domingo, 2 de dezembro de 2012

Estrada de tijolos amarelos

Uma cidade bem na ponta de qualquer estado à alguns pares de anos atrás. Quando ler isto, muito provavelmente não fará sequer uma gota de sentido mas, devido a isso vou me preocupar com coisas mais importantes, frágeis e concretas: memórias. Pode parecer um papo zoado agora que você o lê mas, acredite, em algum momento ele fez ou fará todo o sentido que precisa fazer. Esse enorme amontoado de palavras não tem pretensão alguma em mudar algo ou reverter uma situação, estão todas aqui apenas para dar sentido ao que está se passando aí no futuro. Estão aqui para te lembrar porque vale tanto a pena lutar tanto assim. Ter um trabalho cansativo que provavelmente não estará pagando o quanto você se imaginava estar recebendo como quando escreveu esta carta. As noites mal dormidas devido a algo verdadeiramente concreto como o seu trabalho ou um verdadeiro problema, um problema de adulto, era tudo o que você esperava da sua vida enquanto escreveu isto. Você ainda se lembra que aqui, enquanto levou tudo ao extremo da melhor maneira que pode, que você era uma pessoa tão feliz? Pergunte-se quantas risadas dava por dia durante essa maravilhosa época da sua vida. De como você adorava abraços, e conversas sem sentido. Quando você trocava baladas top por uma festa de república. Perdia tempo convencendo todos de tomarem um shot, sorrindo para tortos e direitos. Aqui nesse passado, você tinha um mundo inteiro de sonhos e é por eles que está onde está agora, seja onde for. As bebidas mais baratas e os amigos mais preciosos. A vida vivia na palma da sua mão, sob controle, comandada. Aqui, você atrasaria seu sono por mais meia hora só para que pudesse atualizar seu blog de internet que por tantas e tantas vezes foi sua válvula. Nesse lugar, você tinha certeza de absolutamente tudo pelo menos uma vez ao dia. Era feliz com poucos motivos e os que tinha, eram de grande proveito. Foi nesse passado que você conheceu as melhores pessoas de sua vida e aprendeu a maior parte de tudo que você é agora. Foi aqui que a luta pelo seu sonho começou, e começou do melhor jeito possível. Memórias são o remédio para a alma. Óleo que faz a engrenagem da vida continuar, e continuar. Vai ser daqui que você vai se lembrar quando alguém te perguntar sobre alegria e vai ser desse tempo que você vai falar quando te perguntarem do que sente mais saudade. Sem dúvidas, vai se arrepender pelos tão poucos minutos perdidos, pelos lugares que você não foi e as doses que você não virou. Vai ser aqui que vai encontrar as histórias que você vai contar para os seus sobrinhos, filhos depois netos e bisnetos. Foi aqui onde se fortaleceu, e será aqui que encontrará as forças que precisar, a todo momento. Eu sei que as fotos são muitas e que as memórias são bem mais complexas e detalhadas do que essas linhas rascunhadas. Eu sei perfeitamente que você saberá de tudo isso quando chegar verdadeiramente a hora de ler essa carta e sei que você sempre fará o certo porque pelo menos eu, que sou você no passado, nunca duvidou de nada.




sábado, 1 de dezembro de 2012

Sete mil e trezentos dias

Vinte vezes a mesma data. Vinte conjuntos de verões, outonos, invernos e vinte primaveras. Vinte vezes aquele dia exclusivo, único, o meu dia. Completar um ano de vida em qualquer ângulo é uma felicidade única, um tanto quanto silenciosa e de nada saltitante. Os anos passam e quanto mais o numeral aumenta, mais a cor desaparece. Trocamos os chapeuzinhos por copos de bebida, em todos os eventos paga-se um preço por crescer. De tudo que possa dar errado os aniversários continuam sendo de uma positividade irreconhecível. Há quem diga não gostar desta data mas é humanamente impossível. Talvez seja porque as pessoas não estão acostumadas a serem tão unicamente felizes em um dia. Data que ecoa e sempre começa bem antes do que o começo. As pessoas chegam e junto com a meia noite, quatro outras doses comemoraram com a minha. Talvez não fosse nem de longe a festa que eu gostaria de fazer e estar fazendo mas aprendi a dançar conforme a música. E apesar de tudo hoje, dia estonteantemente quente de novembro, é o meu aniversário. Podem existir por ai mais alguma centenas ou milhares de pessoas com os mesmo sentimentos e mesmo assim é o meu dia. Exclusivo enquanto meu, especial sendo meu. De todas as coisas que eu gostaria de ter e fazer nesse dia eu sempre ganho as mais necessárias. Pelo menos quatro eu tenho, tive e espero ter por muito tempo. Quatro motivos constantes de vida e memórias maravilhosas. Um quatro que nem multiplicado pelos meus vinte não seria tanto quanto é agora. E eu planejei tudo, mil coisas para se fazer, comer, beber e falar. Calculei cada para que cada segundo do dia fosse único. Não fiz nada. Troquei meu dia de festas por alguns pontos acadêmicos, um fichamento e uma resenha e, mesmo assim, meu dia não poderia ter sido mais agradável. Obrigada! Obrigada a vocês por todo esse ano, por esse dia, por tudo.
 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

"Talvez eu sempre faça a coisa errada
Um furacão pra mim é quase nada
De todos os desastres que eu podia
Eu escolhi você (...)
Exatamente quando eu não queria
Eu conheci você
Eu não sei por quê"

Capital Incial

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A porta está aberta, mas toque a campainha

O por mais idiota que isso possa soar tudo o que eu queria nesse momento era você aqui. Queria poder te olhar nos olhos novamente e fingir que tudo era como eu sempre quis. Felicidade eterna, riso sem motivo. Alegria do meu ser, porque foste pra tão longe? Fugiu-se de mim, desapareceu. Perdi-me ao tentar te reencontrar e continuo a me perder. Eu sempre olho para o lado errado, não importa como, é sempre um erro. Talvez o problema venha de muito mais distante e eu nunca percebi. Te quero aqui, do meu lado, dividindo a cama de solteiro como se só isso bastasse pra vida toda. Preciso de ti pra cuidar de mim, dizer pra eu beber menos, festar menos, alguém que puxe as minhas rédeas e não me deixe cair. Você era meu lar, meu porto. Meu ponto de força no meio da escuridão. Me tirou do chão, me ensinou a sacudir a poeira. Perco meus dias por me fazer acreditar que está voltando, lentamente. Talvez em outra pessoa, muito provavelmente de um jeito completamente diferente mas, eu realmente preciso. Preciso que isso venha, seja uma pessoa, um sentimento, ou uma pessoa com sentimentos. Talvez eu tenha aprendido que a dor é constante e quase me esqueci de sorrir mas, minha alma pede por luz. Tenho de ter paz, longe ou perto, agora. Posso ter perdido a razão mas sei que algo ainda é certo. Meu forte, salvação. Talvez seja a única coisa que torna todo e qualquer ser humano, verdadeiramente humano. Sentimentos, doces raridades mundanas. Vem que eu espero, diga se vem.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Luar

E talvez seja isso mesmo, um monte de nada. A felicidade é um estado de espírito completamente dependente de um auxiliar. É apenas um monte de momentos, eles sempre acabam. A tristeza não, essa sim é constante. Para de arder quando a felicidade chega e inunda os olhos mas não ela passa disso. Felicidade não dura sequer alguns dias, não há garantia de boas risadas. Não podemos esperar momentos que vão ser eternos, não podemos esperar exatamente nada. Essa insanidade completa, constante, não se controla na solidão. Tristeza e loucura, nada poderia ser tão perigosos. Insanidade, falta de plena noção. Você apenas quer ficar dançando e implora para que não desliguem a música mas o canto dos pássaros do amanhecer não aceita concorrência. E por mais que você queria algo, aquilo perde o sentido quando você percebe que é a única a acreditar nessa ideia. E então perde-se em pensamentos aleatórios que não fazem sentido algum. E virão músicas e outra latinha de cerveja, pesquisas inúteis, seriados e nada vai mudar. Continua a pedir por vida, gritar pra ser mais exata. A chuva pra fazer companhia e seu canto triste se une com o meu. Coisas que só acontecem na madrugada e pouquíssimas pessoas podem vivenciá-las. Eu quero o máximo que eu puder. Quero o néctar da flor mais alta, comer do fruto mais raro. Quero viver o que eu puder sempre que possível. Vou aonde for possível for a pé, e a partir dali voo, eu sei que certamente irei cair mas eu preciso tentar. 


