quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Do lado de lá

E então tudo o que eu queria parece ser uma imensidão cinza chumbo, pesando sobre as minhas costas. A alegria de fazer o que se quer se transforma no peso de ter seu futuro nas mãos. Os problemas foram amenizados e parecem ter tirado férias de fim de ano. Só mais algumas horas e esses malditos 208km serão deixados para trás. O sol nascerá diferente, com mais aroma de terra molhada do que de asfalto. Sabe, acordar com pãezinhos caseiros e café quente talvez valha mais a pena do que aparenta. E quando eu atravessar aquela ponte e ver de longe a Usina Água Vermelha toda iluminada, tudo valerá a pena. Na bagagem não levarei quase nada, apenas sementes de sonhos. Não quero os antidepressivos e todos os lenços usados de dias que não saíram como o planejado. Chega. Mudamos e percebemos que acumulamos coisas demais, desnecessárias. Quero jogar tudo fora, me jogar fora. Descartar e caminhar mais leve, em direção ao porto seguro. Embaixo das asas da mamãe nada é necessário. Tudo que me importa é estar lá. E quando atravessar a ponte, tudo terá ficado para trás, até mesmo quem eu era e tudo que fiz. A mala está pronta, quero o cheiro de terra molhada, o tédio de não ter nada pra fazer. Quero todo mundo no sítio, bebendo até vomitar, e rindo das histórias que os outros trouxeram pra contar. A arte de dormir uns nas casas dos outros só porque estava bêbado demais para ver os pais. A graça de não se preocupar com nada além de sentar na calçada, com o tereré gelado e só ver o tempo passando. De poder cumprimentar todos porque você realmente conhece todos. Acordar com os latidos que chegam a doer os ouvidos seguido dos gritos das coisas que eu não fiz. Quero vovó me mimando, papai orgulhoso, colo da mamãe. Parece idiotice mas só eu sei o quanto precisava disso.