terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Viajante

Mariana tinha o conhecido em alguma das estações anteriores. Talvez em um passeio no bosque ou na fila do supermercado. Queria vê-lo feliz acima de qualquer outra coisa no mundo. Perto e distante, o quão longe se pode estar de algo que você pode ver? Colaria se pudesse, pra nunca mais soltar. Como o espaço se tornou denso, e nenhum do dois conseguiu atravessá-lo, nunca, ela passou a escrever contos leves e mal alinhados onde poderia manter o caderno próximo ao seu peito e tê-lo pela primeira vez dentro de um abraço. Contava todas as histórias mais bonitas já contadas. E ele sempre foi o final mais do que feliz. Era fácil pensar neles juntos, assim como era fácil viver quando ele estava na ponta dos seus dedos. As palavras fizeram companhia a ela por anos. Religiosamente, todos os dias as quatro da tarde. Eram dois biscoitos caseiros de baunilha, uma xícara de chá e meia página de Jimmy. Neste ponto não sei informar se era o nome real do moço, mas era o que ela conseguiu ler, etiquetado em uma de suas malas. Poderia se tratar da marca, ou da coleira do cachorro mas ela sabia que era um bom nome pra aquele sorriso largo. Não se sabe se a tinta acabou, se o papel se rasgou, a história se perdeu. Ninguém nunca perguntou se ela cansou, se separou, ou se simplesmente decidiu que terminara. Era uma certeza tão gasosa que não se assustava pela desconfiança. Era frágil, delicado e indefeso. Protegido por uma distancia meticulosa e fria, solidão. Era frágil, extremamente frágil, tal como outros mil amores  que nasceram em uma estação.