segunda-feira, 14 de maio de 2012

Prozac

Caminhando por longos dias sem rumo, seguindo apenas o horizonte. Na verdade por muitas vezes acabou correndo mas não porque queria e sim porque precisava fugir de algo que a muito tempo a persegue. Estava parada bem em frente ao abismo. Muitos e muitos metros de queda livre para dentro de si mesma. Algumas pessoas a chamaram no meio do caminho tentando resgatá-la mas, nenhuma gritou alto o suficiente. Os dias não passam e a noite a deixa amedrontada. Não quer ver ninguém mas não quer ficar sozinha. Talvez ela seja a menina mais idiota do mundo. Nada dá certo. Tudo em que ela está envolvida acaba dando errado em um ponto ou outro. Os passos parecem doer dentro de si. E como o passar do tempo tudo parece escurecer muito mais do que deveria. As únicas pessoas que existem estão meio distantes e nenhuma delas teve coragem de vir até aqui. Nenhuma tentou segurar a mão dela. Não pedira socorro em nenhum momento a não ser as partes que seus olhos gritavam em lágrimas. Não, a escuridão não é objetiva. Alguns podem rir ou soltar algumas piadas. Outros viram a se perguntar: De novo? E a resposta é sempre a mesma: Sim, novamente. Nova e incansavelmente. As coisas não fazem sentido e as dores dentro de você criam vida própria e começam a latejar por dentro. Não ouvia um "eu te amo" a tanto tempo que qualquer assovio seria banhado a ouro. A raiva de si mesma ilustrada em várias feridas pelo corpo que até então pareceram surgir do além. A única coisa que lembra a psiquiatra são as receitas de aumentos gradativos de calmantes e sedativos. Longos três anos se passaram até que fosse possível sair do abismo. Não é nem um pouco tão fácil quanto parece. Na verdade, quem já caiu sabe que é a coisa mais difícil do mundo. Ainda mais porque o mapa fica grudado na sua mão, e qualquer descuido te leva ao limite novamente. Nenhuma de todas as drogas e todos os entorpecentes ajudam mais. Quanto mais fundo se chega, mais dói. Talvez tudo aquilo que dizem sobre as pessoas que mais parecem felizes serem as mais tristes seja a mais pura verdade. O tempo perdido no fundo do abismo ensinou a não deixar que ninguém vá pra lá e tentar animar a todos é a unica função vital de um sobrevivente. E ainda que escreva, chore ou peça socorro. O mapa vai continuar à mãos. E não importa se você vai escrever vinte linhas, falar por duas horas ou gritar por dois dias. Ninguém sabe o quanto é ameaçador e frio lá embaixo. Não é não poder, é não conseguir.