice, “Gênero não me pega mais”. Somos muito mais fortes do que muitos machões por aí, trocamos pneus e lâmpadas de salto alto e sem quebrar a unha. Em muitos casos somos mães e pais e com muita classe ainda por cima. Sexo frágil é apenas um apelido carinhoso diante de tudo que somos capazes e fazemos.

Um feliz Mulher, dia oito de março, porque olha, você sim é um dia sortudo.



segunda-feira, 14 de março de 2011

Grito de uma telespectadora desesperada

Sinceramente não há como não sentir pena dos pobres mortais como eu, que não possuem tv por assinatura porque realmente, a cada dia está mais mortífero depender deste meio para se entreter.  Os programas não são mais programas, são apenas um monte de lixo televisivo. Clássicos da tv brasileira, de tanto tentar se reinventar se acabaram, cavam suas próprias sepulturas com as mãos.
Não sei se virou regra, ou se é moda mesmo mas porque os programas de entretenimento andam tão sensacionalistas e religiosos? Raul Gil para mim já é um programa gospel, ainda mais com a miniatura de pastora que ele arranjou. Mirella realmente é uma fofa mas por favor né? Ela mal sabe o que está fazendo, os pais dela só devem ter ensinado a ler a bíblia e nada mais, onde está o livre arbítrio agora? Eliana que estava escapando agora caiu na reta também. Programas religiosos são ótimos para quem gosta, o problema é a unificação. Moramos no brasil, país da diversidade não só na etnia mas também na cultura e religiões.
Agora não sei se era minha inocência aliada a minha pouca idade ou se o programa realmente era melhor mas hoje não consigo entender porque assistia Ratinho? Aquilo se tornou um circo televisionado, até quando respiram eles tentam nos fazer rir. Extremismo também cansa. Silvio Santos e A Praça é nossa estão cada dia mais baixos e fúteis. São poucos os temas que não estão relacionados com a sexualidade. Não sbt, sexo não é engraçado. E no jogo dos pontinhos? Acho que deveriam mudar o nome para jogo das briguinhas né? Só servem para fazer intrigas e para que os participantes ficarem se ofendendo.
 Zorra total e Casseta e Planeta não tem mais nada de engraçado e só os seus produtores não percebem isso. Ninguém deve ter ensinado a eles que tudo tem um fim e que devemos nos contentar com isso erguer a cabe e começar coisas novas. Refazer algo que não faz mais sucesso não tem sentido algum. Maísa então nem se fala, ela realmente é esperta e inteligente mas todos sabemos claramente que ela cresceu, deve ter quase oito anos ou até mais e ainda se veste como uma menina de quatro. Não faz o menor sentido! É bonitinho, todos concordamos com isso mas está na hora de seus figurinos evoluírem também.
A tv já está defasada, em total decadência com a tão potente internet, se as emissoras não abrirem os olhos logo para isso e se ajudarem, vão se afogar sem perceber e creio eu que não haverá outro fim se não a morte. Sorte dos que podem assisti-la de madrugada, esta sim ainda merece ser chamada de televisão. Seriados e filmes excelentes em todas as emissoras, competindo descentemente, com qualidade. Isso sim é o entretenimento que o brasil necessita. A população está cada vez mais decadente, com gostos cada vez piores, e sem a mínima noção de o que realmente é bom. Jovens e grandes massas ouvindo Luan Santana, Fiuk, Restart, e pior eles gostam. A tv precisa se reerguer, e levar consigo as novas gerações. Aonde iremos parar quando essas jovens que crescem apaixonadas por ex-bbbs e viciadas em obras literárias que não mereciam nem terem sido publicadas se tornarem professoras, médicas e policiais? O governo bem que podia se importar com isso de vez em quando também né? Distribuir um bom livro junto com a camisinha do carnaval ou incluir um bolsa cultura no pacote do bolsa família, isso sim seria um ótimo investimento.


domingo, 6 de março de 2011

Restos de carnaval

"Não, não deste último Carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao Carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
 No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete.
Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
 E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.
 Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para Carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça — eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável — e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
 Mas houve um Carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
 Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga — talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel — resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele Carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
 Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas — à idéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha — mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
 Mas por que exatamente aquele Carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
 Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge — minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa — mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil — fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.
 Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
 Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns d0ze anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de oito anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa."


Clarice Lipector 
(in Felicidade Clandestina, 1971)