domingo, 11 de novembro de 2012

Despertar

Era bem mais feliz do que imaginava. Já era de décadas que chorava uma tristeza sem fim. Parou finalmente ao espelho e só então respirou. Já se passava tanto tempo que corria, acabou por perder o sentido do tempo. Agora, as paredes desapareceram. Ao seu redor, relva molhada com aroma de alegria. Doce textura e paz era enviada direto para  o peito. Não se pode decifrar exatamente o que foi que se passou naquela tarde chuvosa de primavera. O tempo podia estar cinza, mas era de uma luz incandescente. As gotas de chuva soavam agora como melodia e apenas não percebera o que aconteceu. Foi tanto tempo fugindo que havia se esquecido de como era olhar pra trás. Não teve muito tempo para perceber e observar a mudança. Tudo foi tão instantâneo, impulsivo, incontrolável. Levou-a sem que pudesse pensar o que estava acontecendo. Era amigável, amoroso, incrivelmente atencioso. Acabara de cumprimentá-la mesmo que estivesse chovendo e isso lhe custasse algumas gotas a mais em seu paletó. Sorria como alguém que vivesse disso. Vivesse apenas e exclusivamente para sorrir e despertar nas pessoas a sede pela felicidade. Cerca de cinco minutos depois que percebia a cena em questão. Os dois, parados a porta ainda sem entrar; Trocando olhares como se todos seus problemas haviam sido solucionados. "Mas que bela donzela esta, no peitoril da porta ainda esperando por uma atenção. Talvez nem fosse rabugenta mas inspirava frieza a quarteirões". Jasper nunca avia a visto pela cidade, sem dúvidas havia viajado por meses. Ele que nunca foi de reparar, sorriu-se com o estalo que ela fizera em sua mente. Ela que nunca foi de acreditar, surpreendeu-se em como aquele singelo sorriso a cativava. E ainda ficaram parados ali por mais alguns minutos. Ele gritava para si mesmo que a convidasse para um café. Ela pensava em como poderia ser as coisas de agora em diante. Então algo os puxou de volta a realidade: um senhor pedia licença. Ele cedeu, ela aceitou. Daquele momento em diante não ouve eu. O frio acabou, solidão se extinguiu. Estava completa como sempre sonhara, já ele, feliz como quem ouve uma sinfonia. Foi ali que o sopro de vida chegou aos seus corpos, daquele exato momento em diante, pra sempre.




sábado, 10 de novembro de 2012

Bohemian

Sentava-se no mesmo balcão pontualmente as dez da noite de todos os dias. Com a mão ainda dentro das luvas pedia ao garçom um licor para começar a noite. Esperava. As luzes acendiam e apagavam impiedosamente no mesmo horário. Era quase uma religião. Os dias passavam um a um sem que muito se notasse, tal como as horas que traziam consigo outra e mais outra dose de whisky. Vez ou outra um cavalheiro sem muita gala arriscava-se a se sentar ao lado daqueles longos cabelos pretos e olhar frio: "E aqui estamos nós novamente", pensava em silêncio enquanto fingia rir e se interessar por cada bobagem que seu novo acompanhante dizia. Anna, Manuela, Vicentina, dependia muito do dia e do clima. Nunca tivera um nome fixo, tal como endereço e telefone. Quando possível acendia um ou dois cigarros, um a traz do outro, e fumava como quem tenta sugar uma alma. Sua vida não era fixa o suficiente. Pulava de galho em galho como um cachorro procurando comida em um saco de lixo. E assim era sua vida, triste como uma sinfonia de poucas notas, calada que só. Volta e meia até se brindava em sair com um dos carentes que lhe pagara os drinks da noite. Do bar para alguma outra casa desconhecida, bem as altas da noite. Nunca se preocupou muito com horários. Na vida que ela mesma lhe dera não se fazia necessário. Tão vazia quanto os copos que deixava esparramados pelo balcão. Parecia parada no tempo, estática. Jogada a casualidade da sorte. Quem sabe um dia. Não se sabia o que fazia no restante da noite, a única certeza era o bar. Velho e querido companheiro de longas e tristes jornadas. A banqueta ao lado do balcão já parecia lhe pertencer. Tantos e tantos anos jogada naquele mesmo canto como um mendigo esperando por um pão. Ela sem dúvida pedia por algo, algo totalmente diferente do que havia tido em toda sua vida. Implorava para que pudesse sentir algo, um calor, nem se fosse uma leve chama dentro de seu gélido peito. Olhava fielmente o mesmo ponto do bar: a janela. Era de lá que podia ver e imagina como seria a tal da felicidade. Esperava sem pressa alguma o dia em que aquele moço atravessaria a rua para levá-la, para um lugar do qual nunca deveria ter saído. 


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Bucolismo

É o mais simples e perfeito dos prazeres. Corremos e sufocamos cada centímetro de vida que parecemos tentar salvar uma vida. Quem dera eu pudesse dizer que não é a nossa vida a qual tentamos impiedosamente salvar cada segundo. Complicamos os sorrisos, esquecemos os caminhos, dificultamos as escolhas, culpamos por motivos pifeis. Corremos para nos esconder de brisas de primavera atrás de grandes rochas pontiagudas. Perdemos vidas inteiras olhando pro nada. Tudo bem que o ser humano é incompleto, mas não precisava ser tão bobo. Merecíamos ao menos o mínimo de inteligência adquirida de nascença, pelo menos o suficiente pra entender que é na simplicidade que nos encontramos. É nos menores detalhes que motivamos a articulação das bochechas nomeada de sorriso que ilustra perfeitamente a paz que inunda o ser. É um bater de asas, primeiro passinho de um bebê. Começo de uma vida, o seu segundo nascimento. Olhe em volta, sinta o cheiro que o próprio ar te trouxe. Observe as gotas de chuva não só com os olhares mas com a alma que grita silenciosamente por socorro atrás da muralha que erguemos. Vestimos nossas armaduras sem que houvesse tempo para que percebêssemos. Levaram nossa pequenitude, delicadeza. Aquela gota de detalhe que salva tudo em que toca. É a doce utopia da felicidade, sorriso na alma, sentimento que ultrapassa os hormônios e liberta-se em um sorriso. É libertador, doce, encanto intranscedente. A perfeição e meta de qualquer um. O simples e clichê "Ser feliz" não nasce por conta própria. É calculado, resolvido, vem sempre sob medida mas, se há uma maneira ao menos de se chegar a esse caminho é descalço. Descalço como uma criança que ainda tem o mundo todo para descobrir. Colocar o pé na terra, sem seus tênis de marca ou sandálias da ultima moda. Jogando fora os chinelos desgastados e as sandálias surradas. Nem se quer se preocupe em procurar o scarpin perfeito que ironicamente irá te causar bolhas e dores no dia seguinte. Só se prepare pro sabor, aproveite o que puder ao máximo possível. Arranque o que te segura e vai, sem olhar pra trás, sem pensar, só sentir. Tira a muralha que te separa de tua alegria. A verdadeira felicidade só se alcança descalço.



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Que venha pra não ir, nunca mais

Tão igualmente silenciosa e dolorosa que chega a sufocar. Saudade no silêncio, daquelas que não se pode gritar. Não lhe é permitido chorar ou reclamá-la. No fim das contas só se pode sentir, e lamentar-se lá no fundo por não poder parar com toda aquela dor. É como ficar olhando tudo o que você quer da vida passar-lhe diante os olhos lentamente e estar de mãos atadas sem que se possa tocar. Está aqui, de frente a mim e me encara de um jeito terrivelmente majestoso. Gostaria de poder-lhe contar mais histórias de caminhos distantes quando ainda não estavas por aqui mas também não me é possível. Pelo menos não agora, ou pelo menos não na minha vida e toda sua bagagem cinza e tão pesada. Seria mais fácil se fosse simples como está por ai estampado nas capas de revista e em todos os canais de tv. Doce felicidade a arte de contar histórias perfeitas e prender inocentes seres em um mundo surreal e altamente mais doce do que a verdade. Se dizem que a verdade é doce imagina ela alterada para ser completamente perfeita. Utopia de felicidade concreta, de se completar a partir de outro ser. Queria poder provar-me desse mito. Trazê-lo a minha realidade. Pingar nem que fosse uma ou duas gotas de adoçante artificial em meu café frio e amargo. Queria que você viesse mais vezes ou quem sabe nunca mais fosse embora. Queria que fizesse parte dos meus dias até se tornar parte de minha vida e só então ser ela. Depender única e exclusivamente de outro ser tão errante quanto eu. Não sei se me permitirei correr tantos riscos assim apesar de passar boa parte da vida implorando por perigos. Mas dessa vez eu queria que você viesse, mais do que todas as outras. Eu não posso convidar-te mas imploro para que esteja todos os dias de minha vida. Peço para que compareça não só por mim mas pela minha alma que se torna mais ampla e pacífica quando se percebe lado a lado com a tua. Peço pelo coração dolorido que pede todo dia pra te ver, peço por mim, por eu e pela minha vida amarga para que um dia quem sabe você, ou qualquer outro alguém que suceder, preencha com doces gotas de harmonia. 


