segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Queda livre

E quanto mais você tenta se conectar mais distante as coisas ficam. Algumas solidões são bem mais insolúveis que as outras. Clarice já se deparou sozinha no meio de um dúzia de amigos por bem mais que uma vez. Sentia quase sempre a aflição de ser ausente. Uma sensação improvável que atordoa qualquer um dos sentimentos. Porque tinha que ser assim? Quanto mais saudade sentia mais longe ficava e muito mais demoraria até que o fim chegasse. Era raso e úmido, pouco mais poderia se concluir sobre aquele local. Tão apertado quanto um armário no fim do corredor. É muito mais complicado do que poderia ser. Ela sempre procurou ajuda aqui por perto mas, em poucas vezes chegou a encontrar. É um pouco daquilo tudo que não se pode ser feito ou se quer resolvido. É amargo e nunca fez nenhum bem a sociedade. Mas era algo que fazia parte dela, um azar que vinha do berço. Carregava consigo essa maldição em depender de tudo que não poderia. E, principalmente, de pessoas. Se preocupava mais com os outros do que com si mesma, e se perdia, constantemente em cuidar dos outros. O mais estranho, entretanto era o como não conseguia decidir se amava ou odiava seu pequeno dom torto. No fim das contas, não fazia nada muito além de amar demasiadamente. Amava tanto que sofria cada um dos minutos que perdia. Sofria por todo o tempo em que não podia estar junto, perdera outros dos minutos mais especiais de sua vida. Se arrependia décadas antes de concretizar o tal feito. Gostava de se sentir errada para poder entender sua alegria. 



domingo, 7 de setembro de 2014

Sobre dós, e rés.

É estranho como as coisas têm o poder de simplesmente acontecer, quer você queira ou não. Assim como é incrível a forma como certas coisas nos afetam sem que ao menos seja plausível. Eu não o conhecia, não além de algumas histórias engraçadas, daquelas que a gente conta em noites quentes de quinta feira. Ninguém poderia evitar, assim como eu também não pude. Sentir-se de mãos atadas diante de uma situação como essa já é algo extremamente sufocante, agora imagine como é quando você sabe exatamente como é o outro lado. Não é bonito, nunca foi. Um completo mix de tudo que existe de frio e triste no mundo. Um acúmulo de solidão inconcebível e desnorteante. E como se já não bastasse toda a infelicidade reunida ainda vêm o vazio de saber que poderia ter sido diferente. E se estivesse chovendo? Talvez as gotas de chuva inspirassem algo parecido com um pôr-do-sol. Talvez uma música que tocava na rádio da cidade, ou um cachorro que brinca com todos que passam pela rua. Só eu sei a sorte que tive em conseguir passar por tudo isso sem me afogar. Sim, sorte. Pura e absolutamente sorte. Vai bem além de força e qualquer outra palavra de incentivo. É um buraco negro dentro de você que te suga e prende num infinito úmido e solitário. Eu consegui passar por lá, e além disso ainda consegui viver. Sim, pra viver é necessário tentar. Não existe forma cabível de se viver se você não realizar efetivamente essa tarefa. Não existe receita para isso, apenas a certeza que em algum momento você vai olhar pra cima e simplesmente se sentirá grato por tudo que você possui e tudo que está ao seu redor. Aquele milésimo de segundo que você para e vê que você tem os melhores amigos do mundo, e que talvez você esteja na melhor festa do mundo porque afinal você está ali. É um toque na sua vida, um click que te faz acreditar que não importa quantos problemas você tenha, a vida é bem maior que isso.