segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Falta isso e todo o resto

Ando sentindo muita falta, de absolutamente tudo. Dos gritos, do calor insuportável, do tédio, da amargura. Da sorveteria cheia de mentes vazias do mercadinho lotado que sempre faltava justamente o que você precisava comprar. O cheiro das roscas que a vovó tirava do forno no sábado a tarde, polvilhadas em canela me perseguem enquanto gasto as únicas horas vagas do dia. A bagunça é constante, e bem mais forte do que eu. Falta companhia, dinheiro e ânimo. Sobra saudade, dor e melancolia. Qualquer coisa que digam ou façam te irrita tanto que você sente vontade de gritar até virar-se do avesso. Qualquer animal na rua irá se parecer com a sua Luly que te esperava chegar do colégio todos os dias deitadinha do lado da porta, e que não desiste de ir até o seu quarto, ainda que saiba que ele está vazio, te procurando. Ando sentindo muita falta das sextas feiras em que era preciso fazer milagres em quarenta minutos e passar mais quase uma hora farreando no ônibus. Eram tardes estupidamente quentes, e cansativas, mas dá uma nostalgia. Não haviam reclamações e meu maior problema era voltar a tempo da fugidinha que dávamos até o centro da cidade para tomar sorvete e não perder o ônibus que nos levaria de volta pra nossa vila. É tão estranho chegar na matriz e ver uma igreja pronta e até mesmo envelhecida e não a construção do milho verde que já dura onze anos. Torna-se massante e sufocante. Peço que me perdoem, mas se eu não puder gritar por aqui, sinto que me morro. E as lembranças todas aqui, são as únicas coisas que eu não sinto falta. Imaginar-se viajando naquele ônibus capenga é a única coisa que te faz bem, e você começa a contar os segundos para que esses dois últimos e mais dolorosos meses passem mais do que depressa, sem saber se vai suportar até lá. Falta muita coisa, tudo isso e mais um pouco.