domingo, 14 de outubro de 2012

À deriva

Simples e preciso como os pontos de um cirurgião. Não sei o que se passa, como a maior parte do tempo. A sensação de estar perdida se sobressai e me sufoca. Não faço ideia de nada e única coisa que desejo é fugir. Não sei porque, nem para onde apenas não existe mais qualquer que seja um lugar seguro. Não se sinto bem enquanto deveria ter certeza de onde piso, perco-me tentando me encontrar. Tudo parece dar errado ao  mesmo tempo e por mais que tente dizer que tudo vai terminar bem os dias passam e eu estou cada vez mais presa. Não existem erros aparentes ou qualquer que seja o verdadeiro problema. Pareço absorver tudo que há de errado em todo lugar por onde passo e simplesmente não sei pra onde correr. Os problemas transbordam e me afogo, simples e preciso. Gostaria tanto de poder colocar um ponto final mas a unica solução que faz sentindo não está sob meu alcance. Sinto perder o controle do que eu faço ou de quem eu sou. Espero que o porto segundo esteja perto, prefiro não naufragar.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Ninguém quer ouvir, mas eu preciso dizer

Os leitores que me desculpem mas eu preciso escrever. Me perdoem mesmo, eu sei que muitos não gostam de política ou não estão nem aí pra minha pequena e amada cidade. Mas eu preciso gritar, gritar mais do que já gritei nas ruas, gritar para todo o planeta ouvir, gritar pra tirar de dentro de mim toda essa pressão que enfrentamos e carregamos ao longo desses sofridos noventa dias. E como foram sofridos! Não faltaram ameaças de todas as formas, pressões, demissões, tudo que já estávamos acostumados a ver em todos esses quatro anos de um dos piores mandatos que minha India já viu. Nossa liberdade veio na melhor hora possível, e não podia ter gosto mais doce do que essa vitória. Acabaram as intimidações, as ofensas pessoais, interpessoais e indiretas. Não vi um comentário maldoso ofendendo ninguém hoje. A ditadura que minha cidade enfrenta e que a fez parar no tempo por quatro anos está com os dias contados. Não tem explicação e nem palavras para descrever o que eu vivi hoje e como já disse Daniel Arantes: que futebol que nada, emoção mesmo é a política em Indiaporã. Ambos somos tetras ainda que o tri tenha sido tão podre que eu preferiria esquecer mas, não posso. Preciso me lembrar perfeitamente do nome e sobrenome que transformaram o nosso paço municipal em um trono de ferro com mãos de aço onde cargos rolavam a torto e direita na cara mais lavada do mundo. E era Ele que mandava mesmo, e ainda com todas as pesquisas e votos comprados, com a prefeitura e o hospital nas mãos e todas as ameaças não conseguiu nos calar. E nunca conseguiria. Ele não se elegeu nem na eleição passada onde nós carregamos nas costas com a cara a tapa e o elegemos. A mesma mão que dá também tira. É Ilustríssimo Sr. Prefeito, acabou. Chega de mamar no dinheiro público, revender itens de licitação e de tentar controlar todo o seu leque de funcionários. Chega de colocar incapacitados para cargos importantes e sair falando que fez coisas que não existem. Chega de usar carro e cozinha do município para interesses pessoais. A voz da maioria é a que grita para o povo e pelo povo e disso não podem discordar. Foram 71 votos a mais, apenas. Menos que uma centena. Mas valeu tanto quanto 700. Valeu por todos os gritos engasgados e os abraços que eu recebi de pessoas que nem conheço. Valeu pela cena maravilhosa que presenciei daquela multidão comemorando. Não fui eu quem ganhou, foi a minha cidade. E eu não poderia estar mais orgulhosa. Sanguessugas desonrados que perderam horas e horas de seus dias criando polêmica e insultando a torto e direita. O palanque ficou montando desde quinta feira e disseram que era pra vitória, que já estava certa a um mês atrás. As mesas e cadeiras já estavam sendo colocadas as quatro da tarde mas infelizmente o tiro saiu pela culatra. Eu não posso fazer muito além de lamentar, oferecer meu ombro amigo e convidar a todos pra festa da vitória pois, ao contrário de vocês nós não carregamos mágoas, e vai ter boi no rolete pra todo mundo. Liberdade, liberdade! Abra as azas sobre nós! Aos que ainda insistem, sem uma milésima gota de dignidade, defender o grande sr. atual prefeito, meus pêsames por terem sido e estarem sendo enganados pelas mágicas manipuladoras dessa nuvem negra que cobriu nossa cidade. Sumiram todos, evaporaram. De boi mesmo eu só vi o couro, sendo velado em frente ao palanque.  


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Novos ares

E parece que faz tempo que não passo por aqui, mas é que preferi ficar quietinha, pelo menos por um tempo. Nada aconteceu, ainda. Não estou triste, só quero ficar bem quietinha pra ver a felicidade chegando. Não me pergunte por quê mas já tem alguns dias que uma vozinha na minha mente me avisa pra que eu me prepare. Talvez seja todo o tempo que passou, ou todas as tristezas que vivi, talvez quem sabe as dores que pelas quais chorei. Talvez a recompensa realmente exista e eu deva mesmo me preparar pra ela. Estive aqui encolhidinha, olhando por debaixo da porta. Em alguns momentos eu até cheguei a ver uma sombra mas possa ser que seja a árvore. Ou quem sabe o vento. Estou bem a espreita como alguém espera para dar um susto na pessoa que vem mas, daquele susto doce, que resulta em abraço. Doce felicidade que está no ar, posso sentir o cheiro dela. Nunca a vi de perto mas suponho que cheire tão bem quanto o que eu sinto a um tempo e não sei explicar. E não é questão que eu queira muito, mas é que realmente estou sentindo e igualmente não sei do que se trata porque definitivamente é diferente. Tem horas que o sentimento tá tão sofrido que até a razão trabalha para que a gente fique junto. E todos esses momentos de quase morte que reinam na insanidade finalmente não passaram de leves delírios coloridos em toda uma história preta e branca. Nunca se sabe do passo a frente, somos capazes de ver apenas aonde estamos. Porque a única coisa que realmente importa é o que o destino tem pra mim, o resto é só tempo.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nuvens de algodão

Vivemos cada dia procurando por algo que na verdade nem sabemos que estamos procuramos, ou mal sabemos o quanto precisamos. A gente procura, e quando sabe que está procurando, não se sabe pelo o quê. Mas aí então o momento chega e você mais uma vez de cara com a parede percebe que seu corpo está te mostrando o que a mente está tentando esconder. Somos tão incompletos que precisamos de outro pra compor nossa alma por inteiro, preencher cada vazio do espírito e se sentir absurdamente pleno, cheio de tudo que há de melhor no mundo. E então as tarde são mais ensolaradas e as conversas mais interessantes. Os risos se tornam gargalhadas e todos os dias resultam em ótimas histórias pra contar. Chega uma hora querendo ou não, você acerta. Mesmo que tenha errado, mesmo que o erro tenha vindo por várias e repetidas vezes. A alegria chega mesmo que você não a queira, e mesmo que você evite, ainda que você ache que não é o momento certo ela apenas vem, e se apodera. Apaixonar-se a muitos soa como um fino espinho molhado em molho de pimenta que atravessa a pele sem dó, ou quem sabe apenas dói, de leve. Não se sabe exatamente qual o formato do amor, cheiro ou aparência, mas levando por alto todos os dados possíveis, pode ser que sim. Pode ser que ele começa a frequentar mais os lugares que você frequenta ou, ele sempre veio ali, mas o coração não havia amadurecido o suficiente ainda. Pode ser que ele do nada se torne amigo de todos os seus amigos, e faça isso só pra te ter mais por perto ou na verdade você nunca o notou porque o achou insignificante desde o começo. Ah, mas agora... Agora quem sabe a vida finalmente resolveu me olhar nos olhos e me dar uns motivos a mais pra viver, ou quem sabe uma nova palheta de cores para colorir os meus dias. E já não era sem tempo, esses tons de cinza, levemente avermelhados com pouca luz e pouco amarelo já não estavam mais combinando com o contexto. Querer se apaixonar talvez seja uma das piores punições que uma pessoa dá a si mesma, mas descobrir-se apaixonada é tão sufocantemente encantador que por vezes é difícil perceber e aceitar a ideia. Pode ser que ele finalmente seja ele e sua presença vai se tornar cada dia mais necessária e vital. Pode ser que finalmente tudo tenha se acertado e pode ser que não. Pode ser que façamos de nós as pessoas mais felizes do mundo, mas essa felicidade chegue a durar alguns meses e depois tudo se desfaça como castelos de areia. Pode ser que nada seja como eu penso e mais uma vez bato com a minha cara na parede e me quebro em mil pedaços. Pode ser que nada faça sentido, ou que seja bonito, mas de outra maneira. Outra maneira distante, que provavelmente me renderá mais algumas linhas, mas isso já é assunto pra depois.




