sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Anagrama

Desculpa te ligar assim tão tarde, desculpa por deixar essa mensagem, desculpa principalmente pelas coisas que eu ainda não disse. Peço perdão pelos dias em que eu não me deixei, os momentos nos quais me aprisionei, fechei todas as entradas e escolhi viver vazia. Perdoe meus outros erros. Deus! São tantos! Tão pouco me conheceria se não fossem todos eles. Eu sei que algumas das palavras ainda estão desconexas e que pouco posso fazer para ajudá-lo mas, é que a verdade é essa mesmo. Uma vida como todas as outras: pôr-do-sol e injustiça. Eu queria que as coisas fossem mais separadas. Que os sentimentos, em especial, pudessem ser guardados em potinhos etiquetados. Queria que fosse possível escolher, porque hoje será um dia de felicidade. Deixo o domingo pra me reprimir, e nas segundas uso apenas a força de vontade de esperar pelo amanhã. Todas as coisas que estão por vir. Sim. Todas e cada uma delas. Delicados detalhes de uma vida não finalizada. Pontos e vírgulas se confundem e pouco posso ler nessas tortas linhas. Talvez se a música estivesse mais baixa, eu pudesse ouvir sua voz mais claramente. Não que eu queria, mas desde que nos conhecemos têm sido assim: tenho chance de opinar por pouca coisa. Me desculpe novamente por decidir pedir perdão de tudo. Sim, eu fui fraca demais para assumir essa culpa. Livro-me dos erros de colocação verbal, e de todas as vezes que deixei que me chamasse de sua. Exclamações não serão mais necessárias, decidi abolir as interrogações. Chega de tremas, reticências, circunflexo. Eu quero retas e claras linhas azuis, pautando uma nova página em branco. Quero escrever uma carta sem remetente, assim como essa. Quero contar as pessoas que o mundo é bonito, você só precisa olhar pela janela. Quero poder ligar na madrugada sem precisar me perdoar. Quero parar de implorar para que o mundo perdoe o pouco de acerto que tenho em minha vida. Contra todas as chances, eu fico com o futuro imperfeito.