terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Jackie O'clock

Já faz um tempo que estou por aqui, esperando. Faz uma dúzia que eu não sei bem se quero. Eu não quero muito a não ser ir pra casa. Faz um tempo que estou aqui. Na verdade já completei três longas horas de espera. Estava aguardando pra ver se eu conseguiria me salvar. Mais uma vez eu não consegui, o vento me levou embora. Só eu sei a tristeza e raiva que se aglomeram dentro de mim. São tantos, inúmeros, versos de um amor floral. Não. Parem todas essas músicas e laços, tirem esse lilás da minha vida, eu não quero girar em um carrossel. Como é possível se perder em tão pouco tempo,  em tão mísero espaço? Sinto como se tudo o que eu sou e fui se desmanchasse em fuligem e voasse o mais rápido possível. Em um segundo sou eu, no outro poeira. Em uma semana eu chamo uma empregada, na próxima troco toda a solidão por poesia. Não precisava, não quero, não dá. Tirem de mim essa necessidade incabível. Não deu, não foi, já não era antes, porque sofrer agora? Eu choraria se ainda tivesse catorze anos, poucos problemas e tanto tempo de sobra. Sabe qual é o verdadeiro problema? Não importa o quanto eu reclame, ou grite, ou morra, nada muda algo que não existe. Nada traz de volta algo que nunca foi seu. O problema é deixar-se perder em uma trilha conhecida. Não, não tome esse atalho, eu prefiro continuar esperando. Ficarei por aqui por mais duas horas, até o próximo ônibus partir, ou pelo menos até que eu tenha coragem para lidar com esse tipo de sentimento novamente. Saudades incabíveis de duras ilusões. Mas, se você for contar de verdade não faz tanto tempo assim, leve em consideração que aqui somamos o fato de que de uma forma ou de outra, eu já espero desde o dia em que nasci.