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Adeus


De pés frios e mãos suadas. Como eu queria que o tempo passasse um pouquinho mais rápido. Essa maldita sensação de estar entrando calmamente em uma gaiola. Parece doce e eu até que gosto do sabor mas acabo que sempre me enjoa e me sufoca, e como sufoca! Eu luto contra mim mesma para sobreviver mas sempre acabo no mesmo lugar querendo meu ninho quente e sereno. E é como se eu não tivesse controle, em minutos tudo desaba e aqui é o lugar mais certo do mundo e por mais que tudo dê certo sinto como se fosse errado desde o começo. Nada pode parar o tempo, e que se dane a dor, eu aguento, ou pelo menos preciso aguentar. Não nasci pra perder muito menos para desistir. Engole o choro e volta pra estrada que você esta só no começo. Aproveita o que puder e passa por cima do que não der.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Libertados

É, campeão! E já não era sem tempo. 102 anos de história para que finalmente o todo poderoso timão tomasse a taça de melhor das Américas. Mas como já diz o ditado "tudo ao seu tempo". O título inédito veio na melhor hora. Enfim o tal do Curingão parou de fazer tudo o que fazia antes para então jogar futebol. E fez tudo perfeitamente ao pé da letra: Conseguiu um elenco formidável, sem grandes estrelas mas cheio de brilho; Treinou, jogou bem, jogou muito bem, jogou com toda a garra que a torcida pedia e ganhou. Ganhou bonito e tranquilo mais do que merecido. Tudo bem que o jogo foi em uma quarta-feira mas eu particularmente acredito que em muitos lugares será feriado. Acredito tanto quanto os corinthianos acreditavam e acreditaram nesse título. Virou notícia de jornal e tema para o profissão repórter. Tudo o que tem que ser dito está sendo dito em pelo menos 4 dos canais abertos da televisão brasileira. A globo que o diga, Casagrande quase que se esquece que antes de ser corinthiano ele é locutor e jornalista, quase. 30 milhões de gritos de vitória que já estavam entalados na garganta a mais de 35 anos. É, morreu uma piada mas, sem dúvida nasceu um novo time. Venceram a libertadores e enfim estão livres. Se libertaram do fardo que acumularam durante anos sendo motivo de piada para os outros times. O Corinthians sempre teve uma torcida fanática, que idolatra e ama seu time mais do que muita coisa mas nada disso trazia o reconhecimento que eles mereciam. Um dos times mais brasileiros, que joga com alma, como se não houvesse nada no mundo além do futebol. E aqui estamos nós hein... Quem diria que o maloqueiro sofredor, pobrezinho que não tinha casa e não tinha títulos, ganharia uma sede e levaria a libertadores da América no mesmo ano em que foi escolhido para ser a sede da abertura da copa de 2014. 2x0. Não, ninguém fez algo muito excepcional. Tudo o que fizeram já foi feito outras 15 vezes por outros 8 times brasileiros mas, não seria o Corinthians se não comemorasse como alguém que tivesse acabado de ganhar a copa do mundo com quatro jogadores a menos e sem goleiro, ou como alguém que nunca tinha ganhado uma Libertadores (risos). Bem que esses 30 milhões de fiéis poderiam usar metade da garra que possuem para com o seu país e sua educação deficiente com 54 Universidades Federais em greve e ou com a roubalheira no congresso. Mas que continuem os fogos porque aqui ainda tem um bando de loucos...


domingo, 1 de julho de 2012

Desconhece

Ele não sabe quando fui dormir ou que horas acordo. Não se lembra bem qual meu estilo de música predileto e não faz a mínima ideia de quantas vezes eu lembro dele por dia. Me viu cursar e terminar o meu colegial mas se quer sabe que alguns anos antes fui campeã regional no xadrez. Ele não sabe pra que time torço ou qual o meu esporte favorito. Não faz ideia da metade dos meus segredos ou se quer faz questão de me ouvir de vez em quando. É uma ótima pessoa, quando têm tempo. E tempo é o que ele menos tem. Já dizem por aí que a vida é corrida mesmo, assim apenas por ser vida, mas, à olho nu parece ser bem pior pra ele. Talvez seja sua independência forçada, ou sua dependência silenciosa. Saiu de casa novo e não teve muito espaço para amolecer seu coração. Não sei se ao menos posso culpá-lo pela metade das coisas que digo aqui mas, afinal, tudo o que a vida lhe proporcionou foram mais e mais motivos para que se tornasse mais amargo. Eu sei aonde ele trabalha, aonde mora e na maioria das vezes com quem ele anda. Sei quando não está bem, quando está magoado e de vez em quando sei até o que lhe incomoda. Mas eu também não sei se realmente faço falta como ele diz que faço ou se ele ao menos sonha como eu o queria ao meu lado novamente. Eu me engano há tempos e não vejo nenhum problema em continuar com isso mas na verdade, ser feliz seria bem melhor. Ele sabe aonde eu moro mas dificilmente passaria por lá apenas pra ver o meu sorriso, nem que fosse da janela do meu quarto. Não se pode medir dedicação, a única coisa que posso fazer e continuar torcendo para que ela exista de ambos os lados, ainda que seja bem pouquinho, quase nenhuma. Se ele sonhasse como me sinto cada vez que ele solta um "eu te amo" seja em público, no telefone ou pela internet. E se almenos alguém fizesse ideia de como eu desejo que essa frase seja verdadeira, seja como eu penso, não de outro jeito, bem na medida, dose certa. Não consigo lidar com esse meio termo. Na verdade eu nunca consegui. Não quero e não me faz bem. Quero que tudo se resolva, que seja o que eu espero que é ou que pare de brilhar e me deixe viver. Quero que deixem de ser hoje, pra ser sempre. Quero tanta coisa mas raramente concluo, fico só no querer mesmo porque ele se quer faz ideia de tudo isso que escrevi. 


sábado, 30 de junho de 2012

Passagem

Parecia que não teria fim, mas teve. Veio lento, meio secreto, como algo que acontece sem que ninguém perceba. Talvez seja porque ela se quer havia dormido. Há dias que não dormia bem. E não era por nada demais, apenas aquele lugar. A cama de solteiro mal posicionada no canto mais frio do quarto. Ela queria mais. Na verdade ela só queria uma cama de casal. Não qualquer uma e não pelo espaço, apenas aquela, centralizada no meio do quarto, onde apenas a cabeceira se apoia na parede. As roupas. Quantas roupas! Queria ela saber fazer mágica, ou ter uma caminhonete ou algo assim para apenas jogá-las e sair. Mas não, tudo deveria ser feito como mandam as regras, passo a passo. Dobrando uma por uma e analisando suas histórias. Um mês. É pouco tempo mas ela sempre sabe que vai precisar de algo que não estará ao seu alcance. Levou a maior parte de suas blusas. Não que fosse algo relevante mas ela tem uma relação muito melhor com as blusas. Os shorts e bermudas não receberam nem a metade da atenção. "Ah vou levar três. Esse, esse e esse, pronto. Assim tá ótimo!" Sapatos são os mais dolorosos. Sempre quer levar todos e precisa se regrar, coisa que ela detesta fazer. Um para sair, um básico, um tênis e pronto. Não se pode demorar muito se não a dúvida estaciona e a deixa louca. Metade da mala já estava cheia com as coisas que ela queria. A outra metade estava reservada para as que ela precisava. Os cobertores. Ela sabe que soa como abuso mas, nunca conseguirá fazer melhor que a sua mãe. Pronto. Tudo estava certo, agora só fechar dois zíperes e pronto. Os planos não saíram tão bem quanto se esperava. Os sapatos pediram por uma segunda bolsa. Mas esta era autorizada, pequena, dobrável. Levaria nos pés e ninguém a notaria. Tudo pronto. Os primeiros 150kms foram friamente silenciosos. Não sabemos ao certo se era por ela estar tão cansada e tão feliz que dificilmente saberia dizer. Cochilou todo o percurso. Até que seu celular a acordasse, no primeiro destino. Acho que pararam pra pegar animação, ou afins. Dali para a frente risos, conversas, fofocas e mais risos. Aquilo clamava por uma festa. Fizeram como podiam. Até o som que permanecera incrivelmente baixo, mudou. Os  próximos 40km voaram. Só a placa que anunciava a divisa de estados foi notada. E muito comemorada por sinal. Enfim São Paulo! Não que Minas seja ruim, mas fazer o quê? Não se pode negar amor a sua terra natal. Segunda parada, hora de trocar de trem. A despedida foi rápida, ela se quer reparou. Mais 20km. Vinte quilômetros de conversa boa, acolhedora, parece que finalmente estava em casa. E estava. Os latidos das três mascotes da família quando olharam por debaixo do portão e viram aquela mala vermelha de couro confirmava. O almoço estava divino, mesmo com a afirmação horas antes de que ele não existiria. Não seria mãe se não fizesse tudo como gostamos só para nos agradar. E enfim, sentada na mesa da cozinha. Olhando a volta, respirou em paz. Finalmente se sentia segura. Nada de mal poderia acontecer-lhe agora. 


