sábado, 6 de dezembro de 2014

Janaína gosta de vinho

Qual o verdadeiro problema em admitir alguma realidade? Desculpe mas não precisa ser doce a ponto de causar enxaqueca, ou náusea. Não precisa e não deveria, tal como eles não precisavam um do outro. Mas aí eles se conheceram, e pela primeira vez na vida todinha as coisas davam certo. Não importa o que acontecesse durante todo o complicado dia, quando chegasse a noite eles seriam propriedades deles. Ninguém precisava saber. O mundo era eles dentro daquele limitado espaço. Bagunçar o pouco cabelo dele dava uma sensação de felicidade tão prazerosa que ela poderia passar vidas assim. Sim, por que não? O sorriso dela era a motivação da vida dele e eles nunca precisaram se excluir do mundo. Na verdade era todo um trabalho de inclusão. Juntos eles faziam parte do todo, e o tudo pertencia a eles. Todos os problemas se tornavam simples peças de encaixe manual. As respostas para as complicações eram automáticas e fáceis. Ela não queria que durasse pra sempre, mas queria poder olhar pra queles olhos pequenos todos os dias, sem interrupções. Ele queria poder ser dela sem abrir mão de todo o resto. De todas as coisas que possuíam em comum, uma era a mais nítida: o amor que ambos possuíam pelas suas liberdades individuais. Eram incomensuravelmente livres e amavam tanto isso que se esqueciam da possibilidade de existir outro amor. Contavam histórias para eles mesmos todos os dias, para que acreditassem que tudo acabaria se fosse diferente mas, afinal, por que teria de ser diferente? Ambos eram felizes juntos e não se importavam de se separar se pudessem se ver uma vez ao dia. E foi assim que acharam sua entrada para a felicidade: Se amavam sem dependência. Se encontraram em seus poréns, fizeram motivos. Não era amor, nem cilada. Era só felicidade mesmo, alegria em estar junto.