quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Mais leite que café

O tempo então passa, passou. Feriados, fins de semana, férias inteiras chegam e se vão como areia no vento. A distância pode ser pequena, mas aumenta conforme cresce a saudade. Não há como não sentir falta. Não são apenas lembranças, toda sua vida ficou para trás. A vida que você viveu até aqui, daqui para frente é outra história. Como comprar um caderno novo, você sempre se lembrará de algumas frases que era bem mais legais só que elas estão no caderno velho... Morar sozinho é legal, o problema é ficar longe das pessoas que você queria mais perto que qualquer outra. Seu desejo de comer lasanha não é mais realizado no domingo e se você se comportar bem mas, também não passa de uma bandeja de congelados. Você pode tomar quantos porres quiser, no dia que quiser, mas sabe... não vai ter ninguém que se importe tanto com você e isso não é tão legal quanto parece. Você pode virar noites fazendo trabalho, festejando ou jogando vídeo-game e isso realmente não fará diferença. Feijão talvez se torne o prato mais mágico do almoço e você finalmente descobre porque ela reclamava tanto quando você sujava muita louça. Suas conquistas não são comemoradas com abraços e festejos de todos ao seu redor, o máximo que você consegue é um parabéns e um gritinho de felicidade mas ao longe, pelo telefone. Emails, redes sociais, celular... a saudade geralmente fica tão grande que não cabe mais em lugar algum. As pessoas da sua cidade passam a perguntar de você e você realmente percebe que era notada e quem sabe, até querida naquele vilarejo de onde veio. As visitas da sua mãe ao seu quarto não são mais aterrorizadoras e se tornam a cada segundo mais desejadas. Um carinho, um olhar, ou até as broncas fazem falta, tanta falta. Você começa a ficar triste sem motivo, e se afunda em chocolates torcendo para que seja tpm e não é. Você sabe que não é. Sentimento mais urgente que existe, porque me torturas tanto? Você enjoa das músicas e dos seus filmes prediletos. Enjoa das piadas, das conversas e das companhias. Quer apenas uma coisa: pisar no chão vermelho onde você aprendeu a andar. Ver aquele monumento ridículo que você adorava zoar ainda lá, do mesmo jeito e seus olhos enxerem de lágrimas sem se conter. A igreja ainda está lá, caminhando lentamente em sua reforma que já dura onze anos. É necessário sair para que se possa sentir saudades. E talvez seja não só o sentimento mais urgente, mas talvez o mais necessário. Aniversários, festas, datas, tudo vai vem e o máximo que pode fazer é mandar uma mensagem ou telefonar. As roupas não terão o mesmo cheiro mesmo que use o mesmo amaciante e o mesmo sabão em pó. Têm bagunça por toda parte, no quarto, na cozinha, no coração. Jogando roupas pelo quarto como quem se livra de dores que pensam-lhe a alma. Não resolve, você sabe que não. Ninguém va arrumar seu quarto, ou berrar até que você arrume. É simples, se você esquece roupas no varal e chove, tudo vai molhar. Não tem mais almoço pronto te esperando no fogão, nem café da manhã arrumadinho na mesa, é você por si e ninguém mais e isso as vezes cansa. Sei lá, as vezes a saudade ultrapassa seus limites e suas medidas; Passa de saudade para solidão, não se pode conter. Talvez nem seja tudo isso que parece, e a dor seja bem menor. Talvez eu só precise de um descanso, um abraço ou alguém que pelo menos pareça se preocupar. Desculpem-me pelo desabafo mas, saudade dói, e não me ensinaram a sofrer.