quarta-feira, 20 de junho de 2012

8 dias

Cansei desses trabalhos sem fim e do fim de coisas que não mereciam acabar. Cansei de estar cansada, tão cheia de tudo. Quero paz, tempo, quero eu de volta como era antes. A cota de tristezas e carências já deu e eu não quero que ela passe do limite. Quero que as coisas parem de virar fumaça e que elas sejam um pouco mais concretas do que antes. Que sejam presentes, sem mais nem porque, só aqui do meu lado, do jeito que eu preciso. Quero os abraços verdadeiros de volta, as pessoas que eu posso confiar e principalmente as que confiam em mim. Quero poder dormir sem ter medo de ter que acordar no outro dia. Quero poder sorrir sem ficar pensando porque aquela certa pessoa x me odeia. Preciso depender menos de pessoas que não significam nada e me aproximar mais de algumas essenciais. Quero distância das coisas que me fazem mal e poder pegar com a mão tudo que me faz bem e trazer pra bem perto do meu peito. Abraçar e dormir macio, sem pressa ou desordem. Quero as coisas no eixo, do jeito simples, sem complicações e sem rixas. Quero minhas verdades amargas jogadas na cara que sempre me permitiram ter as melhores e mais fortes amizades de todo o mundo. Chega dessas mentiras doces. Doce não faz muito bem a saúde. Basta de coisas para reclamar que não deram certo. Quero apenas o que tiver que acontecer acontecendo leve sem manha. Sem precisar de um motivo ou de duas horas de discussão. Quero que esses últimos dias passem voando. Para que a dor mesmo que intensa, passe o mais rápido possível. 


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Companhia

Doce libertação de desenhar. Dar a livres traços posicionados a felicidade de representar. Leve e delicado, descontando a raiva, rabiscando. Cheios de cor ou de cinza, escapam pelos dedos como doce terapia. Trazem forma, sentido, dão sentido ao que não tinha forma. É presente, visível. Interpretação do imaginário. Desespero de gritos silenciosos que a alma moldou perfeitamente. Não é dominável, é dominante. Impulso que chega no inesperado, acontece sem ter que acontecer. É limpo, leve, sem maldade alguma. Carrega personalidade basicamente como deve ser. Todos têm seu estilo, sua vocação. Dar cores de vida a coisas da imaginação. São riscos verdes, quadrados amarelos. Sorrisos, flores, doces e pesadelos. Pessoas marcantes ou ilustrações flutuantes. Fazendo pose, marcando a história. Registra a vida em todas as suas evoluções e simplificações. É prazer pessoal, alegria do ser, é exemplificação de você tomando conta de si mesmo. Como a alma purifica o cérebro, e o coração purifica o corpo. Doce aventura que não se necessita de quase nada. É só papel e lápis, grafite ou tinta e pronto, livre estaremos. Como quem carimba um passaporte para ir a outro país, em outro mundo. Outra realidade onde os traços são mais precisos, e a vida mais colorida. É mais fácil ser feliz ou acreditar em algum sonho. Utopia constante, expressa nos cotovelos marcados de quem passou toda a sua infância criando histórias onde tudo era branco. Libertar a alma, trazer a liberdade por entre linhas, riscos e pontos. Símbolos e retas. Solitários preenchendo o nosso próprio vazio. Não é saber, é gostar. Traz da alma em cores, alívio e companhia. E assim sucessivelmente até que as folhas terminem ou que a imaginação se apague.




sexta-feira, 8 de junho de 2012

Passar a vida a esperar coisas e pessoas que não virão. Nem se quer existem ou estiveram.
Sem cigarros, sem bebida. Nada para me alterar e me livrar da podridão que sou e sinto.

sábado, 2 de junho de 2012

Sim. Ando extremamente sensível, melancólica e carente. Meio dopada de antidepressivos e chorona todo o tempo. Mas, como ninguém quer ou precisa saber disso entendam minha ausência de mim mesma e peço desculpas antecipadas por não conseguir lidar. 

quinta-feira, 31 de maio de 2012

À sombra

O sono chega mas não tenho vontade alguma de dormir. Algo meio perdido entre o ter que acordar amanhã e o caminho até a cama que se tornou extremamente perigoso pelo simples fato de estar sozinha. As coisas patinam no mesmo lugar e a única coisa que parece mudar é a cartela de antidepressivos que sempre diminui. São poucas horas de entretenimento, fazendo planos de todos os minutos do dia para que não haja o risco de ficar sozinha nem de mim mesma. Vontade de gritar tão alto até que a garganta exploda ou que seus tímpanos sangrem. Os unicórnios se enforcaram com grandes laços de flores. As cobranças são o triplo do tempo que tenho e os problemas só servem para piorar. As vezes eu queria só virar as costas e sair, sumir, fugir, ser outra pessoa em outro lugar distante. Onde eu não precisasse pensar tanto para sorrir e criar toda uma história em minha cabeça. E quando tudo parece escuro e se torna mais fundo ainda. Então você tinha um milhão de amigos e sempre foram os melhores do mundo e então quando você precisou eles desapareceram. Você passa horas tentando descobrir aonde eles foram ou porque saíram mas então concluí que talvez eles nem se quer estiveram por aqui. Na verdade foram só um monte de ursinhos de pelúcia que alguém espalhou para parecer que eu estou segura mas na verdade eu nunca estive. Braços negros e dedos pontiagudos me abraçam o tempo todo quando na verdade eu só queria um abraço de uma pessoa, assim normal, calmo sem pressa, sem medida ou lugar, que apenas me faça acreditar que não estou completamente perdida ou que pelo menos eu posso encontrar o caminho de volta. Coisas complicadas demais, complicadas pra falar, escrever e pra entender. Coisas que só o travesseiro molhado depois de horas e o sono forçado são capazes de ilustrar.


