sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Se fosse pra te deixar, te deixaria dentro de mim

Tudo parecia que não ia dar certo: O cancelamento da estréia em Fernandópolis, minha mãe furiosa com a minha segunda opção de ir para São José do Rio Preto, meu pai que não queria me liberar verbas para ir alegando que era uma loucura completamente desnecessária. O motorista que quase me matou de susto dizendo que não tinha mais lugares no ônibus. Mas tudo foi ocorrendo conforme o planejado.
Chegamos ao shopping cerca de uma hora antes do início da sessão. A adrenalina já estava a mil. Quase dez anos de filmes e eu nunca havia presenciado um evento como este. Logo na entrada fomos passados por um jovem, trajado o uniforme de Hogwarts e com a capa esvoaçando. Eu juro que achei que não poderia melhorar mais. Na porta do cinema, pessoas com colchões e duas de barracas, simplesmente não acreditei e quando finalmente entramos, não me contive e desabei em lágrimas. Sim, comecei a chorar. Um choro silencioso e discreto, mas não pude segurá-lo mais. Ver tantas pessoas lá, pelo mesmo motivo que eu, tão aflitas quanto eu, tão fanáticas, e algumas até piores do que eu, foi uma sensação inexplicável. Não tenho palavras pra descrever o que foi aquilo.
Passado o primeiro impacto, comecei a me deslumbrar ainda mais com tudo que estava vivendo. Gente de todas as idades fantasiadas! Sim, todas as idades mesmo. Os seguranças e responsáveis pelo cinema uniformizados com uma camisa preta, escrito em prata: HP7 no peito, e nas costas: Nenhum lugar é seguro, mas para mim ali era seguro. Eu não queria estar em lugar algum além dali. Lutei durante uma semana e não conseguia acreditar que tudo havia dado certo, tão certo. Eu queria gritar, sei lá, mas resolvi tirar fotos. Havia todo um ambiente montado, com posters e banners, tudo perfeitamente decorado para o evento que ia acontecer daí alguns minutos. Meu amigo, se encontrou com vários conhecidos, entre eles, um casal de amigos que se familiarizaram muito melhor conosco e já nos agrupamos. Feitas as apresentações, passamos a tirar mais fotos.
Faltavam 15 minutos, demos uma olhada na fila da pipoca e decidimos não encará-la. Enfim entramos. A sala era perfeita. A tela, cadeiras, iluminação, tudo milhões de vezes melhor do que o cinema fajuta que eu havia frequentado umas duas vezes antes. Como eu me sentia? não conseguia explicar, e ainda não consigo. Quando finalmente sentei e me dei conta o que estava para acontecer, comecei a chorar novamente. Sim, sou a maior chorona do mundo, mas eu não conseguia me conter, se não chorasse acho que desmaiaria. Comecei a conversar com o pessoal que estava por perto, dei risadas e comemorei. Pensei em desligar o celular mas primeiro tive que enviar um sms pra alguém, qualquer pessoa, mas eu precisava muito compartilhar isso com uma das minhas amigas. Quando as luzes se apagaram e todos aplaudiram e gritaram ao mesmo tempo, juro que achei que tinha morrido e que aquilo era o paraíso. O filme se iniciou e eu já não havia mais maneiras de me emocionar. Caí em lágrimas novamente no início dramático, e chorei quase o filme todo, caindo em soluços no fim. Então terminou, e eu com cara de idiota. Não acreditava em tudo que tinha vivido até ali. Estava paralisada, drogada, sem reação alguma. Na saída me dei conta do número de pessoas que ali estavam: oito salas. Oito! Todas lotadas de fãs, era mágico.
Saímos do shopping as três e meia, e só teríamos transporte as cinco. A solução foi andar algumas quadras até uma loja de conveniência e comprar algumas coisas. Uma garrafa de vinho e um saco de chips foi o suficiente para nos acompanhar até a hora necessária. Passamos frio mas rimos muito, e conversamos até que o sono nos deixasse em paz. No ponto de ônibus tiramos mais algumas fotos. Subimos no ônibus não cansados e nem desanimados mas com a sensação de dever cumprido.
Quando chegamos na república, um dos outros morados estava estudando. Nada muito estranho para estudantes de uma universidade pública e concorrida como é a UNESP. Tratamos de nos trocar logo e desmaiei no colchão.
Acordei por volta das dez, com minha mãe coruja ao telefone desesperada porque já havia ligado duas vezes. A breve conversa apenas para afirmar que eu estava viva foi mais breve do que se possa imaginar. Tratei de tomar um banho e passei a arrumar minha mala. Na organização uma surpresa: havia esquecido minha máquina fotográfica no ponto de ônibus. Na verdade perdido né, porque nunca mais vou vê-la. Não fiquei triste pela câmera, afinal coisas materiais agente consegue outros, e até melhores mas sim, pelas fotos que tinham nela, era como se uma parte das minhas lembranças fossem apagadas.
Chamei meu amigo para que ele me levasse ao ponto de ônibus, e logo já estava no shopping novamente. Me perdi procurando o ponto onde o motorista disse que me esperaria, e quase fui atropelada. Detalhes a parte, consegui me localizar e assim que cheguei ao local, encontrei a filha da minha vizinha. Conversamos cerca de dez minutos e então conseguimos carona com um pessoal de uma cidade vizinha daqui.Cheguei em casa por volta das seis da tarde; Cansada, quebrada e morta de sono mas, acima de tudo feliz por ter vivido o que eu vivi.
Nada que eu diga poderá explicar o que eu passei nesse evento e tudo que senti. Nem o quanto me doeu ter perdido aquelas fotos, como se metade de minha memória fosse pelo ralo. Mas eu não podia perder, não podia deixar Harry, Ron e Hermione sozinhos agora. Eu estive com eles todo o tempo e terminarei com eles tal como eles sempre estiveram comigo, me ensinando valores e coragem. Mesmo com tudo que deu errado, para mim não haveria meio de ter dado mais certo. Não me arrependo de nenhum movimento feito. Eu lutei pelo que tanto queria e tanto era necessário para mim. Talvez não para todos e tolice para muitos mas para mim foi mais do que necessário e hoje só me recordo com alegria de ter me permitido viver a emoção que vivi e só me arrependo de não ter ido antes. Se fosse pra deixar de ler, assistir e viver Harry Potter acho que preferiria morrer. Todo esse universo é parte de mim, e não seria nada sem eles.