quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Banho de chuva

No interior úmido de um bosque, um macaco e uma raposa mantinham uma amizade incrível. Ninguém nunca acreditou muito nos dois, ou se quer chegou a entender como aquele relacionamento acontecia. Eles simplesmente eram, e foram desde o primeiro minuto em que eles se viram.
Juntos eles viveram bons tempos sozinhos, excelentes períodos de felicidade com seus bandos e já haviam sobrevivo até a uma grande traição, que mesmo que ainda doa não havia conseguido separar os dois.
Ambos já choraram muito. Tanto que já souberam que iriam secar por dentro, inteirinhos, e virar pó. Mas não. A Raposa esteve ali pelo Macaco, contando com a presença dele como um verdadeiro irmão.
Irmãos que nasceram de um banho de chuva.
Muitas estações se passaram e no meio do caminho, a Raposa ficou triste. Muito, muito triste.
E em um belo dia o Macaco não esteve ali.
Desta vez, pela primeira vez em muito tempo, o Macaco estava cumprindo seu papel na floresta, e por um minuto, esqueceu-se o quanto era importante que ele continuasse ali. Costumava ser o elo entre eles, esse fato de ambos terem vidas que apenas davam errado. Eles sabiam disso, e riam todos os dias, juntos, mas agora não fazia mais sentido.
Um belo dia ele até que quis ficar, mas não deu. Ele tentou continuar, mas não estava lá.
Seu corpo continuava ali, um Macaquinho bravo, gritando com a Raposa sobre as coisas bonitas da vida e como ela não poderia mais ficar triste assim. E a Raposa só ficava mais e mais triste, sozinha, suplicando que o Macaco a entendesse, porque se ele não o fizera, quem poderia?
Vez ou outra, na primavera, eles se enganavam trocando cartas. Insistindo que ainda eram amigos e nada havia mudado. Mas tudo mudou. O mundo gira em tangente, nem tudo é recíproco como deveria.
O Macaco cresceu na vida, se tornou chefe do bando e migrou para o litoral.
A Raposa começou a cavar uma toca, e disse que cavaria até não ter mais forças.
No outono seguinte aconteceu um grande incêndio, milhares de hectares transformados em cinzas.
Assim como aquela amizade.
Assim como todo o restante.
E a Raposa, que finalmente parou de cavar.