terça-feira, 29 de maio de 2012

"Aproveite bem o máximo que puder o poder e a beleza da juventude, ou então esquece, você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenha se apagado mas, pode crer, daqui a vinte anos você vai evocar as suas fotos e descobrir de um jeito que você nem desconfia hoje em dia quantas, tantas alternativas, escancaravam na sua frente e como você realmente tava com tudo em cima. Você não tá gordo, ou gorda. 
Não se preocupe com o futuro ou então preocupe-se, se quiser mas, saiba que preocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade da sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada e te pegam no ponto fraco às quatro da tarde de uma terça-feira modorrenta. Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade. Cante. 
Não seja leviano com o coração dos outros; Não ature gente de coração leviano. Use fio-dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo... A peleja é longa e no fim é só você contra você mesmo. Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine. Guarde as antigas cartas de amor, jogue fora os extratos bancários velhos. Estique-se. 
Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam aos vinte e dois o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço, ainda não sabem. Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos, você vai sentir falta deles. Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. 
Faça o que fizer não se auto-congratule demais nem seja severo demais com você. As suas escolhas tem sempre a metade de chance de dar certo e é assim pra todo mundo. Desfrute de seu corpo. Use-o de toda maneira que puder mesmo. Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele; é o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir. Dance, mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto. leia as instruções mesmo que não vá segui-las depois. Não leia revistas de beleza, elas só vão fazer você se achar feio.  
Dedique-se a conhecer os seus pais, é impossível prever quando eles terão ido embora de vez. Seja legal com os seus irmãos eles são a melhor ponte com o seu passado e impreterivelmente quem vai sempre te apoiar no futuro. Entenda que amigos vão e vem mas, nunca abra mão dos poucos e bons. Esforce-se de verdade para diminuir as distancias geográficas e os estilos de vida porque quanto mais velho você ficar mais você vai precisar das pessoas que conheceu muito jovem. 
More uma vez em Nova Iorque mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí mas se mande antes de amolecer. Viaje.
Aceite certas verdades inescapáveis: Os preços vão subir, os políticos vão saracotear e você também vai envelhecer. E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram descentes e as crianças respeitavam os mais velhos. Respeite os mais velhos. 
E não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada. Talvez case com um bom partido mas, não esqueça que um dos dois pode de repente acabar. Não mecha demais nos cabelos se não quando você chegar aos quarenta vai aparentar 85. Cuidado com os concelhos que comprar mas, seja paciente com aqueles que se oferecem. Concelho é uma forma de nostalgia. Compartilhar concelhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale. Mas no filtro solar, acredite."

Pedro Bial

quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Ela imagina flores
com cores que não existe e nenhum jardim;
Tem amigos imaginários
que para toda pergunta respondem "sim"

Tem olhos que contam segredos
e medos que ninguém quer revelar.
Um mar de rosas imperfeito
que parte ao meio pra ela atravessar.

Ela olha o céu encoberto
e acha graça em tudo que não pode ver;
Imagens lentamente derretem,
prometem coisas que ela sabe que nunca vai ser"

Capital Inicial

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Prozac

Caminhando por longos dias sem rumo, seguindo apenas o horizonte. Na verdade por muitas vezes acabou correndo mas não porque queria e sim porque precisava fugir de algo que a muito tempo a persegue. Estava parada bem em frente ao abismo. Muitos e muitos metros de queda livre para dentro de si mesma. Algumas pessoas a chamaram no meio do caminho tentando resgatá-la mas, nenhuma gritou alto o suficiente. Os dias não passam e a noite a deixa amedrontada. Não quer ver ninguém mas não quer ficar sozinha. Talvez ela seja a menina mais idiota do mundo. Nada dá certo. Tudo em que ela está envolvida acaba dando errado em um ponto ou outro. Os passos parecem doer dentro de si. E como o passar do tempo tudo parece escurecer muito mais do que deveria. As únicas pessoas que existem estão meio distantes e nenhuma delas teve coragem de vir até aqui. Nenhuma tentou segurar a mão dela. Não pedira socorro em nenhum momento a não ser as partes que seus olhos gritavam em lágrimas. Não, a escuridão não é objetiva. Alguns podem rir ou soltar algumas piadas. Outros viram a se perguntar: De novo? E a resposta é sempre a mesma: Sim, novamente. Nova e incansavelmente. As coisas não fazem sentido e as dores dentro de você criam vida própria e começam a latejar por dentro. Não ouvia um "eu te amo" a tanto tempo que qualquer assovio seria banhado a ouro. A raiva de si mesma ilustrada em várias feridas pelo corpo que até então pareceram surgir do além. A única coisa que lembra a psiquiatra são as receitas de aumentos gradativos de calmantes e sedativos. Longos três anos se passaram até que fosse possível sair do abismo. Não é nem um pouco tão fácil quanto parece. Na verdade, quem já caiu sabe que é a coisa mais difícil do mundo. Ainda mais porque o mapa fica grudado na sua mão, e qualquer descuido te leva ao limite novamente. Nenhuma de todas as drogas e todos os entorpecentes ajudam mais. Quanto mais fundo se chega, mais dói. Talvez tudo aquilo que dizem sobre as pessoas que mais parecem felizes serem as mais tristes seja a mais pura verdade. O tempo perdido no fundo do abismo ensinou a não deixar que ninguém vá pra lá e tentar animar a todos é a unica função vital de um sobrevivente. E ainda que escreva, chore ou peça socorro. O mapa vai continuar à mãos. E não importa se você vai escrever vinte linhas, falar por duas horas ou gritar por dois dias. Ninguém sabe o quanto é ameaçador e frio lá embaixo. Não é não poder, é não conseguir.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Os espaços entre os abraços


E se a saudade fosse pouco acho que mesmo assim não caberia. É imensa na sua menor miniatura. Está presente todo o tempo, não passa, não cessa. Cada adeus que sai da boca é tão dolorido quanto o anterior. É meio que diferente mas soa totalmente igual. De lá, vai sentir saudade de cá, e consequentemente quando estiver de cá, vai querer voltar correndo pra lá. A distância não tem muita utilidade mesmo além de manter-nos longe de coisas que em geral queríamos ao nosso lado. E com o passar do tempo os lugares só aumentam e as pessoas multiplicam. Você começa a tentar se dividir, estar por toda parte o tempo todo. Desejando ser um pássaro, para ser verdadeiramente livre, longe de qualquer parede que possa segurá-lo.  Quero as lembranças das farras na adolescência junto com as piadas sobre a ultima festa. Quero meu presente, passado e futuro, de mãos dadas, bem na minha frente, onde eu pelo menos ache possível controlá-lo. Quem dera eu me livrar da saudade, pra sempre. Não por ela não mais existir e sim por não dar tempo de que chegasse. Queria um lugar onde a distância não interferisse e que não dependesse dela para ver ninguém que gostasse. Um lugar onde tudo fosse tão pertinho que eu poderia alcançar com o próprio coração, deixando bem do ladinho do peito. Se bem que uma dosesinha de saudade de vez em quando não vai matar ninguém não é mesmo? Eu ainda acho que na verdade a saudade seja o tempero da vida, que faz as coisas valerem a pena e te mostra quem realmente se preocupa com você. Quero meus amigos de infância, e os novos, e os de passagem, e os velhos e todos. Quero minha casa paulista, a mineira, as que já passei e as que ainda vou morar. Sem espaços, só abraços.



domingo, 22 de abril de 2012

Não existe liberdade. O que existe são gaiolas maiores. 
- Luis Sescão

Constante

E chega um momento que você apenas pára, e descobre que não faz a mínima ideia do que está fazendo. Você cresce sonhando e calculando perfeitamente todos os seus passos de toda a sua vida e do nada dá de cara com a parede e percebe que a fantasia não condiz com a realidade. Você se descobre deixando de ir a lugares que quer muito para ir a outros que detesta. Deixa de fazer as coisas que gosta porque não quer atrapalhar. Passa tanto tempo se preocupando com todos a sua volta que no final das contas não sobrou tempo para que ninguém se preocupasse com você. Perde tempo da sua vida pensando o que o outro vai pensar sobre isso e quem vai se sentir ofendido, tempo valioso. Percebe que passou a fazer a maior parte das coisas que repudiava. Até mesmo o dono do boteco na esquina tem muito mais vida que você. Passa a fazer um milhão de coisas para agradar a todos e se revolta porque na verdade percebeu que ninguém faz nada para te agradar. As pessoas que fariam estão longe, e distância anda complicando muito as coisas hoje em dia. Passa a comer coisas que odeia, conversar com pessoas que mal suportava. E do nada, pára e surta. Descobre que na verdade, está perdido. Você não fez nem a metade de tudo que sonhou fazer até aqui, somente a metade que jurou não fazer foi concluída, de forma contrária é claro. Percebe que na verdade não quer absolutamente nenhuma das escolhas que fez e que nem foi você mesmo que escolheu. Talvez, se pensar ao fundo, nem se sente você mais. É apenas um amontoado de outras pessoas e suas vidas. A sua foi anulada. Tudo o que todos ao redor precisar, e nunca poderá precisar de nada. E é nessas pausas que seu cérebro trava e a nostalgia alaga. Mas na verdade você nem sabe se o que sente falta foi real. Tudo te irrita de tal forma que você sente vontade de virar as costas e sumir, virar a página. Talvez pegar um livro todinho em branco e reescrevê-lo do jeito que planejar até que, daqui a algum tempo você perceba que o problema talvez não seja as pessoas mas você próprio, que nasceu com esse dom; Uma contante de erros irredutível.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Á cobrar


