quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Matiz expansivo

Carolina tinha pouco mais que vinte anos de idade, alguns motivos pra sorrir e um milhão de histórias pra contar. Amava o amanhecer. Aquele pequeno período do dia onde sempre é nublado e o clima úmido começa a refletir os primeiros raios de sol. Gostava tanto, de tantas coisas, que era difícil imaginar que ela se chateasse um dia. Amava quando o tempo ficava nublado e jurava que conseguia ver alegria naquele céu cinza. Vivia de música alternativa e gostava de sabores agridoce. Carolina gostava de almoçar com a sua avó no domingo, e poder ver o pôr do sol, com o seu pai, ouvindo a transmissão de um algum jogo de futebol pelo rádio à pilhas AM. Havia apenas uma coisa que ela gostava mais do que qualquer outra coisa: a cor amarelo. Preferia tudo que tivesse amarelo: margaridas, camomilas, bananas, milho. Sol, felicidade, alegria e entusiasmo. Essa simples coloração, cor-pigmento primária e cor-luz secundária. O mais expansivo dos matizes e mais atrativo aos olhos humanos. É, deve ser exatamente por isso: atração. Nada explicaria melhor a vida de Carolina se não a atração. Tinha o dom de atrair e ser atraída. Queria por obrigação ser e estar sempre próxima a alguém ou alguma coisa. Necessidade vital a de estar sempre, de uma forma ou outra, envolvida com algo que continuasse a motivar sua vida. Precisava disso como qualquer outro dependente químico precise. Dependia quimicamente da sensação de pertencer, atrair. Se encontrava e se explicava pelas obras impressionistas de Van Gogh pois, assim como ele tinha uma vida carregada de fracassos, e ambos gostavam muito de amarelo. Ela sempre falhava, não importa a tarefa que lhe foi dada. E, mesmo assim nunca se cansou de pensar que amanhã o dia poderia amanhecer nublado, e ela sairia com seu vestido amarelo que pouco combina com o seu tom de pele e mesmo assim ela sempre insiste em usar. O dia poderia amanhecer nublado, e mesmo assim as coisas dariam certo.