Andar distante, estar sumido. Todo mundo já se percebeu assim um dia. Sim, andei perdida. Não faço a mínima ideia de onde estive até porque se soubesse teria voltado por antes. Ou não. Talvez eu nem tenha voltado por querer, foi bem mais por ter que voltar. Sem pressa, sem correria. Lentamente distante. Fugindo ou não, estive bem além de todos os lugares antes visitados. Ando andando por ruas tortas, cheias de risos molhados de lágrimas. Estonteantemente confuso. Mais confuso que eu, e meu gato risonho. Gostaria que fosse mais perto, para que pudesse visitar com mais frequência sabe? Tipo aquela casa da vizinha, que você sempre passa pra tomar um café. Eu até que gosto de lá, mesmo não sendo em lugar nenhum, sempre me enche de paz. As coisas andam caminhando bem, pelo mesmo caminho sinuoso que eu vou, feito de tijolos dourados, a procura de um coração, coragem, na verdade a procura de algo que faça enfim tudo dar certo. Pelo menos desse lado tenho uma cota muito maior de sorrisos e lembranças doces para o chá da tarde. Espero que não me façam voltar tão cedo. É como nascer prematuramente forçado. É meio difícil conversar a essa distância, tal como é difícil sonhar enquanto se está acordado. Sabe quando a felicidade lhe convém e torna-se incrivelmente necessária. Cabe no momento, no lugar. Aquela paz que faz você querer se apaixonar, trocar o guarda roupa e conversar muitas novidades com amigos antigos. Aquele sentimento estranho que te faz querer sair num domingo chuvoso e atravessar a cidade só pra tomar aquele sorvete. É sorrir enquanto tudo dá errado e assim convencer-se que está tudo perfeitamente bem. E está. Pelo menos aqui desse lado da linha. 


sexta-feira, 16 de março de 2012

Borboletas

E quando você passa a vida toda procurando alguém que você não sabe quem seja. E não existe a menor dica, ou suspeita até que você bate de frente com a felicidade. Cuidado, o brilho pode ofuscar os seus olhos. E ele não vai prometer apenas amor eterno e todos esses clichês. Ele vai te abraçar, e no seu abraço você vai se encontrar e se sentir a pessoa mais segura e feliz do mundo. Bem ali, naquele momento você vai descobrir que a vida pode ser bem mais doce do que tudo que você tinha imaginado. Ele vai bagunçar seu cabelo, e antes mesmo que você possa abrir a boca para reclamar, vai encher seus ouvidos de elogios, porque para ele, você sempre será a garota mais bonita do mundo. E ele vai aguentar seus dias ruins, e vai te ligar quando você estiver sozinha. Será capaz de passar horas e horas só olhando para os seus olhos. Terá o melhor abraço do mundo, e também os melhores carinhos. Não vai deixar que uma só lágrima escorra pelos seus olhos. Viverá por te fazer rir, e acima de tudo, feliz. Você não vai precisar se quer lembrar que um dia no mundo ouve tristeza. Todo o vazio se preencherá. Tudo ficará muito mais colorido e fresco, como a primeira manhã de primavera. Você vai vê-lo todo o tempo e ainda que esteja de mãos dadas, sentirá como se tivesse distante demais. E um milhão de músicas vão tentar, e mais outro milhão de poemas vão praticamente conseguir descrever tudo o que estará acontecendo, mas não poderão. Será coisa demais até para você. Será tanta coisa que assim que ele virar as costas você vai deitar no sofá e sorrir bobamente como se pudesse parar o tempo só para se lembrar dos momentos lindos que tiveram. Não existe manual, não tem receita. Não se preocupe, é tão necessário quanto respirar. Poderá ser possuidor de um defeito: a demora. Sim, pode demorar mas, não se apavore, ele vem. De um jeito ou de outro, cedo ou tarde, ele chega. E mais do que nunca, quando chegar, você saberá.



quarta-feira, 14 de março de 2012

Manual

E vai vagando. Caminhando. Deixando que a vida me leve como uma leve brisa de outono, ou de inverno. Gosto de ouvir MPB enquanto todos ouvem rock. Se quiser adivinhar o que eu estou pensando fique a vontade, é um direito todo seu. Gosto de sorvete, riso e companhia. Ainda uso algumas piadas velhas e abraço o travesseiro do mesmo jeitinho. Quem me garante, que de hoje em diante será diferente? Minha avó ainda espera pelo dia que eu vou aprender a tocar acordeon sem que eu tenha se quer aprendido o básico do violão. Dessa vez não tive medo, e mesmo assim não disse sim. Eu me perco tentando explicar coisas inexplicáveis, escrevendo coisas para ninguém ler, falando de problemas que ninguém quer saber. E tudo acontece como eu queria e de repente descubro que não quero mais. Perde o gosto, a cor. Quero meus amigos todos para mim, e quero todos os amigos do mundo. Quero muito até perceber que na verdade nunca quis. Pode me chamar pra dançar, mas eu nunca saberei. Mesmo sem jeito, o jeito é tocar pra frente e acabou, isso é o que o amor faz. Pegando idéias soltas, pra cantarolar sem me importar. Esperando o dia amanhecer só pra poder dormir com o sol. E me explique onde você está, mesmo que longe eu vou te buscar. Bem assim, mesmo que nem eu mesma entenda. 


domingo, 4 de março de 2012

Dois mais um

Existia muito antes mesmo de existir ou se concretizar. Foi três antes de ser um, antes de ser até mesmo três. Estava aqui quando nem mesmo nós estávamos. Foi criado antes de que se possa imaginar. Era os três porquinhos, três mosqueteiros, três reis magos. A perfeição, perfeito imaginário de três lados, incomparável sentimento.  É mais do que se possa medir. Nem dois, nem quatro, apenas três. Toda a imensidão e a facilidade da vida vindo apenas de um abraço. É a trindade. O básico e único. É triangulo, círculo e quadrado. Amarelo, vermelho e azul. E a cidade é nossa, e podemos cantar quando quisermos. É carinho, amor, respeito, compreensão. É não conseguir ser um sem ser três. É passar a noite toda conversando, e sair na rua as cinco da manhã para ir na padaria e melhor que isso, se divertir por fazê-lo apenas estando reunidos. Imenso e irredutível, inigualável sensação. Não existem senhas ou se quer limites. É paz, fidelidade e alegria. São as brigas, os abraços, as mordidas e os puxões de orelha. Estar sempre por perto ainda que não visível. É confiança, além de qualquer outra coisa que possa ser. Sem razão, sentido, sem explicação. E todos os maços de cigarros do mundo irão terminar em três, pois não existirá como reduzir mais. Nada terminará com menos de três. Não existe eu sem vocês, assim como não existiria o três sem o um. E se for necessário separar que então seja pela morte, todo e qualquer restante seria insuportável. Sempre três e sempre nosso.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mais que tudo, mais que sempre

E a quem mais eu queria enganar? A dúvida na verdade era apenas uma: por quanto tempo mais. Por quantos dias eu poderia seguir enganando a mim mesma e a todos ao meu redor. Sabe, certa vez ouvi uma música, e ela nunca me serviu tanto como agora: posso mentir mas, não posso me enganar. Achei que pudia, quem dera termos o controle da vida, ou melhor dizendo, dos sentimentos. Mais de um ano. Doze meses. Trezentos e sessenta e cinco dias. Oito mil, setecentas e sessenta horas. Muito além disso, bem mais, bem além. Não sei o que me assusta mais: se é o quanto fui otária para achar que podia ir contra eu mesma ou quem sabe por lutar contra algo que tanto valeu a pena um dia. Algum dia. O quão distante estaria esse passado que tanto ando pedindo de volta? Falta não é mais a palavra correta, preciso urgentemente voltar a viver e até agora isso não foi possível sem você. Ainda não sei aonde todo aquele presente lindo que tínhamos se perdeu, preso a lembranças dolorosas de quem um dia foi feliz. Não sei o que deu errado, não sei o que fiz de errado. Talvez eu me culpe demais por coisas desnecessárias, mas entre elas a maior é por não conseguir de volta. A única coisa que mantém minhas esperanças é saber que da mesma forma que não posso voltar ao passado também não posso controlar o futuro e quem saiba ele seja um pouco mais bondoso comigo. Andei pensando que o alguém da minha vida poderia ser eu, me enganei. Me iludi pensando que uma hora, em algum lugar ele apareceria e meus lábios se lembrariam o que é sorrir. Um monte de pequenas histórias contadas e posicionadas perfeitamente aos meus pés como colchões de apoio para amenizar quedas e dar segurança. E agora, em menos de duas horas, tudo foi jogado para o alto, e todo o meu corpo insiste em gritar que tudo que preciso é você. Você, apenas você, seus defeitos, seus carinhos, seu sorriso, você. Se não fossem meus amigos eu teria te ligado e quero que saiba, é de você que falo e sorrio bobamente. É com você minhas melhores lembranças, e todas as únicas recordações que não quero nunca, jamais, me desfazer. Se aquilo não foi felicidade, então me perdoem, mas eu nunca se quer respirei.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

E(n)d

E a saudade. Serena como sempre, porém totalmente diferente. Veio com muito mais força, como um touro que acaba de escapar. Não foi a mesma saudade, dessa vez veio dolorida, não como doce lembrança mas como uma vontade verdade de poder voltar e fazer tudo novamente. Uma simples foto e tudo me fez falta, falta de absolutamente tudo. Pareço não conseguir me lembrar do seu sorriso. Cheguei a um ponto que poderia trocar tudo por um simples abraço. Poder conversar o que fosse, ser compreendida. Antes de ser qualquer coisa era meu amigo, verdadeiro amigo. É uma falta que poucas pessoas saberão o quer realmente representa. Necessidade de compreensão, um afeto diferente, único. Foram tantas coisas que passamos juntos, tantas risadas e segredos e agora parece que nada é suficiente. Necessidade louca de virar as costas e voltar correndo, sem se importar com absolutamente nada. Ter você de volta, de uma forma ou outra. Não é estranho que faça quase um ano sequer te vejo sendo que à algum tempo atrás você foi tudo o que precisava. A vida prega peças, a saudade mais ainda. Você nunca sabe o que vai acontecer depois de uma crise dessas. Carência absurda e nem o telefone é capaz de preencher. Como eu queria realmente voltar atrás, ou quem sabe, trazer algumas coisas do passado para o presente. Entre todas elas a única que me importaria é você. Promessas de fazer tudo diferente não vão mudar nada mas, se puder, volte por favor. Talvez amanhã ou daqui a uns dez minutos, sequer me lembre de você, ou talvez outras coisas substituam como sempre acontece.  A saudade é sempre assim, vem, vai, some, sufoca. Mas se eu pudesse pelo menos acordar ao seu lado, então cada lágrima nostálgica que molhou o meu travesseiro nessa noite chuvosa e vazia teria pelo menos feito algum sentido. E a saudade. Sempre.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Promessas

Um ano novinho começou e como não poderia ser diferente, junto dele vieram um bom punhado de promessas. Temos essa pequena generosa necessidade, seja de prometer algo para os demais ou para nós mesmo. O simples nascer do sol representa à muitos a promessa de um dia melhor. Prometemos começar uma dieta nova na segunda, parar de beber aos fins de semana. Prometemos ser mais felizes, dever menos, comemorar mais. Prometem a nós que todos temos uma cara metade e um milhão de razões para continuar. Prometemos aos outros que nunca mais vamos errar e começamos já errando. Prometi que ia escrever mais e que não ia mais chorar, e aqui estou eu, quebrando comigo mesma. Depois de tanto tempo vagando cheguei a conclusão que talvez a promessa seja algo necessário, ou no mínimo se tornou necessário ao ser humano. Prometemos que vamos parar de beber logo depois de tomar um porre, talvez por necessidade de explicar a vida ou qualquer coisa em si. Prometemos que não vamos nos apaixonar novamente logo depois do primeiro tombo. Dizemos que vamos mudar logo depois da primeira briga. A promessa sempre vem depois do erro, talvez faça parte da rotina da vida. Aproveitar mais as férias e começar a acordar ao meio dia. Prometer não fazer mais promessas, até onde vai? De hoje até que eu quebre quero parar de prometer e ver se as coisas começam a acontecer meio que sozinhas, mais espontâneas e livres. Ser mais feliz talvez. Talvez precisássemos realmente disso. De um certeza incerta que nos dê todos os dias uma nova dose de esperança como algo que move a vida, com o simples propósito de nos manter em frente.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A nós

Nunca fui uma criança muito focada em absolutamente nada. Gostava de fazer várias coisas ao mesmo tempo para que não desse tempo de me entediar de nenhuma. Primogênita, muitos foram os planos nomeados a mim. Minha paixão pela televisão e principalmente pelos desenhos animados se tornou obsessão, e acabou afastando as outras crianças. Por muitos anos meu brinquedo predileto foi os quebra-cabeças mas, logo deram lugar aos cadernos de desenho e lápis para colorir. Cheguei a me envolver com jogos de tabuleiro, mas nunca, em nenhuma hipótese gostei de bonecas. Não entendia muito bem ao certo porque eu era tão diferente de todas as meninas da minha sala. Eu não pertencia aquele mundo. Enquanto a maioria lutou por uma vaga no time de vôley do colégio, lá estava eu, me esforçando para competir no xadrez. E anos e anos se passaram. Essas "diferenças" sempre se refletiram muito em minha vida acadêmica.  Talvez influenciada por minha mãe, Professora de Arte pós graduada, fiz todo e qualquer tipo de curso que estava disponível. Pintura em tela, em tecido, em sabonetes e em madeira, artesanato, velas decorativas, balé, violão, vários de informática, inglês e enfim técnico em farmácia. Mas eu nunca soube na verdade o que exatamente eu queria para minha vida. Passei por veterinária, pintora, arquiteta, diplomata e farmacêutica. Vários testes vocacionais e apenas uma resposta: humanas. Certo humanas, mas como todo e qualquer ser humano eu gostaria de alguma vez na vida ter tido a certeza de algo a respeito de mim. Um foco, uma única opção. E então eu tive um sonho, e acordei tão feliz que gostaria de poder condensá-lo a ponto de colocar em potes e distribuir por aí, e então me veio: Quero fazer as pessoas felizes, mas não apenas felizes, quero que elas sejam extremamente felizes assim como estou agora. E então outra busca começou, a busca pela profissão da felicidade e, depois de algumas reflexões eu decidi: serei uma vendedora de sonhos. Alguns riram mas a maioria não me compreendeu, até que, três anos depois aqui estou eu, começando o segundo ano de publicidade e propaganda.

Feliz Dia do Publicitário.


sábado, 28 de janeiro de 2012

9:55am

Bom dia, não sei quanto a você mas acabo de acordar. Sono leve como um cochilo de cinco minutos, sono longo de exatos vinte e nove dias. Sono leve e longo. Extraordinariamente necessário. E como eu queria que tivesse durado mais, nem que ao menos fossem mais um, ou mais dois. Só mais algumas horas para conversar e ficar sem fazer nada, como se o mundo exterior não existisse. Não tem contas para pagar, horário para acordar, livre como a pena que dança e sorri pelo ar, passando pela janela, de longe. Eu disse, jurei, prometi, e peço a quem eu puder pedir, não me deixem abandonar-me. Não abandonar a mim, mas sim abandonar o que me tornei. Vinte e nove dias de um belo sonho, sem nada muito grande, na verdade tudo muito simples. Eu precisava, e como precisava, sempre precisarei. Tantas coisas a serem feitas, ditas, pensadas, escritas, e o remorso por ter acordado começa a martelar a mente. Semelhante a quando acordamos cinco minutos antes do horário necessário e estes cinco minutos se perdem em meio ao próprio tempo. E quanto eu lutei para não colocar os pés no chão. Sabe, às vezes, só de vez em quando, o chão está bem mais frio do que aparenta. Talvez o maior problema não seja o acordar em si e sim o quanto corpo e mente lutam contra isso. Será realmente necessário? Toda a solidão e todos os problemas. De um lado tão frio, outro tão quente. Talvez seja só saudade, sim, saudade. Não existe tempo nela. Mais presente e necessária que pareça. Só nos damos conta quando sufoca, aperta o coração e escorre pelos olhos. Talvez não seja muito além do tempero da vida: estar aqui sentindo falta de lá, e estar por lá morrendo de vontade de cá. E vamos indo e vindo que uma hora tudo passa, tem de passar. Um ano inteiro já foi, aqueles malditos cinco meses terminaram e felizmente com esses 70 dias também chegarão ao fim. É fácil falar um milhão de coisas a respeito de algo o difícil é rasgar mais de duzentos quilômetros segurando o choro e dizendo pra si mesma que essa despedida não é permanente. Pelo menos nada volta, ou infelizmente. Só se toca a vida para a frente, sobre o passado só memórias, cabe a cada um medir se serão boas ou ruins. Preencher o oco com outras muitas sonecas, sonos leve, longos.